O "morde e assopra" do Espiritismo brasileiro



O Espiritismo brasileiro, igrejeiro e de raiz roustanguista, é do tipo que morde e assopra.

A religião é a mais dissimulada do Brasil. Sempre seguiu o igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing, mas se esforça para dar a falsa impressão de que recuperou as bases originais de Allan Kardec.

Ultimamente, o Espiritismo brasileiro defendeu o golpe político de 2016, exaltando as passeatas do "Fora Dilma", grupos como o Movimento Brasil Livre, as retrógradas reformas do governo Temer e sinalizou até para a fórmula "disciplina, disciplina, disciplina" de Jair Bolsonaro.

Tudo visando uma ótica de "maiores sacrifícios", pois o Espiritismo brasileiro tem moral punitivista e voltada para a Teologia do Sofrimento herdada do Catolicismo medieval.

Mas de repente o Espiritismo brasileiro tira o corpo fora, renega que tenha defendido o golpe de 2016 que defendeu tanto na véspera, a ponto de atribuir a ele "o início da Regeneração na Terra".

Agora, os espíritas brasileiros tentam outro discurso e até desafiam os outros a "desenvolver extremo rigor científico-jurídico" para argumentar contra a doutrina.

Querem que falemos o tecniquês e o juridiquês antes de apontarmos alguma falha no movimento espírita e seus seguidores.

Ou que desenvolvamos equações matemáticas cmplicadas para provar que as obras ditas "mediúnicas" não passam de literatura fake.

Se fosse por esse raciocínio, teríamos que, para identificar mentirosos entre pessoas próximas de nosso convívio, teríamos que apelar para a alta tecnologia ou para fórmulas científicas complicadas, o que seria complicado e desnecessário.

Afinal, a mentira é identificável mediante simples, porém cuidadosas, observações.

Por exemplo, as cartas "mediúnicas" lançadas por Chico Xavier e afins são fake pela dupla razão das assinaturas atribuídas aos mortos contradizerem com as caligrafias registradas em vida (sobretudo em carteiras de identidade), mas mostram semelhanças à caligrafia do respectivo "médium".

Não é preciso apelar para recursos tecnológicos e científicos complicados para se chegar a essa conclusão.

A exigência de rigor é apenas uma espécie de "carteirada" que os seguidores do Espiritismo igrejeiro exigem para disfarçar o óbvio das irregularidades da doutrina brasileira.

Afinal, as contradições do Espiritismo brasileiro são inúmeras, infinitas e, para desespero de muitos, extremamente graves.

E elas vêm a partir de Chico Xavier, que a memória curta, de forma artificial e apoiada pelo discurso da mídia hegemônica (TV Tupi, Rede Globo), fez tornar-se um pretenso símbolo de coerência e simplicidade humanas.

Ele mesmo apresentou irregularidades extremamente graves em suas atividades "mediúnicas". No que se diz às psicografias, os indícios de obras fake são muito evidentes e dignos de comprovação.

Estilos peculiares de poesia de nomes como Auta de Souza e Olavo Bilac "desapareciam" em prol do estilo pessoal de Chico Xavier.

Os de Castro Alves e Casimiro de Abreu "permaneciam" como arremedos paródicos, mas em dado momento "expressando" a causa pessoal de Chico Xavier.

Devemos nos lembrar que não se deve ser visto de maneira positiva o fato de diferentes "autores" expressarem o pensamento pessoal de Chico Xavier, como certos idiotas da Internet expressaram nas redes sociais.

"Quem é que não quer pensar igual a esse maravilhoso homem?", diziam os sociopatas "do bem", tomados de completa fascinação obsessiva, ao idolatrarem o "médium".

Há um grande rol de contradições, mas como no Brasil há muita complacência, jeitinho, memória curta, pensamento desejoso e tantos outros manipuladores da realidade em favor das fantasias e conveniências de qualquer um, essas contradições se deixam passar.

O Espiritismo brasileiro goza de uma reputação de respeitabilidade e prestígio que não é de seu mérito algum.

Sua mediunidade é fake, sua filantropia é, quando muito, de baixa eficiência social, e seu moralismo, extremamente medieval, o que deveria anular o status futurista atribuído a essa religião. Só que não.

O moralismo retrógrado do Espiritismo brasileiro se refere, sobretudo, à defesa da aceitação da desgraça humana por parte do sofredor.

A desculpa é que o sofredor está pagando por supostas faltas cometidas em outras encarnações, delitos que no entanto são considerados por mera especulação pelos espíritas brasileiros.

Não há estudos nem análises sobre o que realmente vem a ser a reencarnação e o mundo espiritual. Só por presumir a existência dessas duas ideias acomoda o movimento espírita, ao qual lhes falta o rigor extremo que tanto adora exigir dos outros.

Mas o pior é quando o Espiritismo brasileiro expõe um moralismo extremamente severo, de maneira taxativa, e, depois, tenta desmentir o que havia sido dito em todas as palavras.

É comum a instituição, o periódico, o palestrante ou escritor dessa religião apelar, de maneira inflexível, para o sofredor aceitar a desgraça que sofre.

"Deve-se amar o sofrimento, sofrer calado, aguentar as dificuldades da vida ou dar murro em ponta de faca e meter a cara", diz, em véspera, o moralismo do Espiritismo brasileiro.

Em certos casos, definem o remorso como inútil para atenuar sofrimentos, e o "pagamento das dívidas de reencarnações passadas" é feito com juros exorbitantes, como se o sofredor estivesse sendo vítima de um estelionato moral.

Mas depois, quando os próprios pregadores do Espiritismo brasileiro são alvos de críticas e veem o descrédito se voltar para eles, aí o discurso é mudado.

Aí eles desmentem que as pessoas "vieram aqui para sofrer". Vão perguntando, no maior pedantismo, qual é a dificuldade que mais aflige alguém.

É como o "morde-e-assopra", daquele que primeiro atira para depois perguntar. Ou daquele que derruba o outro para depois lhe estender a mão.

Cheios de contradições, os espíritas brasileiros tentam dizer e desdizer o tempo todo.

É a religião que, primeiro, expressou e defendeu a preferência por J. B. Roustaing, para depois fingir que "recuperou as bases originais", por sinal trazidas por um Kardec mal traduzido por autores como Guillón Ribeiro (FEB) e Salvador Gentile (IDE).

O morde-e-assopra do Espiritismo brasileiro, no que se diz ao seu moralismo, é apenas um item da vergonhosa coleção de contradições que só não arranha a imagem da doutrina porque a mídia (sobretudo a Rede Globo) dá um jeitinho para tudo ficar sempre numa boa.

No entanto, trata-se de uma religião que, com tanta contradição, é a mais confusa do Brasil.

E, onde tem confusão, a coerência não encontra morada.

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