"Fraternidade" é uma ideia vaga de Chico Xavier
Os "espíritas" são muito ingênuos, mas também o são os esquerdistas que pegam carona.
O Espiritismo brasileiro, marcado pela pauta ultraconservadora disfarçada pelo discurso dócil e paternal, trata a "fraternidade" como ideia solta e genérica.
Mas fala de tal forma que faz as pessoas sonharem com a Terra transformada num grande mutirão.
Grande engano. Na embalagem, o Espiritismo brasileiro é lindo, fofo, honesto, coerente e, ao mesmo tempo, racional e emotivo.
No conteúdo, porém, é uma religião desonesta, que trai os ensinamentos originais de Allan Kardec em prol de um igrejismo medieval.
Paciência. Mesmo nossos esquerdistas têm formação conservadora e os mais jovens forma à escola na época da ditadura militar.
Elas aprenderam, de pais e professores, valores conservadores que foram apenas parcialmente abandonados por motivos meramente pragmáticos.
Geralmente as pessoas de esquerda não querem um Brasil menos conservador, mas um Brasil cujo conservadorismo seja até enérgico, mas tolerante e paciente com algumas concessões progressistas.
E é isso que faz com que haja a figura esquisita do "espírita de esquerda", que usa um lema de essência bolsonarista ("Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", lema de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, que antecipou o bolsonarismo) e apoia dogmas conservadores.
É patético um esquerdista se queixar dos abusos da mídia hegemônica e depois exaltar a obra de Chico Xavier, que não gostava de pessoas se queixando por qualquer coisa.
Para ele, os esquerdistas têm que calar e aceitar até Olavo de Carvalho e orar para que ele, ao menos, doe cobertores para moradores de rua.
A confusão de ideias que a formação conservadora da maioria dos brasileiros faz com que a ideia de "fraternidade" seja sempre aceita como algo positivo.
Não se fala do sentido negativo dessa palavra, que é o de "gado humano".
Também não se fala de valores ocultos associados, como a submissão humana aos algozes ou privilegiados e o respeito rígido à hierarquia social.
Ninguém para para pensar que, ao ler os livros e ouvir os depoimentos de Chico Xavier, as pessoas se espantam com sua pauta reacionária, quase sempre dita com palavras mais amenas.
E nem sempre o tom é ameno: os esquerdistas tapam os olhos e ouvidos diante de Chico Xavier esculhambando operários, camponeses e sem-teto (inclusive os mendigos tão "assistidos" pelo "movimento espírita") num programa de audiência imensa, o Pinga Fogo da TV Tupi.
A palavra "fraternidade" é tão vaga quando "corrupção" ou "combate à corrupção" e "democracia".
Os ditos espíritas se queixam da associação de sua religião a Jair Bolsonaro. Caem em lágrimas quando veem, vinculadas, as frases "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos", semanticamente idênticas!
Mas não sabem o quanto ideias como "fraternidade" e "paz", ditas por Chico Xavier, "combate à corrupção", dita por Sérgio Moro e "democracia" e "legalidade", ditas por Jair Bolsonaro, têm o mesmo sentido superficial e vago.
Será que o pessoal não entendeu o recado do já falecido Marcelo Yuka, sobre a "paz sem voz", a "paz que eu não quero" da famosa música de O Rappa?
Temos que pensar nas armadilhas das palavras, quando as ideias são muito vagas e genéricas.
Tantos demagogos falam em "democracia", tantos reacionários em "liberdade". Tantos obscurantistas dizendo promover o "conhecimento". Ah, como se pode usar uma palavra e maquiar seu sentido mais medonho...
Um texto atribuído a Emmanuel, incluído nessa postagem, é uma terrível pegadinha.
Da forma superficial, até parece que Emmanuel estaria sendo um comunista autêntico e um esquerdista de verdade. Lido às pressas, parece isso mesmo.
Mas vejamos o sentido oculto de ideias vagas sobre "fraternidade" e "educação", além de compararmos com outros textos de Emmanuel abertamente reacionários.
Muitos caem da cadeira. Ou caem das nuvens, se esborrachando no chão, depois de tanto sonhar.
Isso porque o que Emmanuel ou Chico Xavier fizeram foi um texto CONTRA o comunismo.
Vendo outros textos, nos quais eles pregam o não-questionamento, a aceitação submissa das desgraças, o trabalho opressivo e o igrejismo medieval, se verá que o sentido oculto das belas palavras - "fraternidade" e "educação" - são extremamente reacionários.
Chegam a dizer que só a oração a Deus e o trabalho opressivo são caminhos para a melhoria de vida (e olhe lá).
Portanto, o texto de Emmanuel é de um direitismo atroz, mas sutil. E ele faz mais cobranças ao comunismo do que habitualmente se imagina de um esquerdista, mesmo o crítico ferrenho de seus pares.
Essas cobranças se equiparam às dos articulistas de direita da revista Veja ou do jornal O Estado de São Paulo, quando falam "positivamente" do esquerdismo.
As pessoas não podem cegar suas percepções. As paixões religiosas não podem permitir que os seguidores do Espiritismo brasileiro desliguem seus cérebros quando se trata de encarar alguma mensagem de Chico Xavier.
O excesso de emoção, mesmo sob o âmbito da fé e pela zona de conforto do pensamento desejoso, podem trazer desilusões graves para seus envolvidos, ao saberem que, em vez de dizer uma coisa, um texto religioso diz outra, bem oposta.
Temos que parar com fantasias emocionais. Existe "paz sem voz" e "fraternidade" pode ser um eufemismo para "gado humano". Coisas que parecem lindas na embalagem, mas mostram um conteúdo que só piora as injustiças que a fé diz querer combater.
Vamos parar de sonhar, para não cairmos das nuvens de maneira dolorosa.
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