Declaração de Chico Xavier comprova possibilidade dele apoiar Jair Bolsonaro



O pensamento desejoso dos esquerdistas que ainda se deixam seduzir por Francisco Cândido Xavier é cheio de malabarismos retóricos para justificar suas convicções pessoais.

Criam discursos mirabolantes, justificativas desesperadas, tudo para fazer prevalecer a imagem adocicada de Chico Xavier que habita o inconsciente coletivo das pessoas.

É uma imagem idealizada, montada por uma narrativa que mais parece de um dramalhão de novela.

A imagem adocicada de Chico Xavier, associada tendenciosa e levianamente às ideias de "amor" e "paz", são uma ficção bem construída pela Rede Globo com base no que o inglês Malcolm Muggerige fez com Madre Teresa de Calcutá.

É um discurso publicitário, feito para desenvolver idolatria religiosa e, não raro, fanatismo, embora o Espiritismo brasileiro sempre tente desmentir esse extremismo emocional.

No âmbito das esquerdas, a adoração por Chico Xavier é surreal.

As esquerdas se esquecem que ela se baseia justamente nessa visão idealizada, que pode ser muitíssimo agradável, mas ela não é real.

Nos bastidores, Chico Xavier era cínico, temperamental, ríspido e extremamente reacionário. Na velhice, era ranzinza e isso não era por causa dos problemas de saúde, mas pela sua personalidade.

Disparou comentários agressivos contra os amigos de Jair Presente, falecido engenheiro morto por afogamento em 1974.

Os amigos, que conviveram com ele, desconfiaram as supostas psicografias de Chico Xavier. Irritado, ele atribuiu essa desconfiança de "bobagem da grossa", o que complica o fato da opinião pública dar preferência ao "médium", em detrimento daqueles que conhecem melhor um falecido.

Falando em Jair, sabe-se que Chico Xavier era, pelas suas raízes sociais e pela sua personalidade, um sujeito ultraconservador e reacionário.

A ideia de que Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro, se o "médium" estivesse vivo, faz muita gente partir o coração e desabar em lágrimas.

Acham a hipótese "completamente impensável" e "totalmente absurda", associada ao que acreditam ser um "homem puro, de amor e de bondade".

No caso das esquerdas, o "absurdo" se estende à ideia de que ele era um homem que "dedicou sua vida ao próximo".

Esquecem essas pessoas de que as "lindas ideias" de Chico Xavier de que os sofredores têm que suportar as desgraças calado e esperar que um dia venham as "bênçãos futuras" das mãos de Deus, são de um reacionarismo bastante cruel.

Imagine alguém dizer "na agonia extrema, lembre-se que os rios continuam seguindo seu curso como sempre seguiram".

Pense um pouco mais e traduza: "Aguente seu sofrimento extremo e se contente em ficar vendo rios".

Pois é. Chico Xavier "apunhalava" as pessoas pelas "costas", mas tinha um jeito suave de fazer apologia da desgraça humana. Suas palavras são como uma doce cicuta (ou "chicuta"?). Ele sempre foi devoto da medieval Teologia do Sofrimento.

Nem sequer os movimentos de esquerda, tão empenhados em identificar até pontos obscuros de um simples humorístico de TV, conseguem ver o lado obscuro e reacionário de Chico Xavier.

Ou contra-argumentam para manter a imagem de "fada-madrinha" do "médium", ou se silenciam mantendo dentro de si a visão fantasiosa da qual não querem abrir mão.

E para quem acha que, por Bolsonaro defender a tortura e elogiar o torturador coronel Brilhante Ustra, Chico Xavier não iria apoiá-lo, uma boa pista sinaliza para esse apoio aparentemente insólito.

Quem viu Chico Xavier no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, de 1971, se surpreende quando vê ele defendendo a ditadura militar. E note-se que foi com suas palavras, com plena consciência dos seus atos, uma postura demonstrada a um grande público.

E mais: Chico Xavier defendia a ditadura militar quando nem Alceu Amoroso Lima, considerado um católico conservador, defendia. E Carlos Lacerda, que mais pediu o golpe militar de 1964, estava no exílio e havia acabado de participar de um movimento de redemocratização, extinto pelos generais.

