Atentado contra Bolsonaro o reafirma como ameaça ao Brasil


Ontem o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, foi esfaqueado por um homem que teria cometido o ato apoiado por dois supostos comparsas.

Foi num passeio de campanha, em Juiz de Fora, Minas Gerais, em circunstâncias que apresentam algumas curiosidades.

Juiz de Fora foi a cidade de onde partiram as tropas de Olímpio Mourão Filho - sem parentesco com Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, embora "irmãos" da mesma causa golpista - para, no Rio de Janeiro, decretar o golpe militar de 1964 e instalar a ditadura que durou 21 anos.

O atentado ocorreu em frente a uma filial das lojas de roupas Riachuelo, cujo proprietário, o empresário Flávio Rocha, chegou a ser presidenciável, mas abandonou a disputa para apoiar e patrocinar Bolsonaro.

O ato causou comoção nacional, depois que Bolsonaro, aparentemente favorito nas pesquisas de voto e com candidatura aprovada por unanimidade pelo TSE, consolidou sua ascensão política.

A ascensão é bastante surreal, porque Bolsonaro representa o que há de mais retrógrado e nocivo na sociedade brasileira.

Bolsonaro foi agredido pelo cidadão Adélio Bispo de Oliveira, que disse que agiu "sob mando de Deus".

O candidato do PSL foi internado imediatamente e sofreu cirurgia, e depois foi transferido para São Paulo, onde permanece em recuperação.

O maior risco é que a comoção popular pode fazer Bolsonaro se tornar ainda mais favorito, ele que era apontado como vencedor em simulações eleitorais sem Lula.

Isso é ainda mais perigoso, porque Bolsonaro passa a ser encarado sob uma falsa imagem de "humanista".

No Espiritismo brasileiro, o coitadismo já causou estragos, enaltecendo uma figura como a de Francisco Cândido Xavier.

Um dos mais deploráveis deturpadores dos ensinamentos espíritas, Chico Xavier causou muitos estragos com obras de autoria espiritual fake e cheias de erros históricos e apelos moralistas retrógrados.

Mas Chico Xavier foi desenvolver seu coitadismo, sobretudo na velhice, e ele passou a atrair para si uma reputação que parece real, mas sempre foi falsa, tendenciosa e artificial.

Com uma imagem trabalhada sob as habilidades publicitárias de Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da FEB e, mais tarde, sob o aparelho midiático da TV Tupi e, nos últimos 40 anos, pela Rede Globo de Televisão, o mito de Chico Xavier tornou-se uma falsa unanimidade.

Chico Xavier passou a ser moldado conforme o pensamento desejoso e a fascinação obsessiva de seus seguidores, apoiadores e até leigos que lhe prestam alguma consideração.

Mesmo quando a máscara deixou-se cair, com um ranzinza e reacionário Chico Xavier falando no Pinga Fogo da TV Tupi, isso foi insuficiente para abalar o pensamento desejoso das pessoas.

O mito de Chico Xavier explica também como se desenvolveu o mito de Jair Bolsonaro.

Ambos são "filhos" de uma mesma sociedade moralista, catártica, de ideias simplistas e simplórias, ideologicamente conservadora e sem capacidade de discernir realidade e fantasia.

A ameaça que agora surge com o mito de Jair Bolsonaro crescendo e potencialmente supondo vitória eleitoral no primeiro turno é notória e consequência de como a sociedade brasileira se deixa aderir a mitos (com o perdão do trocadilho) trabalhados pelo discurso habilidoso das elites.

Será assustador que Bolsonaro saia vitorioso no primeiro turno ou, quando muito, seja aprovado para a disputa dual do segundo turno, porque seu discurso é o mais retrógrado possível.

Por mais que seja justo condenar o atentado e reprovar a violência que isso significou, isso não pode ser capitalizado em favor do candidato do PSL.

Se ele sair vitorioso, aliás, seu vice, o general Hamilton Mourão, pode executar planos de vingança e sair caçando supostos equivalentes do agressor Adélio de Oliveira.

O atentado já é comparável ao do incêndio no Palácio de Reichstag, na Alemanha, que representou o caminho livre para a ascensão do nazista Adolf Hitler.

Os brasileiros médios, emocionalmente vulneráveis e afeitos a complacências e pensamentos desejosos, podem, movidos pela comoção fácil, votar em Bolsonaro, sem saber o risco que ele representa.

Jair Bolsonaro é marcado por preconceitos sociais graves, que lhe valeram ser réu por racismo e machismo.

Seu projeto político não tem propostas consistentes e, quando há algum projeto, são sempre de violentos retrocessos sociais.

Na Educação, por exemplo, ele defende a predominância da educação à distância em relação à presencial, prejudicando a formação social das crianças pela escola.

Seu guru econômico Paulo Guedes, que trabalhou para o ditador Augusto Pinochet, pretende dar continuidade aos retrocessos econômicos do governo Michel Temer, como a precarização do trabalho e a desnacionalização da economia.

A comoção popular não pode, portanto, cair na tentação de eleger Jair Bolsonaro.

Já bastam os estragos causados pela adoração, cheia de confusões e obsessões, a Chico Xavier, um sujeito que deveria merecer o mais absoluto desprezo humano, pela deturpação grave que ele fez com as lições originais da Doutrina Espírita.

Não se pode colocar pretextos de suposta caridade e pretensa bondade a serviço da desonestidade intelectual e doutrinária. Isso parece cruel, mas é realista.

Agora, Chico Xavier e Jair Bolsonaro, como mitos, se aproximam, e o lema "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos" lembra muito o "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".

Agora, temos que alertar as pessoas para não elegerem Jair Bolsonaro, e buscarem um mínimo de prudência e deixar o sentimentalismo de lado.

O atentado não fez Jair Bolsonaro mais "humanista", e não pode refletir em seus votos, porque a ameaça se refletirá duplamente.

Primeiro, pelo projeto político de Jair Bolsonaro, que é o mais retrógrado de todos os candidatos à Presidência da República. Até o neo-medieval Geraldo Alckmin consegue parecer mais moderno.

Segundo, porque Bolsonaro é representado prioritariamente pelos setores mais retrógrados e, em boa parte, criminosos da nossa sociedade.

Não vamos dar votos àquele que, de toda forma, é representado por aqueles que nos agridem.

Além disso, a repercussão do atentado pode significar que, num governo Bolsonaro, a vingança parta de seus seguidores, que farão tiroteio a esmo, matando qualquer um que lhes pareça "esquerdista".

Vão matar pais de família, namoradas, desconhecidos, estudantes, crianças, por motivos fúteis e banais.

Não se sabe o que vai acontecer com Bolsonaro presidente. Não era sequer para eleger o filho Flávio senador da República.

O ideal deveria ser o seguinte: não sentirmos ódio por Jair Bolsonaro e seus associados. Desejá-lo que ele se recupere, retome a saúde e viva feliz na sua.

No entanto, é pouco recomendável votarmos em Jair Bolsonaro. Já existem candidatos suficientemente conservadores que alegrariam os que não suportam mais o legado do PT: Geraldo Alckmin, Marina Silva, Álvaro Dias e Henrique Meirelles.

É preciso deixar o emotivismo de lado. Não é porque Jair Bolsonaro se tornou vítima de atentado que ele se tornou mais "atraente" para governar o país.

Ele continua sendo o mesmo retrógrado e obscurantista de sempre. E o Brasil irá perder muito com uma pessoa dessas no poder. Vamos deixar o "mito" e acordarmos para a realidade.

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