Ricardo Kotscho foi apoiar Chico Xavier e a Record passou a defender Jair Bolsonaro

O Espiritismo brasileiro, de matriz igrejista-medieval, traz más energias.
Reduzindo a mediunidade a espetáculos de "tábuas ouija" de gosto e valor duvidoso, com indícios de fraudes dignos de provas, o Espiritismo brasileiro traz azar àqueles que, se considerando de mentes mais abertas, a ele recorrem.
Foi Juscelino Kubitschek acolher Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, e a FEB, para tudo de ruim ocorrer em sua vida.
Não conseguiu eleger seu sucessor, o marechal Henrique Lott, teve mandato de senador cassado pela ditadura militar, não conseguiu ser novamente candidato à Presidência da República nem levar adiante uma campanha de redemocratização do Brasil, a Frente Ampla.
Além disso, JK não foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, morreu em acidente de carro, e sua filha biológica, Márcia Kubitschek, teve morte prematura por câncer.
Agora, o azar veio quando Ricardo Kotscho, um jornalista de esquerda, manifestou "sentir saudade" de Chico Xavier e o tratou como "sábio".
Má ideia. Ainda mais citando um "texto lindo" chamado "O Silêncio", uma armadilha textual que apela para as pessoas sofrerem caladas e viverem da servidão, dentro de um discurso agradável em que misturam até conceitos válidos e ideias agradáveis para enganar os leitores.
Esse texto poderia muito bem ser trazido por um padre na extrema-unção de um preso político do DOI-CODI.
Que contribuição Chico Xavier, ultraconservador de carteirinha, iria trazer para o coronel Brilhante Ustra, que o "médium" incluiu entre os que estavam fazendo o Brasil um "reino de amor".
Pois os "bons ventos" do "homem chamado Amor" fizeram a Record, dona do portal R7, onde Kotscho escreve seu blog, apoiar não o petista Fernando Haddad, mas o fascista Jair Bolsonaro.
E Kotscho foi demitido por divergir de tal posição.
É muito agradável juntar peças soltas que não combinam, montando um falso quebra-cabeça com lacunas e pedaços que não se encaixam, mas trazem um aspecto que parece muito bonito.
É muito confortável juntar Chico Xavier e o ex-presidente Lula, em narrativas fabulosas em torno de "caridade" e "amor ao próximo".
Mas Chico Xavier sempre foi uma pessoa de direita, ultraconservador, e diante de um grande público esculhambou operários, camponeses e sem-teto, em 1971. Lula já militava nessa época.
Não adianta fazer pensamento desejoso aqui e ali, dizendo que o "médium foi precipitado", "ele foi pressionado", "ele foi abduzido pelo obsessor" ou "existe o homem-médium, que pensa uma coisa, e o homem-humano, que tem suas opiniões que temos que respeitar" etc.
São ideias que só servem para não desfazer a cegueira emocional que os fãs do "médium" mantém, para se manterem anestesiados.
São pessoas que usam a fé religiosa e sua pretensa "liberdade de pensamento e crença", que os faz prisioneiros de suas próprias fantasias, para fugir da realidade.
Os esquerdistas, diante dos "médiuns espíritas", se comportam como o nerd da escola, que quando vê uma cheerleader dando bom dia para ele, de maneira fria e indiferente, ele acha que ela se apaixonou por ele.
Mas a cheerleader acha o nerd um idiota. E os "médiuns" acham as esquerdas desprezíveis, embora, de maneira eufemista, aleguem que elas "merecem a misericórdia de Deus", frase usada pelos "médiuns" para se referir a pessoas às quais não se identificam de jeito algum.
Esquece Kotscho que a "linda imagem" de Chico Xavier foi tão construída, de maneira tendenciosa, pela Rede Globo num contexto de concorrência com as seitas neopentecostais.
Nessa época, 1978, quando a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, já iniciava atividades e a Igreja Internacional da Graça de Deus, de R. R. Soares, estava em ascensão, a Globo adotou Chico Xavier como um "católico à paisana", para evitar desconfianças dos rivais.
Hoje, neopentecostais e o "movimento espírita", antes rivais, se aproximam no moralismo conservador e no repúdio a movimentos políticos progressistas, tendo apoiado o golpe político de 2016.
O Espiritismo brasileiro tenta desmentir, mas em 2016 exaltou os protestos do "Fora Dilma" e a figura de Sérgio Moro e outros da Operação Lava Jato como se fossem "fenômenos orientados pela espiritualidade superior".
Os espíritas brasileiros alegaram isso com a consciência e a firmeza de tais convicções. Mas agora eles tentam fazer crer, no discurso, que "erraram com sua avaliação".
Não, não erraram: o Espiritismo brasileiro continua conservador e golpista, mas está dissimulado, como é de praxe.
No entanto, Chico Xavier, que, temos que admitir, não previu a ascensão de Jair Bolsonaro em 1952, no entanto criou condições psicológicas para favorecê-lo e o conservadorismo do "médium" encontra plena sintonia aos reacionários das redes sociais.
Além disso, é contundente a semelhança dos dois lemas, o de Chico Xavier e o de Jair Bolsonaro.
Um defendia a ideia do "Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho".
Outro defende o lema "Brasil, acima de tudo, Deus acima de todos".
É a mesma coisa. E isso assusta porque as energias do Espiritismo brasileiro estão favorecendo Jair Bolsonaro.
Para baixo, todo "espírito de luz" ajuda. Quando é um político progressista, ele sofre infortúnios diversos e tem o caminho barrado por sucessivas circunstâncias, com lances não obstante trágicos.
Daí que o Brasil, próximo da "data-limite", corre o risco de sofrer o martírio de ser governado por um fascista. Isso é que dá a "paz" de Chico Xavier, que é a "paz sem voz", a "paz" que é o medo que motiva os cidadãos desinformados a aderir à aventura suicida de votar em Jair Bolsonaro.
Os autênticos espíritas (ligados aos ensinamentos originais franceses) estão recorrendo a outras crenças, como budismo, a Igreja Católica (que se livrou dos fardos medievais aproveitados pelo "movimento espírita", como quem herda uma mobília velha) e até o candomblé.
Eles estão rezando para que o fascismo não saia vencedor nas eleições e nem chegue ao segundo turno. As orações se voltam para os cidadãos evitarem a tentação de seguirem as pesquisas tendenciosas, cujos institutos mais parecem cabos-eleitorais de Bolsonaro.
A situação se encontra frágil e as preces apelam para que o fascismo não seja aprovado nas votações do próximo domingo nem seja colocado no "cadastro-reserva" do segundo turno presidencial.
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