Algumas pessoas até poderiam admitir que Chico Xavier era "bem conservador", por ser de outra geração, mas não aceitam a hipótese dele poder apoiar Jair Bolsonaro.

Mas é só comparar algumas frases de Chico Xavier com as de Jair Bolsonaro e seus relacionados (como seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal eleito por São Paulo), veremos que a ligação entre o "médium" e o "mito" é real, sim.

E isso considerando que um sem-número de ídolos considerados populares está apoiando o candidato do PSL, o que poderia chocar muitas pessoas se enumerassem quem são.

Vejam o que Chico Xavier disse sobre a ditadura militar, no Pinga Fogo:

"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos".

Segue um comentário do mais explícito anticomunismo, postura que se mantou intata até o fim da vida, embora ele não comentasse mais sobre o assunto (mas também nunca sentiu a menor simpatia pessoal pelo PT):

"E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz  hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades".

E aí vem uma frase mais certeira, o que sinalizaria que Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro:

"Diga-se, a bem da justiça, que os militares só recorreram à violência, ao AI-5, em represália aos atos de violência dos opositores do regime democrático capitalista, que viviam provocando atos de vandalismo, seqüestros de embaixadores e mortes de inocentes".

Comparemos esta frase com o que Jair Bolsonaro disse, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em fins de julho de 2018, praticamente 47 anos depois do Pinga Fogo.

"Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo de presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor (...) Abominamos a tortura, mas naquele momento vivíamos na guerra fria".

A declaração de Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, sobre Brilhante Ustra, também dialoga com a frase de Chico Xavier em 1971:

"Ustra não foi torturador, ele apenas cumpriu sua missão patriótica contra os mesmos esquerdopatas hoje combatidos por todos que querem um Brasil honesto como é o caso de Janaína (Paschoal), (Sérgio) Moro, (Jair) Bolsonaro e tantos outros. Patriotas sempre serão demonizados pela esquerda".

Bolsonaro é religioso, como foi Chico Xavier, embora este tenha sido católico (ortodoxo e de orientação medieval) e o outro, evangélico.

Jair, certa vez, disse que o Estado não é laico: "O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude". O candidato do PSL foi batizado no Rio Jordão e afirma ter frequentado a Igreja Batista por dez anos.

Se observarmos bem, Jair e Chico se unem na declaração de que a ditadura ou governos similares só "são violentos" porque associam a uma reação à "violência maior" atribuída às esquerdas. Nas suas visões, se as esquerdas forem obedientes, não haveria violência.

Isso significa a defesa de um ideal conservador, que é o apoio ao rigor das hierarquias, a ideia moralista de respeito humano.

Outro aspecto a considerar é que o Espiritismo brasileiro apoiou o golpe militar de 1964 e sua consequente ditadura de duas décadas.

O livro 1964: O golpe que derrubou um presidente, dos historiadores Jorge Ferreira (autor da do livro João Goulart - Uma Biografia) e Ângela de Castro Gomes, conta com o seguinte trecho:

"O que marcou a caminhada foram os grupos religiosos e, claro, as mulheres. Embora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil não apoiasse oficialmente as Marchas, nada impedia que padres e bispos, por sua própria convicção pessoal, participassem do evento. Mas estiveram presentes também fiéis das igrejas protestantes, rabinos, espíritas kardecistas (sic) e umbandistas".

Um texto da Associação Nacional dos Professores Universitários de História - seção Rio Grande do Sul, sobre o esquerdismo no "movimento espírita", cita que Emmanuel fez "menções esparsas e vagas" do socialismo.

No entanto, essa menção é também descrita de maneira vaga e sem provas, citada como uma "ideia solta", sem dar exemplos e sem ter o menor fundamento argumentativo necessário a um periódico acadêmico.

O "esquerdismo" de Emmanuel é muito estranho, pois ele é conhecido pelo ultraconservadorismo dos mais extremos.

Ele teria sido o padre jesuíta e medieval Manuel da Nóbrega, que era machista, escravagista e defendia valores moralistas extremamente rigorosos. Tais valores continuam associados a ele através de várias obras atribuídas a ele, como O Consolador, de 1941, que tem passagem anti-feminista:

"A ideologia feminista dos tempos modernos, porém, com as diversas bandeiras políticas e sociais, pode ser um veneno para a mulher desavisada dos seus grandes deveres espirituais na face da Terra. Se existe um feminismo legítimo, esse deve ser o da reeducação da mulher para o lar, nunca para uma ação contraproducente fora dele. É que os problemas femininos não poderão ser solucionados pelos códigos do homem, mas somente à luz generosa e divina do Evangelho".

