O pior queixoso é que reclama da reclamação dos outros


MAU EXEMPLO - CHICO XAVIER DEFINIU COMO "BOBAGEM DA GROSSA" A DESCONFIANÇA DOS AMIGOS DE JAIR PRESENTE ÀS SUPOSTAS PSICOGRAFIAS DO "MÉDIUM".

Cuidado quando alguém diz para ninguém reclamar da vida.

Desconfie de seus apelos, porque o pior queixoso se encontra por trás daqueles que dizem para ninguém reclamar da vida.

Por que isso ocorre? Ou não seria uma contradição dizer que alguém que pede para ninguém reclamar possa ser um queixoso contumaz e irrecuperável?

Não, não é contradição.

O sujeito que pede para ninguém reclamar é aquele que não quer pensar nos problemas que precisam ser resolvidos.

Ninguém reclama da vida por passatempo, transformando mau humor em diversão.

Quem reclama muito é porque sofreu tantas adversidades na vida que lhe afetaram o humor.

O "queixoso insuportável" de hoje teve seus tempos de ter jogo de cintura, meter a cara, se esforçar feito um condenado, ter fé e perseverança na vida.

Fez o quanto pôde e deu duro na medida do possível para vencer na vida. Mas não conseguiu.

Em dado momento, ele precisava ser arrivista ou desonesto. Em outro, mesquinho e egoísta. Em outro, fazer algo que não é incapaz. Em outro mais adiante, precisa ser explorado de maneira abusiva por alguém.

O Espiritismo brasileiro, que faz apologia da desgraça humana, é que é insensível e desumano.

Seus pregadores pouco ligam se a pessoa está sofrendo alguma opressão na tentativa de vencer na vida.

Adeptos da Teologia do Sofrimento, os ditos espíritas até se entusiasmam quando alguém, depois de sofrer tantas opressões e desgraças, chega enfim ao dia de conquistar o tão desejado benefício.

Quanta hipocrisia. Ficam felizes diante do benefício alheio, mas o condicionam às desgraças, opressões e infortúnios que o outro sofreu para alcançar esta graça.

Mil vezes malignas são pessoas assim, porque veem a desgraça alheia como "receita do sucesso". Aplaudem o benefício alheio, mas como uma reles premiação ao prejuízo antes sofrido.

E aí não gostam que outros reclamem, porque as reclamações iriam romper com o aparato de mansidão fingida, de alegria forjada, que os ditos espíritas tanto querem para criar um clima forçado de paz, serenidade e alegria.

Quanto mais hipócritas não podem ser os ditos espíritas que investem nesse clima forçado de concordância e descontração?

O próprio Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, tem seu momento de gravíssimo cinismo.

Foi em 1974, pouco após a morte de um jovem universitário de Campinas, Jair Presente, afogado em outra cidade, Americana, também no interior paulista, Chico deu a fazer supostas psicografias em seu nome.

A primeira delas parecia o mesmo texto de padrão igrejista do "médium": começava com "Querida mãezinha" e seguia, com variações de contexto, o mesmo roteiro de Nosso Lar: sofrimento no umbral, socorro na "colônia espiritual", salvação no Cristianismo e mershandising religioso no final.

Mas depois as mensagens trazidas passaram a ter outro texto, mais nervoso, forçadamente coloquial e com uma narrativa que parece vir de um usuário de cocaína.

Tanto num caso como em outro as "psicografias" apresentavam dúvidas de linguagens.

Os amigos de Jair Presente, com muita razão, porque conviveram com ele, reclamaram das "psicografias", manifestando seu natural e justo ceticismo.

Chico Xavier ficou irritado e deu logo um comentário ríspido, reclamando de que "não havia jeito" para os amigos de Jair Presente acreditarem nas "psicografias" e chamou o ceticismo deles de "bobagem da grossa".

Isso é uma coisa deplorável, vinda de quem não gostava de ver os outros reclamando e acabou sendo mais queixoso do que os outros.

É aquela coisa de falar mal do argueiro dos olhos dos outros, mas Chico Xavier não viu a trave que estava no seu olho.

O pior queixoso é aquele que não suporta ver os outros reclamando, e se acha confortável na atribuição de que os outros reclamam à toa, mas ele, quando reclama, é que tem razão.

Não percebe que os outros reclamam porque veem absurdos e problemas diversos na vida. Ou que sofrem adversidades em demasia, não conseguem sair da areia movediça dos infortúnios sucessivos.

O sujeito que pede para ninguém reclamar é que se preocupa demais em criar um falso clima de concórdia, alegria e paz, uma paz forçada, uma "paz sem voz", como na canção de O Rappa.

Lindo, para o pregador do Espiritismo brasileiro, lhe é ver pessoas engolindo seco seus problemas e infortúnios, sorrindo de maneira fingida, segurando suas lágrimas, sufocando seus desabafos, forjando um pretenso clima de gratidão e felicidade.

Quanta hipocrisia. Cria-se um clima de falsa felicidade, no qual os problemas e infortúnios são escondidos, como sujeira debaixo do tapete.

Não sabem a ideia do cão acuado, do gato acuado, do rato acuado.

O cão acuado se transforma no cachorro feroz que morde, muitas vezes infectado pelo vírus da raiva.

O gato acuado silva, fazendo um olhar agressivo, e usa suas patas para arranhar violentamente a pessoa, quando o animal não decide, também, morder também sob o efeito da raiva animal.

E o rato acuado, possivelmente contaminado por viver em lugares sujos. Cercado, ele pula sobre seu agressor para lhe dar uma mordida, deixando-o com chances de ser infectado por um verme mortal.

O ser humano é instintivo. Sabemos que os animais não iriam agradecer nem se tornarem receptivos a um carinho por estarem acuados.

Mas, mesmo racional, o ser humano também sofre danos psicológicos diante do infortúnio excessivo.

Por isso é que o Espiritismo brasileiro não entende o sofrimento humano. E ainda acha que os seres humanos acuados pela desgraça em demasia possam agir com gratidão e felicidade.

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