Caso João de Deus rompe com a complacência fácil aos "médiuns espíritas"
O caso do "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de vários crimes e hoje preso, é um episódio doloroso, mas que traz valiosas lições.
O aprendizado maior é que os brasileiros têm que romper com a complacência que se tem em relação aos "médiuns" brasileiros.
A complacência chegava ao ponto do masoquismo. Acreditava-se que os "médiuns" poderiam trair as pessoas que elas ficavam felizes e conformadas, achando que estavam apenas "pagando pecados".
Chegou-se ao nível patético das esquerdas considerarem o reacionário Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, um "esquerdista pleno", apenas pelo pretenso aparato de pobreza e futurismo.
As pessoas chegavam mesmo a boicotar textos que mostravam que o Espiritismo brasileiro era deturpado e desviado das lições originais do mestre de Lyon.
Muitos imaginavam que os "médiuns" eram semi-deuses, que, mesmo "podendo falhar", eram portadores de uma "perfeição" ou "projeto de perfeição" que a complacência que se torna a misericórdia abusiva fez permitir.
Chico Xavier, que foi em seu tempo um acumulador de escândalos como João de Deus, foi o exemplo máximo dessa complacência fácil.
Desde que foi construída em torno de Chico Xavier uma imagem adocicada, feita sob medida para a mais cega adoração religiosa, a figura de um esperto deturpador e um oportunista religioso deu lugar à pretensa reputação de "símbolo de amor e dedicação humana".
É um discurso falso, porque sabemos que Chico tem, por trás dessa imagem tão dócil e confortável, um currículo bastante negativo, que incluiu até mesmo apoio a fraudes de materialização.
A trajetória negativa de Chico Xavier foi tão grave que até dois fogos amigos comprovaram esse lado tenebroso.
Um foi o fotógrafo Nedyr Mendes da Rocha, solidário ao "médium", mas que trouxe provas, por acidente, de que Chico Xavier NÃO foi enganado por Otília Diogo.
Nos espetáculos ilusionistas da suposta médium, Chico Xavier acompanhava tudo nos bastidores.
Fotos comprovam que ele estava alegre, atencioso, comunicativo e mostrava até os detalhes da farsa, ao lado da própria Otília. Chico demonstrava, nesses registros, estar por dentro de tudo. Enganado era coisa que ele não foi, porque ele comprovadamente demonstrava desenvoltura e entusiasmo.
Outro foi a revelação acidental da suposta médium Suely Caldas Schubert que, ao lançar o livro Testemunhos de Chico Xavier, publicou várias cartas, entre elas uma de 1947.
Nesta carta, Chico agradecia o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e o editor Luís da Costa Porto Carreiro Neto, de terem feito revisões minuciosas dos manuscritos originais para a sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo.
Na mensagem, Chico dizia que não tinha tempo para rever pessoalmente os originais, e por isso deixava para Wantuil e Porto Carreiro Neto tamanha tarefa.
Já era estranho Parnaso de Além-Túmulo, uma obra supostamente associada a benfeitores espirituais, ter sofrido reparações editoriais em quase 25 anos e por cinco vezes.
Só isso derruba qualquer hipótese de autenticidade.
Outro dado a considerar é que, acompanhando um rol de famosos e artistas que apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República, Chico Xavier teria apoiado, sim, o candidato do PSL.
Isso é chocante para muitos, mas faz muito sentido e é praticamente certo que Chico Xavier, que nunca foi com a cara das esquerdas, teria defendido Jair Bolsonaro, apenas fazendo críticas ao extremismo de seus seguidores.
Se Sílvio Santos, Pelé, Regina Duarte, Carlos Alberto de Nóbrega, Raul Gil, Nelson Rubens e Zezé di Camargo apoiaram Jair Bolsonaro, por que Chico Xavier não poderia?
É ridículo a turma do pensamento desejoso, com seus rodopios e rodeios verbais, misturar Emmanuel com Fernando Haddad, só por conta de coincidências superficiais, e achar que o "médium" seria petista.
É esse o problema, que, felizmente, foi derrubado pelo caso João de Deus.
É a necessidade da gente não ver os "médiuns espíritas" conforme a vontade de cada um.
Se eles têm aspectos negativos, se eles são charlatães, reacionários, produzem literatura fake, não são os "olhos do coração" que terão provas para desmentir.
"Olhos do coração" são apenas uma mera expressão de licença poética, mas não podem, de jeito nenhum, serem considerados acima da lógica e do bom senso.
Seria uma idiotice trocarmos a razão pelo "olhar do coração", até porque, queiram ou não queiram, o ser humano é um ser racional.
Não se pode confundir os absurdos que existem sob o âmbito do Espiritismo brasileiro com fenômenos ou ideias que escapam de nossa compreensão.
Uma coisa é, por exemplo, ainda não entendermos a origem do universo. Outra coisa é achar que a "psicografia" foge do talento individual do suposto autor morto porque a "mediunidade" apresenta mistérios ocultos à compreensão humana.
No caso da origem do universo, não alcançamos realmente um nível de compreensão que pudesse explicar certos mistérios.
Mas no caso das supostas psicografias, é o pensamento desejoso, escravo das fantasias que resistem sob teimosia infantil ainda existente nos adultos, que se recusa a dizer que as pretensas psicografias são fake.
Agora, com João de Deus sendo desacreditado, será inevitável que outros "médiuns" sejam derrubados, não necessariamente por assédio sexual, porque nem todos cometeram esse crime.
Chico Xavier não cometeu assédio sexual, seu único assédio era moral e o principal exemplo envolveu o filho homônimo de Humberto de Campos, um pretenso "ato de perdão e confraternização" que na verdade foi feito para manter o "médium" na impunidade.
A Justiça de Deus não pode, sob o pretexto do Espiritismo, colocar a lógica e o bom senso no lixo, aceitando absurdos feitos sob a desculpa da "transmissão da Boa Nova".
A mentira não vira verdade só porque se diz "cristã". Isso é gravíssimo. A pior mentira é justamente aquela que usa a capa de "boas mensagens" para se fazer valer como "verdade indiscutível", enganando as pessoas da pior maneira.
É isso que será derrubado com o caso de João de Deus, que, entre outras coisas, irá desenterrar antigos escândalos de Chico Xavier.
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