Brasil, um país de arrivistas?



Existe um tipo de pessoa muito peculiar no Brasil, embora nosso país não seja o único, evidentemente, a ter um tipo assim.

É aquela pessoa que começa fazendo coisas negativas para levar vantagem. Uma espécie de trapaceiro que quer vencer na vida puxando o tapete do outro. Um furador de fila.

Tempos depois, a pessoa pega carona em algum fenômeno socialmente mais avançado, para se consolidar nas vantagens e privilégios adquiridos, e passa a bancar o "certinho".

A memória curta, combinada com o jeitinho brasileiro, faz ocultar o passado negativo do arrivista, e cria uma narrativa na qual só se descreve a trajetória mais recente e "limpinha".

É como um livro no qual se rasga o primeiro capítulo, às vezes o segundo ou terceiro, e passa a ser oficialmente lançado a partir do capítulo posterior.

Isso ocorre muito no Brasil, mas não é só esse aspecto que levemos em conta. Afinal, vivemos a supremacia dos arrivistas.

Nos esquecemos que uma das pessoas oficialmente mais adoradas no Brasil é alguém que se ascendeu pelo arrivismo.

O "médium" Francisco Cândido Xavier se ascendeu da forma mais abjeta, oportunista e deplorável que se pode admitir em alguém que queira se passar por "espírito de luz".

Seu oportunismo em lançar um livro supostamente de poemas ditados por autores mortos é a maior aberração que se pode ver em obra literária.

Análises criteriosas apontam que se trata de obra fake, na qual os estilos originais dos autores mortos "desaparecem" ou, quando muito, soam como pastiches e paródias.

Uma pegadinha foi feita para livrar Chico Xavier de qualquer encrenca, supondo que ele tenha trabalhado sozinho tais livros.

Mas mesmo cartas difundidas por gente solidária como Suely Caldas Schubert confirmam as acusações de Alceu Amoroso Lima, tidas como "inconcebíveis", de que Chico teria feito pastiches literários com ajuda de uma equipe editorial da FEB.

Na verdade, houve vários colaboradores: do próprio Antônio Wantuil de Freitas, co-autor, com Chico, dos livros que pretensamente levam os nomes de "Humberto de Campos" e "Irmão X", até Waldo Vieira, passando pelos mesmos redatores do periódico da FEB, Reformador.

O grande problema dos brasileiros é que, diante de ídolos religiosos, o maniqueísmo sempre coloca o "lado bom" no da religião, por mais absurdos e aspectos ilógicos se apresentem.

De repente as pessoas viram idiotas e tratam Chico Xavier como vítima. Mas a verdade é que ele foi vilão porque não há motivo algum que justifique, mesmo sob relativização, qualquer hipótese de veracidade ou quase autenticidade das obras "mediúnicas".

Parnaso de Além-Túmulo e a primeira série usando o nome de "Humberto de Campos" são verdadeiros CRIMES de falsidade ideológica, porque apresentam irregularidades na linguagem quanto ao estilo e particularidades dos autores mortos que inexistem nas "psicografias".

Isso causou escândalo e, de forma merecida, a comunidade literária reagiu com indignação e revolta. Apenas uma parcela de escritores se absteve.

NENHUM escritor afirmou que as obras "mediúnicas" eram autênticas.

E é risível que a chamada "inteligência artificial" - na verdade os algoritmos que favorecem usuários fakes e fake news nas redes sociais - alegou "autenticidade" nas obras de Chico Xavier, usando critérios rocambolescos, na tentativa de abafar questionamentos.

Mas a lógica não está no lado de procedimentos exageradamente complexos, como querem os espíritas brasileiros para blindar Chico Xavier.

A lógica pode ter critérios simples. Uma simples leitura das "psicografias" sob o nome de Humberto de Campos, confrontada com a obra original deixada pelo autor maranhense, derruba de vez qualquer esperança de considerar as supostas psicografias como verídicas.

É esse problema que protege os arrivistas: é jogar contra a coerência, contra a lógica, contra o bom senso, jogar uma nuvem na memória das pessoas na qual a biografia dos oportunistas só é reconhecida num passado recente.

É como o livro que começa no segundo, terceiro ou quarto capítulos, enquanto os capítulos anteriores foram rasgados e jogados ao esquecimento.

E este é um país em que pessoas burlam as leis, sob o pretexto de respeitá-las, são parciais em seus interesses mas alegam "imparcialidade".

É um país em que pessoas defendem ideias nefastas e nocivas usando as mais mirabolantes desculpas.

É um país em que pessoas adotam posturas retrógradas, num momento, e em outro querem ficar na vanguarda sem motivo nem capacidade para isso.

É um país que permitiu que um escritor de literatura fake virasse um pretenso santo, por conta da caridade de fachada e um repertório de frases banais de moralismo retrógrado e piegas.

E que corre o risco de colocar um fascista, Jair Bolsonaro, para governar o Brasil, sob o aparato do "voto livre".

E, o que é pior, com um filho, Flávio Bolsonaro, cotado para entrar no Senado para promover estragos legislativos que podem reabilitar o torturador Brilhante Ustra ou legalizar o porte de armas que transformará as elites em justiceiras em potencial.

Tudo porque o arrivismo permite que as pessoas joguem fora os escrúpulos da coerência, da lógica e da verdadeira moral ao sucumbir às paixões de todo tipo, das religiosas às vingativas.

O arrivismo é um atalho curto e trapaceiro para alguém subir na vida. E, estando lá em cima, torna-se ameaça na medida que são sempre os maus exemplos que se tornam bem-sucedidos na vida.

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