Devemos também nos lembrar que a atribuição a Emmanuel nas supostas psicografias também é controversa, embora pareça mais verossímil porque Chico dizia que conversava diariamente com dois espíritos: o de sua mãe, Maria João de Deus, e o do jesuíta Emmanuel.

No entanto, fontes também indicam que até a obra de Emmanuel teria sido escrita da mente de Chico Xavier e seus parceiros da FEB. Attila Paes Barreto, autor de O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia,

Podemos inferir, com segurança, que o pesquisador do texto, Sinuê Neckel Miguel, deve ter feito uma má interpretação, e em textos trazidos por Chico Xavier devemos tomar o cuidado para não entender as coisas pelo pé-da-letra.

Por exemplo, sobre o homossexualismo (hoje ideologia LGBTT), Chico Xavier dizia "respeitar" as pessoas que optam por tais escolhas, mas sua visão sempre define o fenômeno como uma "doença psicológica".

O "respeito" se equipara a um médico que respeita o paciente portador de uma enfermidade. Esse "respeito" não pode ser entendido como um apoio, e sim como uma manifestação sutil de homofobia.

Sem sabermos, Chico Xavier foi um precursor da ideia da "cura gay" ao dar declarações como esta, também no Pinga Fogo:

"A criatura humana não é só chamada à fecundidade física, mas também à fecundidade espiritual. Quando geramos filhos, através da sexualidade dita normal, somos chamados também à fecundidade espiritual, transmitindo aos nossos filhos os valores do espírito de que sejamos portadores.

Não nos referimos aqui aos problemas do desequilíbrio nem aos problemas da chamada viciação nas relações humanas. Estamos nos referindo a condições da personalidade humana reencarnada, muitas vezes portadora de conflitos que dizem respeito seja à sua condição de alma em prova ou à sua condição de criatura em tarefa específica.

De modo que o assunto merecerá muito estudo e poderemos voltar a ele em qualquer tempo que formos convidados Porque nós temos um problema em matéria de sexo na humanidade, que precisaríamos considerar com bastante segurança e respeito recíproco".

Embora Chico Xavier falasse o tempo todo que "respeita" o homossexualismo, ele sempre o definiu como um "problema" que "merece estudo", ignorando que muitas vezes a causa LGBTT é uma liberdade de escolha e não um mal psicológico.

Isso traz fortes indícios de que Chico foi precursor da ideia da "cura gay", defendida por nomes do neopentecostalismo como Edir Macedo, Silas Malafaia e o pastor Marco Feliciano.

Ultimamente, o Espiritismo brasileiro, apesar de ser uma versão repaginada do Catolicismo medieval, anda se aproximando de várias pautas dos evangélicos neopentecostais.

Consta-se que, discretamente, o "movimento espírita", que exaltou os movimentos do "Fora Dilma" e figuras como Sérgio Moro, está se aproximando, aos poucos, da "bancada da Bíblia" do Legislativo.

Pautas como a condenação inflexível do aborto e o anti-petismo (que seria respaldado por Chico Xavier) estão cada vez mais unindo a Federação Espírita Brasileira e movimentos como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Assembleia de Deus.

Há muito mais provas que trazem essa tendência ultraconservadora do "movimento espírita" e traços do ultraconservadorismo de Chico Xavier, que, quando muito, apenas declarava aversão "respeitosa" aos esquerdistas.

Devemos deixar de lado o pensamento desejoso, porque "médiuns" não são personagens de contos de fadas nem massinhas de modelar para que seus admiradores façam o formato que quiserem.

"Médiuns" brasileiros são figuras bastante conservadoras, e até o tipo de caridade a que estão associados se restringe a ações paliativas e paternalistas, que não trazem a emancipação real do povo pobre e nem impõem limites aos privilégios abusivos das elites.

Devemos, portanto, repensar a forma que oficialmente se vê um "médium" como Chico Xavier, para que o furacão da decepção não derrube as moradas frágeis do pensamento desejoso que abriga as fantasias mais tenras, porém completamente fora da realidade.

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