Traidor, Espiritismo brasileiro fala em "autotraição". E a subjugação?



A religião que traiu Allan Kardec, o Espiritismo brasileiro de raiz roustanguista e essência igrejeira, mostra uma matéria publicada no Correio Espírita deste mês.

O periódico fala do problema da "autotraição", talvez reforçando a tese do "inimigo de si mesmo" que a religião tanto prega para forçar, com base na Teologia do Sofrimento, a aceitação submissa individual das adversidades da vida.

O Espiritismo brasileiro, aliás, desenvolve o mito de "inimigo de si mesmo" aos indivíduos que sofrem infortúnios pesados, e isso faz a religião cair em uma perigosa contradição.

Afinal, o Espiritismo brasileiro diz reprovar o suicídio, que recebe, da doutrina igrejeira, tratamento de "crime hediondo", enquanto trata alguns tipos de homicídio como se fossem "crimes culposos".

Isso porque o Espiritismo brasileiro não trata, com seriedade, o problema do suicídio, antes "analisado" segundo preceitos moralistas e sempre com recomendações desagradáveis àqueles que sofrem pesadas adversidades.

Além disso, ao recomendar o "combate ao inimigo que está em si mesmo", o Espiritismo brasileiro não inspira outra coisa senão o suicídio.

Os espíritas brasileiros não percebem o que está por dentro da mente do suicida, que vê as portas se fecharem e as janelas, inalcançáveis.

Além disso, soa ofensivo pedir aos indivíduos que realizem mudanças que escapem de seus projetos e vontades pessoais.

"Abra mão de si mesmo. Abandone seus desejos, só o fato de sobreviver já é uma graça divina. Deus lhe dará bênção maior", é o que prega o moralismo espírita brasileiro.

Isso não só faz irritar e desesperar o sofredor, porque ele tem suas escolhas individuais, como o faz, no desespero extremo, optar pelo suicídio diante da incapacidade de contornar sua situação conforme suas necessidades pessoais.

E quantos suicidas não teriam manchado de sangue as trajetórias de tantos palestrantes do Espiritismo brasileiro, tão marcados pelo mel das palavras?

Aí fala-se em "autotraição" como se o Espiritismo brasileiro criminalizasse a individualidade, definindo como "materialismo" a ênfase nas necessidades pessoais humanas.

Que a gente possa estabelecer limites para nossos desejos, isso se admite e, até certo ponto, é até necessário, como sofrer desilusões e adversidades dentro dos limites.

Mas o Espiritismo brasileiro pouco se importa se o "remédio" é oferecido acima da dose, e houve palestrante que disse que até o arrependimento é inútil para livrar uma pessoa do sofrimento extremo.

Sobre a suposição de que os indivíduos estariam sendo manipulados inconscientemente pela vontade, esquece-se que há a subjugação, descrita na literatura espírita original, em O Livro dos Médiuns.

Nele se fala até de um exemplo de um rapaz que se jogou de joelhos pedindo casamento a uma mulher que o mesmo homem não manifestava o menor interesse amoroso.

No Brasil, o exemplo de subjugação está nos meios jurídicos, jornalísticos e intelectuais que se recusam a investigar as gravíssimas e preocupantes irregularidades na suposta psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.

Eles se recusam, motivados pelo falso desinteresse, pela "falta de necessidade" e pelo desprezo até a problemas explícitos, como a disparidade de estilos envolvendo o Humberto de Campos que viveu entre nós e o suposto espírito.

Inicialmente seduzidos pela fascinação obsessiva a Chico Xavier, a classe investigativa (juristas, jornalistas, acadêmicos, intelectuais etc) se volta à subjugação, pela recusa ferrenha recusa em esboçar qualquer investigação.

Quando há investigações, elas são arremedos risíveis, na verdade questionamentos de fachada que só fazem a "polêmica" em relação a Chico Xavier percorrer os meios acadêmicos e jornalísticos e tudo ser deixado como está, com o ídolo religioso mantido como "fada-madrinha do mundo real".

Documentário questionando Chico Xavier? Nem pensar. O patrocinador ouve o nome do "médium" e fica obsediado: "Não, não vou investir nesse troço".

Essas são as pessoas que cometem a verdadeira autotraição. Pessoas que pouco se importam se o Espiritismo original é deturpado no Brasil, que os ensinamentos originais são desviados em prol de um igrejismo viscoso.

Preferem a idolatria cega a um "médium", adorado como a um velocino de ouro nos tempos bíblicos, mas, o que é pior, com a rendição dos que se afogam no mar ao ouvir os cantos das sereias.

O Espiritismo brasileiro que trai os ensinamentos do Espiritismo francês pode não cometer autotraição, porque "auto" seria uma forma de identificação com a doutrina original, rompida desde os primeiros tempos do "movimento espírita".

O que a doutrina igrejeira brasileira, para a qual o nome de Allan Kardec é apenas fachada e alvo de bajulação, faz é, pura e simplesmente, traição.

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