Chico Xavier é um perigoso "canto de sereia" para os brasileiros
Existe um medo das forças progressistas apelarem para Francisco Cândido Xavier e sua imagem adocicada que prevalece hoje em dia.
A conversão de um preocupante deturpador do Espiritismo, um arrivista que desde o começo produziu literatura fake, em um pretenso "espírito de luz", torna-se um fenômeno preocupante.
O mito construído nos moldes do que o católico ultraconservador Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá deixa as pessoas na zona de conforto da fé religiosa.
A adaptação do mito muggeridgeano de pretenso filantropo a Chico Xavier mostra um perigo muitíssimo grave.
Apesar de ser um grave deturpador, que desviou muitas léguas do caminho original da Doutrina Espírita, o "médium" mineiro é alvo de um apego bastante doentio.
Os espíritas autênticos no Brasil, ignorando Erasto, querem combater a deturpação sem banir os deturpadores.
Fazem até uma "seleção" do que julgam ser "aproveitável" em Chico Xavier, mesmo que sejam apenas os memes que circulam no Facebook.
Isso é muito ruim. Erasto dizia para não serem poupados sequer os deturpadores, recomendando rigor no combate à deturpação.
Mas brasileiro tem coração mole e cai fácil no primeiro canto de sereia que ouve.
No caso, o "canto de sereia" é o perigoso mito de Chico Xavier, associado a apelos visuais tentadores, como paisagens floridas, cenários celestiais e crianças sorridentes.
Ninguém imagina que isso seja um "canto de sereia", bem mais perigoso e até mortal do que se mostrou na Odisseia de Homero.
Imaginávamos que o "canto de sereia" fosse ao pé-da-letra, associado ao sensualismo feminino, ou, quando no terreno da metáfora, em tentações mais fáceis de serem identificadas.
Achamos que o "canto de sereia" metafórico se dá quando o manipulador adota um jeito maquiavélico pouco sutil.
Nunca imaginemos que o "canto de sereia" tivesse apelos mais sutis e mais atraentes e "puros".
Se os cantos as sereias da Odisseia levavam os navegantes para a morte, por afogamento no mar, o "canto de sereia" trazido por Chico Xavier faz seus seguidores perderem seus filhos por tragédias surgidas do nada.
São apelos muito perigosos, sobre o "sofrimento em silêncio". Ninguém percebe, mas é uma espécie de repressão das emoções e a proibição do desabafo e da expressão de indignação, mas dita com palavras que parecem muito dóceis.
As esquerdas caem como patinhos. Elas, que reclamam e se queixam dos abusos da mídia hegemônica, no entanto aceitam quando Chico Xavier diz que "é necessário aguentar o sofrimento em silêncio".
Um outro apelo-síntese de Chico Xavier é olhar a natureza, no momento de pior agonia.
Ora, quem está sofrendo demais, vai ter emoção para ficar vendo passarinhos e a água do rio correndo em seu curso?
Não, não vai. E temos que engolir sapos e aguentar a agonia, até os níveis do insuportável, sob a promessa de que "as bênçãos futuras" virão em breve?
Quanta burrice ainda domina no Brasil, e Chico Xavier carrega um sério agravante.
Ele começou de maneira arrivista, causando muita confusão com sua literatura fake que fugiu dos aspectos pessoais dos autores mortos alegados.
Especialistas sérios apontavam que suas "psicografias" eram pastiches grosseiros.
E quem achava que Chico fazia tudo sozinho, o que deixava as supostas psicografias "em aberto", na insólita opção de "não serem falsas nem verdadeiras", mas "podendo ser aceitas conforme a fé dos leitores", se engana diante de tal frivolidade.
Primeiro, porque Chico fazia pastiches, sim, mas contava com a ajuda de inúmeros colaboradores da FEB, a partir do próprio Antônio Wantuil de Freitas, e de consultores literários a seu serviço.
Segundo, porque alegar que uma obra pode "não ser falsa nem verdadeira", mas "aceitável conforme a fé de cada um" é um desrespeito à memória do autor cujo nome é usado em cada "psicografia".
É um festival de desonestidades, desrespeitos, confusões, reacionarismos que marcaram a carreira de Chico Xavier.
No entanto, o que prevalece é a "imagem limpinha" que a Rede Globo montou do "médium" com base no roteiro do inglês Muggeridge.
E aí até progressistas e ateus são convidados a cair nesse perigoso "canto de sereia", que agora se encontra num contexto ainda mais ameaçador.
Afinal, as esquerdas estão sendo tentadas a cultuar Chico Xavier, sob a desculpa de que ele trará a paz nas forças progressistas.
Grande engano. Chico, com uma trajetória e um reacionarismo comparáveis a Jair Bolsonaro, é um grande "pé frio" para as forças de esquerda.
Se hoje as esquerdas forem manifestar sua devoção ao "médium", daqui a pouco serão convidadas a bater continência para o ex-capitão.
Temos que tomar cuidado com apelos de aparente beleza que tentam nos seduzir em vários momentos na vida. Como nas mancenilheiras e nos animais venenosos, que mostram admirável beleza, mas são altamente perigosos e mortais.
Comentários
Postar um comentário