Sem querer, Ricardo Kotscho faz "propaganda" de Jair Bolsonaro
Com tamanha ingenuidade e movido pela fascinação obsessiva, um dos perigosos processos de obsessão alertados pela literatura kardeciana, o jornalista Ricardo Kotscho cometeu o gravíssimo equívoco de se lembrar de um dos maiores deturpadores do Espiritismo brasileiro.
Fala-se em Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, o farsante que começou lançando obras fake que revoltaram o meio literário e terminou como o "filantropo da Rede Globo".
Tomado de paixões religiosas, tão perigosas quanto as paixões do sexo mais sombrio, Kotscho fez o que os fãs da atriz Allison Mack não seriam capazes de fazer por ela, depois dela ser denunciada por envolvimento em tráfico e exploração sexual pela seita religiosa NXIVM.
Kotscho se ilude com a imagem adocicada de Chico Xavier, trabalhada engenhosamente pela Rede Globo nos últimos 40 anos, de maneira tão tendenciosa que parece convincente.
O texto que ele reproduz causa estranhezas na agenda das esquerdas, porque apela mais para a conformação em vez da mobilização, pois Xavier não suportava reclamações e, certamente, condenaria boa parte dos questionamentos feitos pela mídia progressista.
Textos sobre paz não são diferencial algum. Além do mais, o presidente Michel Temer foi anunciado como um "pacificador" e nem por isso Kotscho foi todo amores com ele.
Esquece o jornalista, voltado às causas progressistas, que Chico Xavier é o extremo oposto daquilo que Kotscho acredita, pois o "médium" foi uma das figuras mais reacionárias do seu tempo.
Provas disso existem aos montes, e dois principais exemplos se confirmam na trajetória de Chico Xavier.
Primeiro: Chico era devoto da Teologia do Sofrimento, corrente do Catolicismo medieval das mais retrógradas, por insinuar que o sofredor tenha que aguentar as desgraças calado para obter a "graça de Deus".
Segundo: Chico Xavier defendeu a ditadura militar quando ela estava em sua pior fase, pedindo aos brasileiros que orassem em favor dos militares (isso incluía torturadores como Brilhante Ustra), porque eles estavam fazendo do Brasil um "reino de amor".
Para quem duvida do reacionarismo de Chico Xavier (que em 1989 apoiou Fernando Collor e não Lula e, ao morrer, em 2002, sinalizava apoiar José Serra e recebeu Aécio Neves em uma das últimas visitas), é bom lembrar do que ele disse ao grande público no Pinga-Fogo da TV Tupi, em 1971:
"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades".
Chico chegava a dar justificativas para a implantação da ditadura militar, que ele continuou apoiando até o fim.
É certo que os progressistas vão usar de seus pensamentos desejosos para sairem fantasiando absurdos em favor de Chico Xavier, alegar que ele "foi manipulado", "entendeu mal as coisas" etc.
Mas isso não só dá margem a contradições diversas - que não conseguiriam sustentar a imagem de "líder" atribuída a Xavier - como traz a postura ridícula do "médium" ser visto não como ele realmente é, mas à maneira idealizada e fantasiosa de seus fanáticos seguidores.
Outros que na boa-fé endeusaram Chico Xavier foram Leonardo Stoppa - o sujeito que disse que o "médium" era "comunista" (Stoppa não viu o Pinga Fogo no YouTube) - e Ribamar Fonseca, que também fez um texto em favor do "médium", em 2016.
Assim como Ribamar, Kotscho também se valeu do pretexto da paz para reproduzir o texto de Chico Xavier, dotado da mais enjoada pieguice.
Afinal, paz não se teoriza. Não se aprisiona a paz numa coreografia de palavras bonitinhas, enquanto o ódio acontece fora do concerto dos textos açucarados.
Enquanto a paz não sai do papel, ainda mais sob o copyright de Chico Xavier, o ódio campeia solto, como em 2016, quando o golpe político se deu após o texto "pacifista" de Ribamar Fonseca.
O perigo pode se repetir com Ricardo Kotscho, que sem querer acabou fazendo "propaganda" acidental de Jair Bolsonaro, potencialmente favorito para conquistar a Presidência da República num cenário sem Lula.
Tanto Jair Bolsonaro quanto Chico Xavier são dois lados da mesma moeda.
A guerra personalizada em Bolsonaro, mas pronta para sair do papel e da figura de um homem, se estabelecendo sem controle na guerra civil diária que já acontece há tempos.
