Pais imaginam que filhos só "fazem algo" quando é para outra pessoa



Muitos pais de família não conseguem entender a individualidade de seus filhos.

Reclamam que eles se ocupam de tarefas que só os pais julgam "inúteis" e "desocupadas", supostamente atribuídas ao lazer e à diversão.

Em muitos casos, os filhos leem livros, veem páginas informativas - não necessariamente noticiosas, mas transmissoras de Conhecimento - na Internet, e treinam escrita com seus blogs.

Os pais não reconhecem isso. Pensam que os filhos deveriam "meter a cara" e "dar murro em ponta de faca, mesmo", em ocupações mais árduas.

É a mãe que acha que o filho "nada quer na vida". Ou o pai que se irrita porque o filho só quer tarefas de acordo com sua vocação.

O moralismo familiar desse teor, apoiado pelo Espiritismo brasileiro, é extremamente conservador, embora seus defensores julguem estar "acima dos tempos".

Esse moralismo é retrógrado, porque segue padrões antiquados de servidão e submissão humana e apostam na depreciação da individualidade humana.

Os mais velhos se recusam a considerar seus pontos de vista conservadores como algo antiquado e chegam a se entristecer, ironicamente por uma teimosia infantil, quando são assim considerados.

Eles acham que seus filhos só vão "fazer alguma coisa" se trabalharem para outra pessoa.

Jornalismo digital? Se houver um patrão por trás, os pais ficam tranquilos. Se é um blog monetizado, eles ficam com estranheza, só sossegam quando veem a cor do dinheiro, mas mesmo assim sonhariam em ver seus filhos a serviço de um patrão.

Individualidade é sempre condenada pelas ideologias conservadoras. O prazer humano é sempre um mal, a vocação humana uma frescura doentia.

Apesar da fachada moderna, o Espiritismo brasileiro é partidário de um moralismo extremamente conservador.

Ele atribui a individualidade e o prazer humano a práticas pecaminosas.

Em contrapartida, o Espiritismo brasileiro sempre exalta a submissão e a servidão humana, e, apesar de sua alegada (porém falsa) fidelidade a Allan Kardec, herdaram a visão roustanguista da encarnação humana como um cumprimento de sentenças criminais.

É só ver ideias defendidas por Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, em seus livros e depoimentos.

Apesar da (também falsa) imagem progressista do suposto médium, suas ideias são tão conservadoras que mais parecem um programa de governo de Jair Bolsonaro, cuja comparação com Xavier é realista e verídica, mas entristece os chiquistas.

São ideias que rejeitam o prazer humano, atribuído a "fonte de perigosas tentações", e pedem para as pessoas "aceitarem resignadas o sofrimento, sem queixumes", se quiserem ter no futuro "uma vida melhor".

Elas nada têm de progressistas. Não há como entender a consideração de esquerdistas por Chico Xavier. Ele havia esculhambado as esquerdas diante do grande público, no programa de TV Pinga Fogo, da TV Tupi.

As esquerdas, às vezes, se comportam como o nerd que é apaixonado pela líder de torcida, que no entanto xinga o rapaz e chama ele de idiota.

Mas é só a moça brigar com o namorado atleta dela, numa discussão momentânea, que o nerd passa a acreditar, tolamente, que a moça está apaixonada por este.

Devemos prestar atenção com as ideias de Chico Xavier, que leituras apressadas, iludidas com o tom dócil de certos textos, definem como "progressistas".

Primeiro, porque nenhum progressista criminaliza a vida presente, condena a individualidade e amaldiçoa o prazer humano.

Se a ideia é "uma vida melhor no futuro", qualquer fascista dos mais cruéis defende isso, até mesmo para seus inimigos.

Daí os extermínios, com base na ilusão dos tiranos de que suas vítimas devem "procurar algo melhor" no "reino dos anjos", fora do regulamento imposto na Terra.

A vida presente não deve, é claro, ser um bacanal de hedonismo doentio, mas o mínimo de prazer e o respeito à individualidade são necessários para o aprimoramento do espírito.

Nas famílias conservadoras, isso infelizmente não se leva em conta e a reprovação dos pais ao prazer dos seus filhos, confundido com "vagabundagem" e "falta do que querer de útil na vida".

Só que, com isso, seus pais revelam um trauma inconsciente.

Eles mesmos, na juventude, tiveram seus anseios e vocações reprimidos pelo moralismo de seu tempo.

Com isso, apostam nos filhos os veículos para a realização de desejos e talentos reprimidos dos seus pais, velhos demais para, depois da realização profissional, botar em prática o que não puderam realizar quando jovens.

É por isso que tem pai e mãe desejando que o filho seja médico, advogado ou bailarino.

É por isso que tem pai e mãe só achando que o filho "faz alguma coisa na vida" quando se trata de uma ocupação a serviço de outra pessoa, de preferência com diferenças hierárquicas evidentes.

Ver que, mesmo em pessoas que se dizem "progressistas", esse conservadorismo repousa latente em suas mentes, é assustador.

Se ninguém quer ser progressista, que ao menos assuma seu conservadorismo, mesmo que seja sob o preço de perder vantagens sociais.

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