A gambiarra da "caridade espírita"

Usada como escudo para permitir a deturpação doutrinária, a "caridade espírita" rende mais adoração aos supostos benfeitores do que resultados sociais.
O mito de que tais ações "transformam vidas" é muito mais uma conversa para boi dormir do que uma realidade, e dizer isso não é desaforo algum.
É só percebermos a realidade. Pela grandeza a que se autoproclama o Espiritismo brasileiro, a "caridade" que é tão tida como seu "maior triunfo", deveria ter colocado o Brasil para níveis escandinavos de vida.
Se esse objetivo não foi atingido, é porque essa "caridade" é falha ou fracassou.
Não há como negar que uma ação de caridade requer desenvolvimento de qualidade de vida.
Da mesma forma, não há como apelar para a argumentação contraditória e hesitante dos "espíritas", que costumam dizer, num dia, que "estão realizando algo" e, no dia seguinte, alegar que "não foi possível tal realização".
Ou há resultado expressivo, ou não há. Simples assim.
Mas o que se observa é que a tão festejada "caridade espírita", na verdade, é uma ação de terceiros, pois as instituições, em si, se reduzem a ser meras "distribuidoras" da caridade alheia.
Os "médiuns", tão santificados por uma caridade que não praticam, são apenas os "mestres de cerimônia" que apelam para os outros darem doações e trabalhos voluntários.
Há muita mitificação sobre esses "médiuns", mas eles não são pobres e nem são tão filantropos assim.
Eles apenas não tocam em dinheiro, são tratados a pão-de-ló como os aristocratas da realeza britânica, guardadas as diferenças de contextos.
Da mesma forma, a filantropia tão associada a eles é, na verdade, praticada por pessoas como você, leitor, e não vem um níquel das mãos dos tão adorados "médiuns".
A comparação melhor, para explicar isso, é a fábula da cigarra e da formiga.
A cigarra personifica a vaidade humana, da pessoa que vive do espetáculo, da boa vida do sucesso e do prestígio.
A formiga personifica a pessoa trabalhadora, que usa seus recursos e suas forças para produzir alguma coisa útil e proveitosa.
Alguém viu um "médium" pegando na enxada, comprando sacos de arroz, fazendo sopas? Não.
Ele fica "comandando" o espetáculo, como aquele animador de festa de debutante, quando muito acompanhando as atividades dos outros.
O "médium" se autopromove com a caridade alheia, porque precisa dessa reputação, já que ele está a serviço de um processo de deturpação doutrinária, na qual o nome de Allan Kardec é alvo de muita bajulação, mas seu legado é desfigurado de forma irresponsável.
Para evitar problemas com essa deturpação - que reduz o legado espírita original a um conteúdo extremamente igrejeiro e medieval - , o "médium" precisa promover "bom-mocismo".
É algo que se vê nos quadros "assistenciais" de Luciano Huck.
Uma "caridade" espetacularizada, transformada em mercadoria e entretenimento, que traz felicidade para aqueles que acreditam no "ativismo de sofá".
Os "ativistas de sofá", que integram as elites influentes no imaginário dominante atual (são eles que regulam a opinião "corrente" dos fenômenos diversos da vida), que dizem para a classe média comprar bens e doar o que podem para a "caridade espírita".
Cria-se todo um "teatro da filantropia" que, à maneira das propagandas publicitárias, alega-se que "vidas foram transformadas".
Mas nada disso ocorre e o que vemos são apenas redes de distribuição de donativos, num processo mais paliativo do que transformador.
Os resultados são medíocres, insuficientes para evitar os questionamentos em torno do Espiritismo brasileiro.
O "bom-mocismo" que não traz resultados profundos nem definitivos, e que faz com que os necessitados sejam sempre os mesmos a pedir todo ano as mesmas esmolas, acaba fazendo do Espiritismo brasileiro uma religião afeita a retóricas e ações de fachada.
Tudo vira uma gambiarra, que apenas diminui os efeitos extremos da pobreza, o que não é mérito nem diferencial algum.
"Aliviar a dor do outro" não é algo que possa render a alguém o máximo de adoração a um suposto filantropo.
Os aplausos estão muito barulhentos, mas o "espetáculo" rendeu poucos resultados.
Se rendessem resultados melhores, eles teriam existido e se evidenciado há tempos.
Mas o Brasil sempre permaneceu em situação medíocre e a "caridade espírita" nunca desafiou os privilégios dos mais ricos.
Dessa forma, as desigualdades continuaram, apenas com a redução de efeitos extremos.
E os "médiuns", deturpadores da Doutrina Espírita, mantém seu estrelato com o "bom-mocismo". Loucura, loucura, loucura.
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