Rede Globo fez crescer demais idolatria de Chico Xavier e Jair Bolsonaro



É muito perigoso contar com um suporte midiático e muito dinheiro para obter apoio, trabalhar um discurso envolvente e forjar pretensa unanimidade.

O poder dominador da Rede Globo de Televisão, que influencia até uma boa parcela dos que dizem odiar a emissora, é decisivo na fabricação de ídolos que são difíceis de serem descontruídos.

Vários apelos moralistas, da disciplina militar à filantropia, são usados como iscas para as pessoas tratarem certos ídolos como pessoas de reputação inabalável, quando são, na verdade, pessoas arrivistas e retrógradas.

Muitos acham que Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, é um ídolo acima das mídias e das ideologias. Engano: ele foi uma personalidade de direita, em toda sua vida, fato comprovado pelas próprias palavras dele, sempre conservadoras, e há 40 anos é um protegido da Rede Globo.

Também as pessoas que odeiam a Rede Globo e adoram Jair Bolsonaro se esquecem que a própria Globo forneceu as condições psicológicas para permitir que o ex-capitão se tornasse um fenômeno de mídia.

Essas constatações desafiam até mesmo o mais confortável pensamento desejoso, sempre preferindo mal-entendidos, desde que mais agradáveis.

E isso principalmente em relação aos "médiuns espíritas", a partir do próprio Chico Xavier, que de maneira idiota e irresponsável são moldados conforme as convicções pessoais de seus seguidores.

É verdade que tanto Chico quanto Jair não foram patrimônios originais da Globo.

Suas imagens idolatradas por muitos se devem por um imaginário anteriormente trabalhado e fora dos escritórios das Organizações Globo.

Chico foi blindado, inicialmente, pela mente tendenciosa e astuta de seu descobridor, o tirânico e oportunista presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, ao qual se deve em parte a popularização do "médium" pela sua suposta paranormalidade.

Foi Wantuil que promoveu de maneira sensacionalista este suposto dom do seu protegido, de forma a ganhar cartaz na grande mídia.

Depois, o próprio Wantuil entregou Chico Xavier para a TV Tupi, que através da dramaturgia e das reportagens sensacionalistas construiu o "mito" do suposto médium mineiro.

Jair Bolsonaro foi beneficiado por um imaginário popularesco, policialesco e pitoresco trabalhado originalmente por emissoras como SBT, Record e Bandeirantes, concorrentes da Globo.

Só depois a Globo adotou Chico Xavier, no final dos anos 1970, e Jair Bolsonaro, este ano, e quando os adotou foi com muito gosto e apetite redobrado.

Mas as condições psicológicas dos bolsonaristas também vieram antes, com muita pregação de Jornal Nacional, novelas da Globo, filmes violentos que passavam na Sessão da Tarde na década de 1990, e por aí vai.

Em ambos os casos, os mitos cresceram demais, de maneira bastante perigosa.

Chico Xavier nunca foi essa luminosidade toda que as pessoas tanto acreditam e, o que é pior, insistem em acreditar (dominadas pelo pensamento desejoso e pela fascinação obsessiva).

Ele era reacionário, com ideias medievais, foi um deturpador vergonhoso da Doutrina Espírita, sua suposta psicografia aponta irregularidades graves que comprovam fraudes.

Além disso, suas frases não possuem a beleza que muitos supõem, sendo um mero jogo de palavras simplórias e simplistas. Até para-choques de caminhões parecem mais sábios e comoventes.

A "filantropia" de Chico Xavier é espetacular, falsa e de baixíssimos resultados sociais, e foi apenas precedente para a pretensa filantropia de apresentadores como Luciano Huck.

Jair Bolsonaro, por sua vez, não tem propostas consistentes para o país, seu projeto político é retrógrado e, quando tem ideias, elas são nocivas para o povo brasileiro, como a precarização do mercado de trabalho.

Tanto Chico quanto Jair são adorados pelo clima de catarse e baixa capacidade de discernimento que seus respectivos seguidores possuem.

Daí que é muito perigoso, porque são ídolos motivados por paixões cegas, pela obsessão emocional que tenta arrumar as justificativas mais descabidas para defendê-los.

É gente que vê muita novela na televisão e que, por isso, faz de Chico Xavier um "mocinho de novela" na vida real.

Ou gente que vê muito Domingo Maior e promove Jair Bolsonaro como o "justiceiro" que promete combater os problemas do país.

Em ambos os casos, se vê o discurso um tanto hipócrita e ilusório de "salvação da pátria".

Temos que nos reeducar nas emoções e nas percepções da vida, porque a cegueira emocional em torno de ídolos que não deveriam fazer sentido nos dias de hoje está chegando aos níveis do fanatismo e da reação rancorosa com as transformações da realidade.

Dessa forma, ideais conservadores que antes se sustentavam com alguma lógica passam a ser apoiados pelo pensamento desejoso e pelos relatos fake, e, não raro, por ameaças violentas.

Por isso é que o desapego a essas velhas idolatrias, a esses totens que fedem a mofo tóxico, do "velho bondoso" e do "militar exemplar", é necessário, mesmo sob o preço de abrir mão de prazeres viciados.

Caso se mantenha o apego cego, obsessivo e fanático a esses velhos totens, o Brasil perderá muito, sendo prejudicado pelo fanatismo que se torna surreal na medida em que perde a sua razão de ser na realidade humana.

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