Tecnologia usada para projetar 'fake news' tentou legitimar Chico Xavier



Uma prática usada pelos usuários de Internet para projetar fake news e propaganda em prol de políticos e causas reacionários (como a candidatura de Donald Trump à presidência dos EUA e o Brexit, saída da Grã-Bretanha da União Europeia) também foi usada para favorecer Chico Xavier.

A inteligência artificial dos algoritmos, através de um programa chamado "Deep Learning", foi testada em supostas psicografias atribuídas ao "médium".

A iniciativa foi feita há mais de um ano, em 2017, mas vale conferir a matéria num tempo em que os algoritmos praticamente atuaram como cabos eleitorais de Jair Bolsonaro.

O método foi esse: três supostos autores foram escolhidos: André Luiz, Emmanuel e o pretenso Humberto de Campos.

O programa "educava" o computador a "produzir" os supostos estilos dos autores alegados.

O processo é de imitação, e os resultados, embora pareçam próximos da precisão, são muito duvidosos.

No exterior, testou-se o Deep Learning com a Bíblia e com as obras de William Shakespeare.

Em testes assim, margens de erro variam, em média, entre 5% e 35%. Mas isso não diz muita coisa.

Afinal, trata-se apenas de uma leitura digital dos livros, e no caso da bibliografia irregular de Chico Xavier, é uma prática de credibilidade bastante duvidosa.

O fundador da empresa Stilingue, designada a fazer a análise, Milton Stiilpen Jr., viu cabelo em ovo e supôs que André Luiz, Emmanuel e "Humberto de Campos" possuem estilos próprios e diferentes.

Pura impressão do Efeito Forer, truque psicológico que testa uma falta de discernimento às avessas, quando pessoas, em vez de confundir coisas diferentes como uma só, desfundem coisas iguais vendo uma diferença que não existe ou não se mostra na sua essência.

Em tempos de informações menos acessíveis, um jornalista, hoje lamentavelmente esquecido, como Attila Paes Barreto, via o mesmo estilo dos três, que era o estilo pessoal de Chico Xavier.

Milton Stiilpen deve ser um leigo no assunto, um não especializado que apenas pegou uma pequena amostra literária (um livro atribuído a cada "autor espiritual") e resolveu reproduzir os textos digitalmente.

Um recurso também artificial foi acrescido à reprodução de cada "autor": misturou-se o suposto estilo de um com o de outro.

O computador "entendeu" que os "autores espirituais" tinham "estilos completamente diferentes" entre si, o que é enganoso.

Afinal, é uma leitura de robôs, o que não garante veracidade.

A própria experiência é tida como "inconclusiva" e a atribuição da "psicografia" continuou a ser uma "questão de fé", ou seja, com a "liberdade" de se considerar a obra "autêntica ou não".

A reportagem também apelou para a falácia de que Chico Xavier "fez tudo sozinho", quando até Alceu Amoroso Lima sabia que ele fez as supostas psicografias com a ajuda de escritores e editores da FEB e de consultores literários.

Até mesmo Suely Caldas Schubert, em "fogo amigo", acidentalmente divulgou uma carta de 1947, no livro Testemunhos de Chico Xavier, de 1981, em que o "médium" agradecia o presidente da FEB, Wantuil de Freitas, a ajuda de editores na revisão dos originais de Parnaso de Além-Túmulo.

Quanto ao Deep Learning, trata-se do uso de algoritmos para tentar "conferir" estilos literários.

O teste não garante antenticidade, da mesma forma que os algoritmos que projetam fake news também não.

Se for pela forma com que as fake news são produzidas, elas também seriam tidas como "autênticas", com alguma margem de erro, apenas pela forma como os textos são construídos.

E isso, principalmente, quando nos últimos meses as páginas de notícias falsas estão caprichando em imitar os estilos de narrativa jornalística mais verossímeis, para forjar credibilidade.

E também, em contrapartida, quando a própria imprensa hegemônica e profissional lança mão de fake news para atender interesses estratégicos.

A Veja já chegou a publicar notícias falsas envolvendo políticos do PT.

O Globo chegou a publicar fake news sobre um antigo feminicida dizendo que ele, com mais de 80 de idade (provavelmente doente e frágil, devido ao passado de cigarro e cocaína) estava "muito ativo nas redes sociais", como se o idoso tivesse fôlego de um youtuber de 20 anos.

Recentemente, um portal do SBT chegou a publicar mentira de que católicos teriam repudiado a visita de Fernando Haddad.

Com isso, observa-se o quanto a inteligência artificial está mais voltada a produzir réplicas da realidade, sem ter um compromisso com a verdade. E, com isso, Chico Xavier perdeu mais uma vez, diante do respaldo de algoritmos que conseguiram trazer votos a Jair Bolsonaro.

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