A paz personalizada por Chico Xavier que transforma as belas virtudes em sua franquia pessoal e prisioneiras do concerto empolado das palavras piegas.
Bolsonaro e Xavier são o yin e o yang do conservadorismo comandado pela mídia hegemônica, pelo mercado e pelo conservadorismo religioso.
Os ideais de vida de ambos, embora formalmente opostos, são semelhantes na essência, sobretudo no que se diz ao conservadorismo moral dos brasileiros.
Tanto Bolsonaro quanto Xavier são figuras medievais, o primeiro simbolizando o lado obscuro e o outro, o lado mais claro, mas ambos num mesmo contexto conservador e típico da Idade Média, fase histórica na qual o Brasil, como país, só passou a viver tardiamente.
É muito infeliz a iniciativa de personalidades como Ricardo Kotscho, Leonardo Stoppa e Ribamar Fonseca, dominados pela fascinação obsessiva por um ídolo religioso que não foi aquela grandeza que se pensa.
Por trás dessa imagem adocicada, dos textos com sabor de mel e do aparato de pretensa caridade - semelhante à que se atribui, hoje, a Luciano Huck, uma "filantropia" espetacularizada que pouco ajuda no progresso social - Chico Xavier teve aspectos muito sombrios e nefastos em sua trajetória.
Esses aspectos são tantos que outros textos detalham melhor isso, como já publicaram páginas como Obras Psicografadas, Intruso Espírita e Dossiê Espírita.
Ficamos por aqui, reproduzindo o deslumbrado texto que Ricardo Kotscho escreveu movido pela embriaguez mística da fascinação obsessiva.
É um texto piegas sobre "paz", que na verdade soa supérfluo. Afinal, paz não se teoriza, se pratica. Paz não é para ficar no balé das palavras piegas, mas na ação do combate das injustiças.
Afinal, é se perdendo no palavreado dócil da "paz", deixamos o ódio ocorrer enquanto nos distraímos nas doces fantasias da fé deslumbrada.
ATENÇÃO: LEIAM O TEXTO COM MUITO CUIDADO, PARA QUE NINGUÉM SEJA TAMBÉM TOMADO PELA FASCINAÇÃO OBSESSIVA DA SEDUÇÃO FÁCIL DAS PALAVRAS DÓCEIS. O TEXTO APARECE AQUI EM CARÁTER INFORMATIVO.
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JÁ SÃO 16 ANOS SEM CHICO XAVIER, MAS SUAS PALAVRAS CONTINUAM VALENDO
Por Ricardo Kotscho - Balaio do Kotscho
Já faz 16 anos que ele foi embora, mas Chico Xavier continua mais atual do que nunca neste tempos tenebrosos.
Por isso, vale a pena voltar às palavras de sabedoria deste grande curador de corpos doentes e de almas atormentadas.
Transcrevo abaixo, mais uma vez, um trecho das últimas das suas mensagens de alento, que podem nos ajudar a enfrentar este momento em que vivemos, sem governo e sem esperança.
Nunca é demais repetir:
“O silêncio, onde quer que você esteja, seja a alma deste lugar…
Discutir não alimenta. Reclamar não resolve. Revolta não auxilia. Desespero não ilumina. Tristeza não leva a nada. Lágrima não substitui suor.
Irritação intoxica. Deserção agrava. Calúnia responde sempre com o pior.
Para todos os males, só existe um medicamento de eficiência comprovada.
Continuar na paz, compreendendo, ajudando, aguardando o concurso sábio do Tempo, na certeza, de que o que não for bom para os outros não será bom para nós…
Pessoas feridas ferem pessoas. Pessoas curadas curam pessoas. Pessoas amadas amam pessoas. Pessoas transformadas transformam pessoas.
Pessoas chatas chateiam pessoas. Pessoas amarguradas amarguram pessoas.
Pessoas santificadas santificam pessoas.
Quem eu sou interfere diretamente naqueles que estão ao meu redor.
Acorde…
Se cubra de gratidão, se encha de amor e recomece… O que for benção para a sua vida, Deus te entregará, e o que não for, ele te livrará!
Um dia bonito nem sempre é um dia de sol….
Mas com certeza é um dia de paz”
Paz! É disso que todos precisamos para poder sobreviver, como nos ensina este grande sábio chamado Chico Xavier.
Vida que segue.
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