"Correio Espírita" quer jogar fora João de Deus e sinaliza apoio a Jair Bolsonaro
O periórico fluminense "Correio Espírita" inaugurou 2019 com posturas para lá de tendenciosas.
Na sua primeira página, o jornal editado em Niterói tem a coragem de usar dois espíritas autênticos para interpretar mal ideias que haviam sido lançadas por boa intenção.
Uma é a ideia de "perdoar as imperfeições dos outros", trazida por Allan Kardec, e outra, de "buscar o homem novo para o ano novo", de José Herculano Pires.
De vez em quando as raposas recorrem aos galos de briga para defender seus interesses e as duas posturas são interpretadas de maneira leviana, bem ao acordo do "movimento espírita".
A questão do "perdão das imperfeições dos outros" e do "homem novo" soam como posturas subliminarmente favoráveis ao governo Jair Bolsonaro.
Com um moralismo ultraconservador, o Espiritismo brasileiro se afastou do mesmo Allan Kardec que é alvo das mais pegajosas bajulações.
O "perdão das imperfeições" subentende que se pregue a condescendência aos erros cometidos pelo presidente Bolsonaro.
E o "homem novo"? É aquele que aceita perder direitos trabalhistas, que acolherá a Escola Sem Partido, que trabalhará mais horas, porque tudo isso está de acordo com o que aqui se conhece como "moral espírita".
Além disso, foi colocado um sósia do Alexandre Frota para ilustrar a ideia do "homem novo", em completa deturpação do sentido original do grande escritor José Herculano Pires.
Não raro, o moralismo do Espiritismo brasileiro apela para a ideia grotesca do "combate ao inimigo de si mesmo", uma contradição bastante perigosa.
Afinal, o Espiritismo brasileiro costuma reprovar o suicídio, mas ignora o problema das condições que levam a pessoa a se matar, porque ninguém se suicida por diversão.
Além disso, a ideia de "vencer a si mesmo", assimilada pelo sofredor extremo e desesperado, pode, sim, trazer o efeito contrário, incentivando ainda mais o suicídio.
Sob a desculpa da "garantia da vida futura", o Espiritismo brasileiro prefere fazer apologia ao sofrimento humano, dando preferência à Teologia do Sofrimento aos próprios postulados espíritas originais.
Enquanto isso, o Espiritismo brasileiro tenta abafar sua crise "amputando" seus membros.
Depois de tratar o "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, como um virtual novo pregador e filantropo, o Espiritismo brasileiro agora quer descartá-lo.
Diz agora que João de Deus exerce "um tipo de mediunidade" que "não é exclusivo da Doutrina do Consolador". Ou seja, renega a associação de João de Deus ao "movimento espírita".
Só que os abusos de João de Deus são um efeito natural da permissividade que o Espiritismo brasileiro deu, a partir das "liberdades" que envolveram fé, crença ou não na autenticidade das "psicografias" e outras coisas.
A própria catolicização do Espiritismo brasileiro, aos moldes bem medievais, abriu caminho para o vale-tudo doutrinário que culminou no caso João de Deus, que, lembremos, foi aprendiz de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.
Esse vale-tudo teve como ponto de partida a atitude do Espiritismo brasileiro trair Allan Kardec, desviando de seus ensinamentos e seu cientificismo, mas bajulá-lo e fingir exercer fidelidade absoluta e respeito rigoroso a ele.
Portanto, o Espiritismo brasileiro renegar seu "filho" João de Deus é uma grande hipocrisia.
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