Espiritismo brasileiro se diz aflito com os conflitos sociais. Mas criou condições para isso



A matéria do jornal Correio Espírita de outubro de 2018 inclui uma visão vaga das crises sociais que se vive nos últimos tempos.

Intitulada "Brasil em guerra?", a matéria fala do "distanciamento dos brasileiros à Lei de Amor, Justiça e Caridade cristãs", sem saber do real problema a respeito.

O que vemos não é simplesmente a "guerra entre irmãos", mas a ascensão do fascismo representado pela figura reacionária do ex-capitão Jair Bolsonaro.

O Espiritismo brasileiro, que apoiou com gosto o golpe de 2016 - isso é fato, porque a religião atribuiu aos protestos dos "manifestoches" o "começo da Regeneração" e à figura irregular do juiz Sérgio Moro um "novo mensageiro divino" - , criou condições para isso.

E isso também remete às ideias defendidas, em seu tempo, por Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.

Devoto da Teologia do Sofrimento (corrente medieval do Catolicismo), ele recomendava aos sofredores aguentarem em silêncio e sem queixar as desgraças da vida e pedia para esses oprimidos perdoarem os opressores nos seus privilégios abusivos.

Havia a fantasia de que Deus, uma figura controversa e disforme, iria "resolver" as desigualdades sociais.

Aos ditos espíritas, o Assistencialismo (que eles creditam como Assistência Social), nos moldes dignos de quadro do Caldeirão do Huck, serve para "minimizar" os efeitos da pobreza. "Caridade" espetacularizada, que "alivia a dor" sem "curar definitivamente" a doença da miséria.

As ideias de Chico Xavier, que chegava ao ponto de aconselhar os agoniados a se distraírem, no seu sofrimento extremo, vendo passarinhos, era praticamente um apelo para sufocarmos nossas agonias.

Em efeitos às vezes afins e outras contraditórios, criaram-se as condições psicológicas para o período de febre reacionária em que vivemos.

Além disso, o próprio Chico Xavier era sintonizado com as mesmas ideias reacionárias que alimentam o mito de Jair Bolsonaro.

Quem duvida disso precisa ver a entrevista do programa Pinga Fogo da TV Tupi, de 1971, disponível com facilidade no YouTube.

Chico falando mal dos movimentos operário, camponês e sem-teto, o que poderia fazê-lo, se vivo estivesse, torcer o nariz para as candidaturas de Fernando Haddad e Guilherme Boulos, pelo menos. Ou de João Goulart Filho (João Vicente Goulart), filho de Jango, detestado pelo "médium".

Isso desafia o pensamento desejoso de chiquistas com alguma visão "mais progressista", que sempre vêm com alguma desculpa pronta para sustentar a imagem idealizada que têm do "médium".

Só que essas desculpas, por mais agradáveis, positivas, pacifistas e tranquilizantes que possam parecer, são desprovidas de lógica e coerência.

A realidade mostra que Chico Xavier, capaz, de nos bastidores, fazer comentários ríspidos contra os amigos de outro Jair, o falecido engenheiro Jair Presente, sempre foi um reacionário.

Nos últimos anos, Chico apoiou Fernando Collor e, em seguida, embora se manifestasse "politicamente neutro", manifestava simpatia pelo PSDB. O "médium" nunca foi com a cara do PT.

Com isso, o Espiritismo brasileiro que está "muito triste" com o cenário de convulsões sociais que ocorrem e ameaçam entregar o Brasil a um governo fascista, deveria assumir sua responsabilidade, como religião deturpadora e traidora dos ensinamentos do original francês.

Isso porque Jair Bolsonaro é o filho bastardo de todo o moralismo retrógrado que o Espiritismo brasileiro preferiu defender durante toda sua trajetória. Agora, toma que o "filho" é teu.

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