Chico Xavier usava nomes dos mortos para tornar opiniões dele "menos pessoais"


HUMBERTO DE CAMPOS - UMA DAS PIORES VÍTIMAS DE CHICO XAVIER.

Os brasileiros estão convidados a abrir mão da fascinação obsessiva em torno de Francisco Cândido Xavier.

A ideia é romper de vez com qualquer adoração e o mínimo de consideração a Chico Xavier, um ídolo religioso que, com todo o apelo "lindo e maravilhoso", foi fortalecido durante a ditadura militar.

É hora de largarmos o brinquedo, a chupeta e evitar que nossas teimosias infantis se transformem em brincadeiras perigosas.

Deixemos para lá as imagens da cabeça de Chico Xavier flutuando em céus ensolarados, ou sobre paisagens de flores e relvas frondosas.

Abandonemos essa fascinação obsessiva em torno de um deturpador da causa espírita que nunca fez qualquer caridade autêntica.

Pois, se ele tivesse feito, o Brasil teria atingido elevados padrões de desenvolvimento social. Só que não.

Devemos também ver a gravidade de Chico Xavier como deturpador, porque ele tirou do Espiritismo tudo aquilo que tinha de moderno e progressista.

Em vez do Iluminismo que influenciou o trabalho kardeciano na França, o Espiritismo brasileiro deu preferência ao Medievalismo do Catolicismo jesuíta que Chico Xavier trouxe para o "movimento espírita".

Valores de um moralismo retrógrado, baseado na medieval Teologia do Sofrimento, foram introduzidos na pauta do Espiritismo brasileiro.

Aquela ideia "bonita" de aguentar o sofrimento em silêncio, não podendo sequer gemer de dor, agradecendo a Deus pela desgraça obtida e perdoando os opressores pelos privilégios abusivos e pelas barbaridades que cometem na vida.

Até as esquerdas mordem essa isca, acolhendo de Chico Xavier valores retrógrados que, na boca de um comentarista da imprensa hegemônica, garantiriam repúdio imediato.

Aliás, são valores tão retrógrados, que envolvem até mesmo algumas pautas dignas do projeto social de Jair Bolsonaro.

Em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, os negros e índios eram definidos como "selvagens".

Em O Consolador, o movimento feminista era tido como "perigoso" e se recomendava que a mulher exerça seu "feminismo" no "lar e na prece".

Em Vida e Sexo, aos homossexuais (hoje comunidade LGBTT) era atribuída uma "confusão mental" de seu processo reencarnacional.

E Chico Xavier compartilhava as visões retrógradas contrárias ao aborto, até mesmo em casos urgentes como estupro e risco à saúde da gestante.

Como é que as esquerdas ainda se sentem seduzidas por Chico Xavier? É pela propagandinha de "paz e amor" montada pelo discurso marqueteiro da Rede Globo?

Logo a Globo, que moldou essa imagem de "filantropo adorável" que supostamente atravessa todos os limites das ideologias, das classes sociais e das gerações humanas!

Supostamente, porque Chico Xavier simboliza o que há de mais retrógrado na religiosidade humana, em certos casos pior até do que muito evangélico neopentecostal.

Hoje vemos neopentecostais e o "movimento espírita" desfazerem as antigas animosidades, em nome das quais a Globo moldou o mito do "bondoso médium" para concorrer com os pastores eletrônicos das concorrentes, durante a ditadura militar.

Atualmente, nunca Edir Macedo, R. R. Soares e um Chico Xavier "in memoriam" estão unidos nas pautas ultraconservadoras que abrem caminho para Jair Bolsonaro.

São coisas tão obscurantistas que Chico Xavier usava uma manobra para se livrar da culpa ou de ser acusado de adotar opiniões "demasiado pessoais".

Era jogar suas opiniões para os autores mortos que usurpava: de Humberto de Campos a Auta de Souza, de André Luiz a Jair Presente.

Isso fez Chico Xavier se livrar, pelo menos, de algumas enrascadas.

Como, por exemplo, a acusação, de extrema crueldade e feita por mero juízo de valor, sem o menor fundamento científico, de que os humildes frequentadores de um circo montado em Niterói e que foi incendiado por motivo criminoso, em dezembro de 1961, eram "romanos sanguinários" noutras vidas.

É um julgamento de valor perverso, que colocaria Chico Xavier quase no nível do criminoso Dequinha, autor do trágico incêndio junto a dois comparsas.

Diante dessa atitude deplorável, Chico Xavier, se lembrando de sua irritação com as resenhas irônicas de Humberto de Campos do Parnaso de Além-Túmulo, que lhe valeu a revanche da usurpação do ilustre nome, resolveu botar tudo na conta dele, agora sob o nome de "Irmão X".

O pseudônimo "Irmão X" era de "uso externo", só para evitar processos judiciais, já afastados depois de um assédio moral cometido contra Humberto de Campos Filho, seduzido pela fascinação obsessiva de Chico Xavier, durante um evento religioso em Uberaba, 1957.

Dentro do "movimento espírita", era Humberto de Campos mesmo que era usurpado, "estuprado" pelas apropriações "mediúnicas" que botavam na conta dele coisas que ele nunca defenderia nem pensaria e num estilo que nunca foi o do autor maranhense.

A ideia é botar culpa em Humberto de Campos por tão cruel juízo de valor. Chico Xavier era livre de acusações porque, para cada erro cometido, a culpa era do "morto".

É assim que se cria uma manobra hipócrita que favorece os "médiuns", mesmo sob o risco de muitas contradições.

Os "médiuns" só são reconhecidos como de "decisão firme e própria" quando cometem atos acertados. Quando não, a culpa é sempre de terceiros, para não dizer "obsessores", definidos pelos espíritas brasileiros pelo eufemismo de "irmãozinhos pouco esclarecidos".

Por exemplo, se um "médium" estupra uma adolescente, a culpada é ela, porque ela ofereceu "energias sexuais" que "corromperam um homem a serviço do bem".

Vendo as coisas pelo prisma religioso, mesmo em prejuízo à lógica e ao bom senso, é mais confortável.

Os "médiuns" podem adotar posturas retrógradas porque a culpa cai no "obsessor" ou em algum suposto espírito creditado numa pretensa psicografia.

Divaldo Franco foi explícito demais com seus comentários homofóbicos e direitistas, sem o jogo de cintura do amigo Chico Xavier.

Mas a regra é usar os mortos, os "obsessores" ou mesmo os terceiros da Terra para "serem responsáveis" pelos erros dos "médiuns".

Isso é uma grande e deplorável, além de preocupante e vergonhosa, hipocrisia.

Os "médiuns" só são responsáveis pelos "acertos" que nem sempre cometem, mas aos quais estão oficialmente associados.

Mas quando cometem erros de sua comprovada responsabilidade, a conta é paga por terceiros.

E aí entra a contradição: que "líderes" são os "médiuns" que se deixam levar, de vez em quando, por influências maléficas?

As carteiradas morais aqui e ali, que divinizam num momento e imperfeiçoam de outro, trazem inúmeras contradições e só comprovam uma coisa.

Que os "médiuns", sobretudo Chico Xavier, são os inimigos internos da Doutrina Espírita, descumprindo de maneira irresponsável os ensinamentos espíritas originais.

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