Chico Xavier não estava obsediado nem iludido quando defendeu a ditadura militar



Leiam a seguinte mensagem, do programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971:

"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz  hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades. Diga-se, a bem da justiça, que os militares só recorreram à violência, ao AI-5, em represália aos atos de violência dos opositores do regime democrático capitalista, que viviam provocando atos de vandalismo, seqüestros de embaixadores e mortes de inocentes".

Sim, isso é Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.

Ele apoiou a ditadura militar, e em outras passagens pedia para orássemos em favor dos militares, que estavam construindo um "reino de amor" para o Brasil no futuro.

Parte dos adeptos de Chico Xavier coçam a cabeça e tentam inventar motivos para atribuir algum problema nessa declaração.

Acham que Chico Xavier foi obsediado, ou tomado pelo impulso do momento, ou foi orientado pela TV Tupi, ou foi forçado a declarar aquilo para evitar ser preso etc etc etc.

Fácil usar o pensamento desejoso para blindar Chico Xavier, como se ele fosse o ursinho de pelúcia de cada um de seus seguidores.

Mas não. Aquilo foi Chico Xavier na sua mais verdadeira concepção, um reacionário convicto.

E essa constatação tem provas contundentes, que fazem seus próprios seguidores se recusarem a aceitar essa dolorosa verdade.

Chico Xavier teve raízes sociais profundamente conservadoras, de sua família toda em Pedro Leopoldo.

Na sua formação católica, ortodoxa, ele assimilou e passou a defender, em toda sua vida e obra, a mais medieval das correntes do Catolicismo, a Teologia do Sofrimento.

Isso é comprovado: seus textos sempre apelavam para os oprimidos suportarem as desgraças em silêncio, sem reclamar, ou obter superação através de sacrifícios acima dos limites suportáveis.

Eram ideias extremamente conservadoras, que falavam em servidão humana, trabalho exaustivo, conformação com o infortúnio.

Nenhum progressismo havia.

Por trás da embalagem agradável de Chico Xavier, valores retrógrados hoje associados ao bolsonarismo eram observados em sua obra.

Havia até pegadinhas traiçoeiras que enganaram as esquerdas.

Sobre o comunismo, Chico Xavier pregava que ele só "fazia sentido" se subordinado à Igreja Católica medieval (a que ele sempre professou), o que significa, em outras palavras, que o comunismo teria que se anular para ter sentido.

O discurso da "fraternidade" como "princípio do verdadeiro comunismo" era uma falácia na qual o povo era visto como "gado".

As esquerdas se iludiram achando que Chico Xavier estava defendendo um "comunismo mais solidário", sem perceber as cobranças hidrófobas que fazia, quando usava as expressões "anarquia" e "degradação".

Essas expressões, no jargão direitista, estão associadas a greves, protestos de trabalhadores, marchas de camponeses, ou mesmo a indignação de um jornalista com os abusos da grande mídia.

As esquerdas não conseguem ver as sutilezas de linguagem de Chico Xavier e isso é grave, porque elas conseguem identificar problemas até em stand up comedy, mas não conseguem ter medir um desconfiômetro em um "médium" claramente reacionário.

Há esquerdistas histéricos - que estranhamente adotam o mesmo comportamento nervoso ou falastrão dos bolsomínions - que se irritam quando se fala a verdade de que Chico Xavier sempre foi reacionário.

Outra pegadinha colocou Chico Xavier como um dos pioneiros da "cura gay".

É sério. Ele pedia para que tenhamos "o mais absoluto respeito aos homossexuais", mas definia o homossexualismo como um mal consequente da confusão do indivíduo ao reencarnar.

A ideia de Chico Xavier era reeducar o indivíduo e fazê-lo aceitar a sua condição sexual decidida antes da atual encarnação, para cumprir sua missão de expiação e reparação de faltas passadas.

Isso é cura gay. Não é uma constatação fake, é só parar para pensar que é isso mesmo.

Se as pessoas estão colocando a foto de Chico Xavier sob um efeito cromático de arco-íris, símbolo da militância LGBTT, é bom desistir. O "médium", apesar do jeito eventualmente "efeminado", era homofóbico.

O reacionarismo de Chico Xavier tem provas consistentes, através de suas próprias palavras e suas próprias atitudes.

Mesmo com declarações vindas de Carlos Baccelli - "médium" de Uberaba atualmente visto como "vidraça" por parte dos ditos espíritas - , que afirmou que Chico Xavier tinha muito medo de Lula virar presidente do Brasil, não têm como serem questionadas.

Não há como dizer que isso foi invencionice de Carlos Baccelli, porque não há um motivo para ele criar tamanha ideia.

Ele não iria puxar a brasa para sua sardinha, dizendo isso de Chico Xavier, a quem Baccelli, apesar daqueles problemas todos (sentimentos de obsessão sob más influências fizeram Baccelli romper a parceria), sempre sentiu por ele profunda amizade e inabalável admiração.

Outro delírio dos esquerdistas é supor que Chico Xavier apoiou a ditadura, mas depois reviu seus valores e encerrou a vida "esquerdista". 

Grande e redonda mentira.

Afinal, Chico Xavier não iria rever seus valores na velhice, ele que, pela sua formação conservadora, viu nessa etapa da vida a consolidação do conservadorismo.

Ele não teria energias físicas nem disposição psicológica para mudar drasticamente aos 75 anos, época que houve a redemocratização do país (ciclo infelizmente encerrado em 2016, com o apoio do próprio "movimento espírita").

Quando muito, ele diria apenas que a ditadura militar "cometeu excessos". Chico Xavier diria mais ou menos como Jair Bolsonaro,, que afirmou que o governo militar "teve uns probleminhas".

Doa a quem doer, mas Chico Xavier foi, de maneira indiscutível e cheia de provas irrefutáveis, uma das pessoas mais conservadoras de toda a História do Brasil.

Não dá para relativizar isso, mesmo usando os mais persistentes malabarismos do pensamento desejoso.

Em muitos casos, os fatos desagradáveis sempre prevalecem sobre as fantasias agradáveis. A verdade que machuca tem que ser aceita em vez da mentira que conforta, para evitar o choque da desilusão.

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