Por que o Brasil faz tanta apologia ao erro?
JAIR BOLSONARO E CHICO XAVIER - CARISMAS FORJADOS A CUSTA DE MUITAS CONFUSÕES E ERROS GRAVÍSSIMOS.
Um dado preocupa muito, no Brasil das últimas décadas.
É a chamada complacência ao erro ou, em muitos casos, a apologia ao erro.
Sob a desculpa de que todos erram na vida, o erro torna-se tão banalizado que ele não consegue sequer ameaçar reputações nem arranha a popularidade de alguém.
A recente vantagem de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto mostra o quanto isso é preocupante, diante de um político fascista sem um projeto consistente de país.
Marcado por um ato de terrorismo cometido no passado, por posturas antissociais que envolvem injúria racial e apologia ao estupro, Jair ainda é conhecido por propostas anti-populares, como o fim dos direitos trabalhistas sob o pretexto de resolver o desemprego.
Jair tem propostas surpreendentemente idênticas ao do impopular presidente Michel Temer, mas, de forma surreal, arranca popularidade extrema nas redes sociais.
Nas pesquisas de intenção de voto, Jair obtém índices que variam de 19% a 26%, em simulações de campanhas eleitorais com ou sem o ex-presidente Lula, atualmente preso por duvidosas acusações, mas oficialmente também candidato à Presidência da República.
Isso aflige, porque a sociedade brasileira acaba se conformando com a barbárie e a sordidez de tal forma que expressa apegos e complacências dos mais doentios.
Culturalmente, o Brasil está doentio, por conta da chamada bregalização cultural, em que fenômenos de maior sucesso são marcados pelo talento medíocre, pelo excesso de pretensiosismo e por eventuais escândalos.
Mas a apologia ao erro não envolve só fenômenos "levianos" ou "profanos", atingindo também, e em grande intensidade, o Espiritismo brasileiro.
O próprio ídolo Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, é na verdade um exemplo muito bem sucedido de arrivismo social.
Sua mediunidade aponta irregularidades gravíssimas, dignas de provas, que até existem mas nunca são oficialmente reconhecidas.
É porque Chico Xavier tornou-se blindado, primeiramente pelo seu padrinho religioso Antônio Wantuil de Freitas (então presidente da FEB), e depois sob um lobby que envolve meio jurídico, mercado literário e poder midiático, aliados a políticos associados.
O fato de um homem acusado de pastiches literários, feitos sob ajuda de terceiros, virar um ídolo religioso a ponto de atribuir-lhe, ingenuamente, "perfeição absoluta" e suposta dispensa de reencarnação, é algo muito assustador.
É premiar o erro, a fraude, a farsa, os atos suspeitos e irregulares.
Até que ponto as pessoas podem aceitar o erro? Até que ponto a imperfeição não impede atribuições de perfeição? E até que ponto falácias podem valer como verdades absolutas, por defenderem o establishment de valores morais, culturais e religiosos dominantes?
A complacência do erro está crescendo sob a desculpa da autocrítica, e cada vez mais pessoas estão levando vantagem não pelos acertos cometidos, mas pelos erros graves e escândalos provocados.
Isso é extremamente assustador, espantoso, grave e pode causar consequências negativas da mais extrema intensidade no futuro.
As chamadas subcelebridades chegam mesmo a repercutir e obter grande popularidade pelos escândalos que cometem e que servem para dissimular a falta de talento das mesmas.
No âmbito da violência, os feminicidas podem ser vistos oficialmente como odiáveis, mas eles são tratados como se fossem os "malvados favoritos" dos brasileiros.
Quando impunes, os feminicidas têm preferência até a muitos homens realmente cavalheiros e bondosos na conquista de novas namoradas.
A situação dos feminicidas no Brasil é tão confortável que a eles não se pode sequer atribuir doença, mesmo quando têm uma trajetória de consumo intenso de drogas, cigarro, álcool e comprimidos.
A mesma sociedade que torce para um músico de rock pesado que está com câncer aos 50 anos morrer imediatamente é a que se sente ofendida quando um feminicida rico, na mesma idade, e anunciado como portador da mesma doença.
Temos dois feminicidas idosos perto da morte e ninguém se atenta, nem a imprensa. Até porque os obituários brasileiros precisam parecer a lista do Prêmio Nobel, só com gente admirável, pegando mal botar um feminicida, "justiceiro" da moral machista, na lista dos mortos famosos do Wikipedia.
Fazendeiros que matam agricultores mantém suas respeitabilidades até entre religiosos locais.
Nas redes sociais, a sordidez humana, dependendo do status de alguém, pode manter o prestígio e a popularidade não só intocáveis, porém crescentes.
E o caso de Chico Xavier foi um precedente.
Seu primeiro livro, Parnaso de Além-Túmulo, uma coleção de poemas fake atribuídas por autores mortos e bolada pelo "médium" com a ajuda da cúpula da FEB, sua equipe editorial e consultores literários associados, não tem a menor lógica para se atribuir autenticidade.
