É fácil errar muito e não querer ser punido


No país em que criminosos de boa posição social não querem ser condenados, faz sentido que o Espiritismo brasileiro venha com essa ladainha.

A de dizer que seus palestrantes e "médiuns" são "imperfeitos", "erram muito" e coisa e tal.

Palestrantes, com estranho orgulho, vão logo dizendo "eu sou o que mais erro na humanidade".

Casas ditas espíritas falam de "integrantes imperfeitos", de pessoas que "não são certinhas" etc.

Que "orgulho de errar" é esse?

De repente os membros do Espiritismo brasileiro passaram a ter essa estranha vaidade.

É a vaidade de se acharem "perfeitos" na sua imperfeição, e ficarem alardeando o tempo todo que "erram muito".

A quem interessa falar a toda hora que o Espiritismo brasileiro erra muito?

É aquela moda do "gente como a gente"? É porque governo ideal é o de Jair Bolsonaro, que sai por aí errando e errando e sem cometer um único acerto sequer?

Em muitos casos, esse "orgulho de errar" é expressão de uma vaidade confusa.

É um misto esquizofrênico de arrogância, falsa modéstia, vitimismo, triunfalismo e medo.

Sim, o medo também está incluído nesse estranho coquetel psicológico.

O medo de sofrer as consequências nefastas que erros graves naturalmente causam.

O medo de, digamos, pagar a conta do prejuízo causado.

E o Espiritismo brasileiro prejudicou muito.

Prejudicou Allan Kardec, que é traído todos os dias, todas as horas, todos os anos pelos espíritas brasileiros que inserem igrejismo medieval nos postulados espíritas originais.

Prejudicou milhares de mortos, que, sem estarem aqui para reclamar, tiveram seus nomes usados por pretensos médiuns para promover sensacionalismo e propaganda religiosa.

Prejudicou milhares de famílias, iludidas com a promessa de uma consolação que nunca se cumpriu.

Prejudicou a lógica e o bom senso, inserindo novas mistificações ("colônias espirituais", "crianças-índigos" etc).

Prejudicou multidões de miseráveis, com caridade meramente paliativa em que o foco estava mais na promoção pessoal do "filantropo" do que na resolução séria das desigualdades sociais.

Prejudicou milhares de aflitos, forçando-os a aguentar desgraças e tragédias em silêncio, sufocando a revolta e a indignação que os atira à depressão e, em casos extremos, ao suicídio.

Prejudicou muita gente, quando disse reprovar o suicídio mas falava no "combate ao inimigo de si mesmo", o que dá no mesmo ato desesperado de muitos infortunados tirarem suas vidas.

Ah, quanto prejuízo. O Espiritismo brasileiro faz o que quer, mas quer "pendurar a conta".

Sabe por que seus palestrantes e "médiuns" tanto falam que "são imperfeitos", "erram muito" e "são endividados"?

É a reação do orgulho e da vaidade diante da prestação de contas.

É uma espécie de vitimismo combinada com arrogância, de quem usa o discurso de "assumir seus erros" para não ser punido.

Vejam o que Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, disse nessa mensagem:

"Existem pessoas que se aproximam de nós com o espírito da maledicência, querem saber da nossa vida, não para nos auxiliar, mas para tornarem públicas as nossas feridas. Devemos tomar cuidado com esses nossos irmãos que adquiriram uma estranha viciação: querem crescer às custas da indigência alheia...".

É a típica mensagem do tipo da pessoa que erra muito mas não quer pagar a conta.

É como aquele fanfarrão de um rodízio de cerveja no bar que derruba o prato de comida e o quebra, mas não quer pagar o prejuízo causado.

O que Chico Xavier fez contra o Espiritismo original é coisa deplorável e preocupante.

Ele desviou a rota original da Doutrina Espírita. Com Kardec, ela se guiava no Iluminismo e andava para frente.

Com o "médium" mineiro, o Espiritismo andou para trás, indo para as matrizes do Catolicismo jesuíta, a partir de Emmanuel (padre Manuel da Nóbrega), e daí rumo à Idade Média.

São erros gravíssimos, crimes de lesa-doutrina, dogmas sem pé nem cabeça que vão contra a lógica e o bom senso!

Usurpação de nomes dos mortos que ofendem suas memórias em mensagens que sempre escapam de algum aspecto pessoal de cada autor alegado.

"Cidades espirituais" eram concebidas sem qualquer fundamento lógico e sem qualquer base científica que pudesse lhes dar algum sentido plausível sequer!

Pessoas com personalidade e caráter diferenciados eram discriminadas por rótulos como "criança-índigo", "criança-cristal" e "criança-estrela" com uma retórica dócil que, mesmo assim, não impede de ver essas pessoas de maneira bizarra e sensacionalista!

Ah, tantos erros graves! Tantos erros graves!

E Chico Xavier foi apoiar o golpe de 1964, toda a ditadura militar, compareceu e falou em eventos que a ditadura promoveu em sua homenagem! Tudo com prazer e bom gosto.

E aí, depois, se diz que "ele errou", que "foi forçado a apoiar a ditadura militar" etc.

Chico Xavier errou muito mas não quer ser criticado. Qualquer crítica reservada a ele é "maledicência".

Os ditos espíritas agem como aquele assassino que mata primeiro e pede desculpas depois. Depois do ocorrido, é fácil dizer que agiu "por impulso" ou "por fortes tensões emocionais".

Durante muito tempo, os "médiuns", quando erravam, botavam culpa nos obsessores.

Mas vendo que Allan Kardec falava em "médiuns imperfeitos", resolveram investir na carteirada por baixo. Os "médiuns" passaram a se definir como "imperfeitos", que "erram muito" etc.

É claro que todo mundo é imperfeito. Mas ninguém sai por aí misturando arrogância e vitimismo, falando aos quatro cantos que "é imperfeito e erra muito", mas não quer pagar a conta pelo que fez.

Que o erro é banalizado, que o que mais vemos na televisão e Internet é erro, que nas redes sociais pessoas escrevem postagens e, arrependidas, as apagam (quando elas já se espalham por outras fontes), isso é verdade.

Mas o Espiritismo brasileiro, ao embarcar nessa arrogância, só piora as coisas e comete mais uma ofensa a Allan Kardec.

Nunca no Brasil uma religião brasileira ofende, trai e bajula de maneira hipócrita seu aparente precursor.

O que os ditos espíritas no Brasil, incluindo o "renomado" Chico Xavier, fizeram com Kardec é algo que não se faz sequer com o pior inimigo.

Chico Xavier desfigurou a Doutrina dos Espíritos, mas como ele manipulava as ideias com apelos emocionais, as pessoas deixam passar.

Isso é muito grave e traz uma dolorosa conclusão: os caprichos da vaidade humana em sua falsa modéstia.

O Espiritismo brasileiro é a religião da falsa modéstia, da falsa humildade, dos falsos cristos como o próprio Chico Xavier, com seu coitadismo de carregar cruzes de borracha com seus calvários em esteiras rolantes e "crucificados" em seus pedestais.

Daí que eles adoram dizer que "erram muito", mas não querem pagar a conta. E são os mesmos que dizem para os aflitos continuarem sofrendo, de preferência calados...

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