Denúncia de assédio contra "médium" João de Deus abala "movimento espírita"


Um escândalo abala violentamente as estruturas do "movimento espírita" no Brasil.

Depois que Divaldo Franco repercutiu mal ao declarar apoio ao juiz Sérgio Moro - futuro ministro de Jair Bolsonaro - , é a vez do "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, foi alvo de denúncias de assédio sexual.

As denúncias ocorrem meses depois de ter sido lançado o documentário O Silêncio é uma Prece, de Candé Salles.

A denúncia começou a surgir depois que a roteirista do programa Conversa com Bial, da Rede Globo de Televisão, Camila Appel, foi para o "centro espírita" Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus trabalha como "curandeiro", em Abadiânia, Goiás, para entrevistá-lo.

Atuando também como produtora, Camila acabou se informando de denúncias de assédio sexual cometidos pelo "médium" e resolveu investigar o caso.

Acabou entrevistando dez mulheres, das quais quatro tiveram depoimentos divulgados no talk show apresentado por Pedro Bial.

Essa apuração foi feita sem alarde. Só foi revelada quando as entrevistadas apareceram no programa.

Uma coach espiritual e escritora estadunidense Amy Biank, que em Abadiânia trabalhava para a peregrinação à Casa Dom Inácio de Loyola, afirmou que recebe ameaças de morte.

Amy afirmou também que as pessoas têm medo de denunciar João de Deus porque ele é "um homem muito poderoso". Quem denuncia, acaba se afastando da Casa Dom Inácio, temendo represálias.

Uma outra vítima manifestou nojo ao ter que atender aos abusos sexuais do "médium", também latifundiário.

"Pegava na minha mão para eu pegar no pênis dele. (...) Ele falava: 'Põe a mão, isso é limpeza. Você precisa dessa limpeza, é o único jeito de fazer isso'", disse uma outra vítima, sobre a ação do "médium".

Em outra vez, o "médium" disse a uma cliente: "Se você não fizer o que eu estou falando, a sua doença vai voltar".

Uma carta anônima também foi enviada ao programa, denunciando outro assédio.

Mais tarde, o caso já havia totalizado, pelo menos, um total de doze denúncias. Uma denúncia também afirmou que, além do assédio, João de Deus ofereceu mesada a uma cliente.

Os assédios aconteciam nos atendimentos individuais realizados pelo "médium" goiano, considerado o "médium dos ricos e famosos", a ponto de ser chamado, em inglês, de "John of God".

A apresentadora Oprah Winfrey foi um dos estrangeiros que visitaram o "médium". A cantora Madonna chegou a manifestar intenção em visitá-lo.

Apesar das evidências, o "médium" João de Deus, através de seus assessores, alegou não ter cometido tais crimes.

A Federação Espírita Brasileira também tentou desmentir vínculo do "médium" goiano. Em seu comunicado, a federação não admite práticas de atendimento individual dos "médiuns".

No entanto, até pouco tempo atrás, João de Deus era considerado uma "nova" aposta do "movimento espírita", embora seja idoso e com ocorrências de câncer, contra o qual fez um tratamento em São Paulo, quando o "médium" se encontrou com o presidente Michel Temer.

Sobre João de Deus, outros aspectos negativos lhe pesam:

Como latifundiário, ele tem uma propriedade com o tamanho de 18 Parques do Ibirapuera.

Para um Estado da dimensão de Goiás, considerando que metade de seu território passou para o Estado de Tocantins, o tamanho da fazenda de João de Deus é acintoso.

Apesar de considerado "amigo de Lula", dado plantado pela mídia de direita, João de Deus apoiou o algoz do ex-presidente, o juiz e futuro ministro da Justiça de Bolsonaro, Sérgio Moro.

Além disso, João de Deus tem processo judicial em andamento, acusado de charlatanismo, exercício ilegal da medicina e homicídio, por não ter conseguido curar doentes com sua "mediunidade".

João de Deus também é acusado de atentado ao pudor, contrabando de minério e envolvimento no assassinato de um taxista. A Justiça não o considerou culpado desses crimes.

João também explorou um serviço de bingos em Goiás. É também acusado de desviar parte do dinheiro da caridade para enriquecer seu patrimônio.

Outras curiosidades são que João de Deus foi apadrinhado por Francisco Cândido Xavier, o mesmo Chico Xavier que se tornou o maior ídolo do "movimento espírita" brasileiro.

Consta-se que, depois de Divaldo e João, Chico Xavier poderá, mesmo postumamente, ser denunciado por algum escândalo a ser reservado. Os espíritas brasileiros tremem de medo.

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