O contexto social, intelectual, educacional, tanto da época em que o livro foi lançado e recebeu estranhos reparos editoriais, entre 1932 e 1955, quanto os tempos atuais, impossibilitam com que sequer se sonhe com a legitimação dessa antologia de fakes.
Infelizmente, porém, uma boa parcela da sociedade brasileira quer que se admita uma parcela de surrealismo e ruptura da lógica.
Sobre as irregularidades mediúnicas - cujo caso mais grave envolveu o nome de Humberto de Campos - , mesmo pessoas tidas como "esclarecidas" caem na falácia de que elas seriam "aspectos que escapam da compreensão terrena do homem".
Tenha dó. O fato de haver aspectos ilógicos e incoerentes que indicam fraudes não significa que eles podem escapar da compreensão terrena.
Não é porque a coisa é absurda, ilógica ou fora da realidade que terá algum sentido de lógica ou coerência no mundo espiritual. A burrice da Terra não se transforma em sabedoria no além-túmulo.
Chico Xavier também é conhecido por ter se aproveitado do jeitinho brasileiro para tudo.
Foi beneficiado pela impunidade, porque os juízes, desnorteados (ou motivados pela subjugação obsessiva em prol de um ídolo religoso?), não entenderam a usurpação que o "médium" teve ao se promover às custas do nome de Humberto de Campos.
Pior: Chico Xavier armou ainda uma "emboscada" para dar fim, através do assédio religioso (um tipo de assédio moral), ao processo movido pelos herdeiros de Humberto de Campos.
Convidou o filho, o produtor Humberto de Campos Filho, para um evento "espírita" em Uberaba, em 1957, no qual houve demonstrações de Assistencialismo durante a "caravana do amor" realizada depois da doutrinária comandada pelo "médium".
Houve assédio moral, quando Chico abraçou Humberto de Campos Filho e fez nele um sussurro hipnótico e traiçoeiro, usando um falsete que desnorteou o filho do autor maranhense que, tomado de fascinação obsessiva, deixou de ver o "médium" com a desconfiança e o ceticismo anteriores.
Isso é terrível, e o pior é que o prestígio religioso de Chico Xavier traz, oficialmente, a narrativa dominante de que Humberto Filho "perdoou" o "médium" e passou a ver "autenticidade" nas psicografias fake que levam o nome do pai dele ou do pseudônimo "Irmão X".
Outro ponto mais grave é que Chico Xavier é um severo e gravíssimo traidor dos ensinamentos espíritas originais.
Essa constatação não é maledicente nem injuriosa, e a obra do "médium" confirma que ele se encaixa nos critérios de "inimigo interno do Espiritismo" descritos em O Livro dos Médiuns.
Aspectos como desvios doutrinários - o igrejismo excessivo, o moralismo retrógrado e fantasias como "cidades espirituais" ou "crianças excepcionais" - são observados nos livros de Chico Xavier.
A ele também se atribui um aspecto radicalmente reprovado pela literatura kardeicana: a pretensão de definir datas futuras para supostas transformações da humanidade.
A complacência com Chico Xavier é tal que causa até confusão, quando uns o definem como "semi-deus" e outros, como "apenas um homem simples", em ambos os casos entrando em conflito diante da idolatria cega ao maior deturpador da Doutrina Espírita no Brasil.
No entanto, a mania de permissividade que os brasileiros têm, que veem em Jair Bolsonaro um estadista que nunca foi nem será, já fez Chico Xavier virar um "santo" mesmo com uma trajetória confusa, bem ao gosto dos sociopatas que dominam as redes sociais, como Facebook e WhatsApp.
O fato de todos poderem errar não pode chegar ao ponto dessa permissividade, da complacência ao erro, da conformação com problemas graves, do consentimento à impunidade.
Não se pode chegar ao ponto de medir a gravidade dos erros não pela natureza desses atos, mas pelo prestígio de alguém ou da simbologia de privilégios e poder que esta pessoa representa a uma parcela influente da sociedade.
O Brasil virou refém de sua mediocridade, das convicções pessoais mais equivocadas, do pragmatismo de muitos retrocessos, da resignação com os problemas graves pela ilusão de "poder sobreviver a eles", faz com que uma coleção infindável de aberrações prevaleça sempre.
A Justiça seletiva que ignorou a gravidade das psicografias fake de Chico Xavier, em 1944, é a mesma que prendeu Lula por conta de boatos e que faz vista grossa à perigosíssima figura de Jair Bolsonaro, que confirmadamente demonstra-se um político INCAPAZ de governar o Brasil.
No entanto, só a complacência social aceita, apoia e estimula aberrações, e Chico Xavier foi um dos principais precedentes dessa insanidade, dessa psicopatia social que domina o Brasil e que pode destrui-lo em breve.
É hora de revermos valores, paixões, interesses e outros critérios de avaliação de certo ou errado, antes que as pessoas que vivem dando complacência ao erro alheio sejam vítimas dessa mesma posição. O Brasil está numa situação social extremamente frágil.
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