"Caridade" de Chico Xavier foi fajuta: Brasil continua miserável



Francisco Cândido Xavier costuma estar associado a uma "caridade" que ninguém consegue explicar o que é nem como funciona.

Ela apenas é usada como desculpa esfarrapada para abafar críticas enérgicas contra sua figura irregular de deturpador do Espiritismo e criador de literatura fake.

Costuma-se dizer, como num vinil pulando numa vitrola que repete o mesmo som: "Pelo menos Chico Xavier ajudou muita gente", "Pelo menos Chico Xavier era um homem simples e bom" etc.

E todos ficam imitando feito papagaios essa falácia sem sentido.

Para começo de conversa, Chico Xavier nunca foi essa beleza toda, essa luminosidade toda, que se pensa.

Essa imagem "maravilhosa" em prol dele foi construída pela sutil e tendenciosa retórica midiática, para promover idolatria religiosa que distrai o povo enquanto as elites deitam e rolam por trás desse circo das paixões religiosas.

As mensagens de Chico Xavier foram uma combinação barata e sem graça de trocadilhos de palavras, ou então recomendações de conformismo moralista de nível bastante conservador.

As "cartas mediúnicas" foram uma deplorável combinação de sensacionalismo místico, paixões religiosas, obsessões espirituais e perigosas catarses emocionais.

Essas "cartas" são erroneamente consideradas "caridade" porque promovem obsessões espirituais e, sendo as mensagens fake, criadas pelo próprio "médium", trazem uma ideia enganosa do paradeiro dos que "partiram".

É como um sequestrador que realiza um trote telefônico imitando a voz da vítima, dizendo que ela está bem.

Mas mesmo as ações "filantrópicas" comuns são um desastre.

Primeiro, não é Chico Xavier quem ajuda o próximo: ele é que pede para os outros ajudarem, comprando bens ou arrumando objetos para doações.

Isso não é mutirão, porque o "benfeitor" não contribui, só se promove pela contribuição dos outros. Ele é apenas o apresentador do "espetáculo" e fica com as glórias da ação alheia, como a cigarra se promovendo com o trabalho das formigas.

E aí se cria todo um estardalhaço, uma série de propagandas enganosas, mas que funcionam no apelo emocional que produz, artificialmente, lágrimas em muitas pessoas, como na "masturbação com os olhos" da comoção fácil.

Só que essa comoção fácil é em vão: os resultados da "caridade" são inexpressivos.

Isso não é calúnia, não é intolerância religiosa, não é desaforo, nem invenção de invejoso.

Os resultados são fracos porque, simplesmente, pela grandeza com que se autoproclamam os "médiuns" do Espiritismo brasileiro, esperaria-se que essa "caridade" funcionasse mesmo.

Mas não funciona. Ela é fraca, os pobres que dependem dos donativos são sempre os mesmos, a miséria real não é combatida, e os privilégios abusivos dos mais ricos permanecem inalterados e intatos.

Se a tão festejada "caridade" de Chico Xavier e afins funcionasse, o Brasil teria atingido, há muito tempo, alto grau de desenvolvimento social.

Isso não ocorreu. E não foi por desprezo a Chico Xavier, como supõem seus seguidores. Nunca ele foi uma das figuras tão adoradas no Brasil, principalmente nas redes sociais, com uma adoração comparável, digamos, ao craque Neymar no auge da carreira.

Chico Xavier é a maior celebridade de Uberaba, mas a cidade do Triângulo Mineiro despencou mais de cem pontos em Índice de Desenvolvimento Humano.

Uberaba vive uma situação de pobreza e violência, em padrões comparáveis aos de uma cidade do ABC paulista.

O Brasil vive uma crise violenta e está ameaçado de sofrer uma ruptura político-institucional com a ascensão do fascista Jair Bolsonaro.

Não temos um quadro de desenvolvimento social seguro, autêntico, definitivo e estável, e recentemente sofremos um golpe político, em 2016, que foi apoiado pelos espíritas brasileiros.

Sim, os adoradores de Chico Xavier são os que mais apoiaram os retrocessos político-institucionais.

Apoiaram os deslizes do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público, que, por razões ideológicas, passaram a atuar ao arrepio das mais valiosas recomendações do Direito.

O Espiritismo brasileiro exaltava Sérgio Moro, um juiz de atuação irregular, como "herói designado pela espiritualidade superior".

O Espiritismo brasileiro apoiou as manifestações do "Fora Dilma" como se fossem eventos da "tão esperada regeneração da Humanidade".

Houve quem dissesse que o Movimento Brasil Livre era a expressão das "crianças-índigo" descritas por Divaldo Franco.

E aí, o que tivemos: espíritas brasileiros pedindo para orarmos em favor de Michel Temer.

Houve também o apoio às reformas trabalhista e previdenciária, que representariam as restrições defendidas pelo moralismo "anti-materialista" do Espiritismo brasileiro.

E agora? O que temos? Com o bolsonarismo em marcha, o Espiritismo brasileiro recua e tenta renegar, de maneira hipócrita, aquilo que apoiou, com gosto, em 2016.

Tão tidos como perfeitos e avançados, os espíritas brasileiros, dessa orientação igrejeira consagrada por Chico Xavier, tentam agora dizer que "foram iludidos", que "erraram" ou que foram "desavisados".

Não querem ser contrariados ou criticados e alegam que "têm o direito de errar". Mas não mediram as consequências e as responsabilidades das posições que adotaram no calor do momento.

Com tantas contradições, o Espiritismo brasileiro, que se autocelebra como "a religião da bondade", sempre arruma a famosa desculpa sobre o fracasso de seu "projeto filantrópico".

Sempre adotam a mesma postura das realizações que não ocorrem: na véspera, dizem que "vão realizar, com certeza, tal objetivo", a ponto de dizer que "já está acontecendo".

No dia seguinte, porém, alegam que "não foi possível", "os recursos escassearam" ou "os amiguinhos pouco esclarecidos" (eufemismo para espíritos obsessores) simplesmente "não deixaram".

A "caridade" de Chico Xavier só serviu para promover adoração cega e fanatismo religioso.

Também, o que esperaríamos de progresso numa figura ultraconservadora que sempre foi o "médium", senão esse mesmo ultraconservadorismo social que apenas mantém as desigualdades sociais entre ricos e pobres "sob controle", apenas às custas de uma caridade meramente paliativa.

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