Excesso de infortúnios embrutecem a alma


O Espiritismo brasileiro, fundamentado pela Teologia do Sofrimento - que influi mais na religião brasileira que os próprios ensinamentos de Allan Kardec - , adota uma falácia.

É a de que o excesso de desgraças, infortúnios e adversidades produzem sempre pessoas de caráter grandioso, criativo e altruísta.

Nem sempre é assim. Aliás, é bem mais raro haver gente que se torna melhor depois de uma overdose de infortúnios, de uma avalanche de adversidades.

A tendência mais comum, mesmo sob a sombra da religião, é o sofrimento excessivo produzir pessoas piores em caráter ou, ao menos, em certos modos de conduta.

A desgraça excessiva pode, muitas vezes, produzir o medo, a raiva, o ódio, o sentimento de vingança ou o desejo do suicídio.

Não se pode considerar um caminho feliz a pessoa suportar humilhações, impasses, incômodos, barreiras intransponíveis.

Não se pode considerar um benefício a pessoa sofrer sobressaltos quando, por exemplo, consulta a Internet e depara com mensagens de ódio e brigas intensas escritas nas redes sociais.

Que desumanidade o Espiritismo brasileiro expressa. Quantos holocaustos não fez essa doutrina igrejeira que traiu Kardec!

Quantos suicídios não pode ter inspirado o Espiritismo brasileiro, graças ao discurso de "aceitar os infortúnios em silêncio, sem reclamar da vida"!

E quantos outros suicídios não foram encorajados com outra falácia muito ao gosto dessa religião, que é a de "combater o inimigo em si mesmo".

Esta falácia é muito perigosa. O sofredor extremo, desesperado, ao ser avisado por um dito espírita que o infeliz é seu próprio inimigo, este pega uma arma ou um veneno e acaba com sua vida.

Ah, não sabem os malabaristas da palavra do Espiritismo brasileiro o quanto a overdose de infortúnios produz gente que varia entre a mesquinha e a reclusa.

Quantos medos não causam infortúnios pesados! Quantos sentimentos de ódio diante da oportunidade frustrada sem motivo! Quantas barreiras intransponíveis causam pânico e irritação!

Quantos sobressaltos amedrontam a alma! Quantos impasses de difícil solução irritam a mente! Quantos benefícios perdidos à toa podem gerar sentimentos revanchistas ou vingadores!

No seu conforto de coreógrafos e confeiteiros das belas palavras, os palestrantes do Espiritismo brasileiro, incluindo "médiuns", não sabem o que é sofrer.

Eles, no seu "eu" discursivo, sempre cobram do outro para "dar murro em ponta de faca".

"Você tem que meter a cara! Nada cai do céu! Aceite o sofrimento e as limitações e lute contra si mesmo, se for necessário!", dizem, na sua pregação dócil na forma, mas desumana no conteúdo.

E que pressa os palestrantes do Espiritismo brasileiro têm para alcançar o céu, com suas "escadarias" montadas com centenas de livros cheios de bobagens igrejeiras!

Eles dizem para o sofredor não ter pressa para sair do sofrimento. O sujeito pode chegar aos 50 anos sem ter conseguido um único emprego, mas o "espírita", insensível, pede ao indivíduo ter mais paciência e orar para Deus.

Mas, para os próprios palestrantes desta religião, há pressa em alcançar as glórias do céu. Vários livros e seminários são feitos, em ritmo frenético, usando o balé das palavras para comprar um assento no Banquete dos Espíritos Puros.

Tudo isso com um embelezamento de palavras, de gestos, ar de mansuetude, pose de serenidade, todo um teatro de "energias elevadas" feito para causar impressão no público e produzir a falsa santidade das paixões religiosas terrenas.

Mas os sofredores, que só querem oportunidade para realizar os mais singelos projetos de vida, não têm o que recorrer para obter ajuda diante das suas dificuldades.

Eles não querem oportunidades "qualquer nota", mas oportunidades que possibilitem seu crescimento espiritual.

Na vida amorosa, há pessoas que querem pessoas que tenham afinidade na personalidade, e não gente considerada badalada e na moda.

O nerd sofredor até aceita que nunca irá namorar a garota mais linda da escola. Mas isso não quer dizer que ele seja consolado namorando uma loura do É O Tchan.

O Espiritismo brasileiro é insensível, desumano, impiedoso, por trás de seu discurso de "bondade" e "generosidade", feito da boca para fora.

Essa religião não quer saber da individualidade humana, que é vista como "frescura" e "capricho desprezível".

Para o Espiritismo brasileiro, a pessoa tem que ser capacho das circunstâncias, e se ela virar um brinquedo das adversidades do Destino, melhor.

Afinal, o Espiritismo brasileiro já tem como máxima o ditado "Pimenta nos olhos dos outros é refresco".

Até porque o Espiritismo brasileiro deve achar que o olhar de Deus vale mais do que o olhar de cada pessoa.

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