Igrejeiro e medieval, Espiritismo brasileiro será vítima de sua própria data-limite
A notícia recente de que um "médium espírita", o paranaense Maury Rodrigues da Cruz, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (sic), denunciado por 20 pessoas que o acusam de estelionato e abuso sexual, é mais um na coleção de incidentes infelizes do Espiritismo brasileiro.
Uma das 20 vítimas, que seriam em maioria homens, o engenheiro Fernando Frazão detalhou que o acusado fingia incorporar um "espírito" para promover abusos sexuais em cada vítima. As acusações remetem a práticas antigas, que em muitos casos prescreveram.
O caso, que está em segredo de justiça, pediu ao acusado dez dias para enviar sua defesa. Maury pediu aos seus seguidores "orações em seu favor".
Tivemos caso de pediatra acusando uma criança de sete anos, vítima de abuso sexual, de "possuir energia sexual" que atraiu seu tio e praticante do ato. A culpabilização da vítima é uma prática comum no movimento espírita, sob o pretexto de "reajustes espirituais".
Tivemos também casos de Divaldo Franco fazendo comentários reacionários aqui e ali, lembrando o que Chico Xavier fez no programa Pinga-Fogo, na TV Tupi, em 1971.
Tivemos o suposto "amigo do ex-presidente Lula", o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus - acusado de crimes como charlatanismo e exercício ilegal da Medicina - , exaltando o maior algoz do petista, o juiz Sérgio Moro, que o "médium" adoraria ver presidindo o Brasil.
Sabe-se que Sérgio Moro, apesar de sua imagem heroificada, é dotado de práticas irregulares e tendenciosas, voltadas a interesses estratégicos das elites conservadoras e dominantes no Brasil, além de suspeito de estar colaborando com o governo dos EUA.
Para uma religião que foi marcada pela literatura fake iniciada por Chico Xavier e por uma caridade de fachada que realiza poucas mudanças sociais e rende mais adoração aos "médiuns", esses incidentes ilustram a decadência da religião que traiu Allan Kardec.
Ironicamente, estamos nos aproximando de 2019, ano considerado a data-limite da suposta profecia sonhada por Chico Xavier em 1969, mas revelada em 1986 a Geraldo Lemos Neto.
Curiosamente, 1969 foi o começo de uma série de escândalos envolvendo o movimento espírita.
Naquele ano, correu a denúncia, dada após o anúncio da aposentadoria de Antônio Wantuil de Freitas (consumada no ano seguinte), de que os livros de Chico Xavier estariam alimentando os cofres da Federação Espírita Brasileira.
Xavier, que sempre soube desse acordo comercial desde o começo (1932), tirou o corpo fora e alegou que "estava entristecido" com o "lamentável destino" da renda dos livros publicados por ele.
Em 1970, repórteres de O Cruzeiro encontraram roupas e disfarces que a falsa médium Otília Diogo usou em supostos espetáculos de materialização realizados em 1963 e 1964.
O episódio fez romper a amizade de Chico Xavier e Waldo Vieira, que se decepcionou com seu antigo ídolo e parceiro e largou o movimento espírita para fundar a Conscienciologia.
Otília foi detida e ficou presa um tempo. Chico, que acompanhou e apoiou a farsa - fotos confirmam que ele estava muito ativo acompanhando o processo - , saiu impune, diante da tese inconsistente de que "cúmplice não é culpado".
Em 1973, a Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) foi denunciada por planejar traduções ainda mais deturpadoras dos livros de Allan Kardec, que seriam relançados com textos mais próximos do roustanguismo.
A denúncia foi dada por José Herculano Pires, espírita autêntico (da escola francesa), em programas de rádio de São Paulo.
Chico Xavier apoiou a iniciativa da FEESP, mas diante do escândalo recuou, como um covarde. Com o escândalo, o projeto foi arquivado.
Em meados dos anos 1970, Herculano Pires teve uma carta divulgada na qual alertava sobre a farsa do "médium" Divaldo Franco. Em suas palavras, Divaldo tinha "conduta negativa como orador", acusando-o de palavreador, e "conduta condenável no terreno da caridade" (o grifo é nosso).
No segundo caso, Divaldo era acusado de usar a caridade para mascarar aspectos de sua "trajetória sombria" no Espiritismo brasileiro. Caráter que se confirmou quando ele, recentemente, despejou comentários anti-humanitários num evento do movimento espírita em Goiânia.
Em 1974, com o falecimento de Antônio Wantuil de Freitas, houve uma ruptura dentro do movimento espírita, na qual os igrejistas regionais (como o mineiro Chico e o baiano Divaldo) se distanciaram da cúpula da FEB e do grupo carioca-paulista da federação.
Com isso, os roustanguistas fora do eixo Rio-São Paulo passaram a adotar a farsa do "kardecismo autêntico", denunciada por Carlos Imbassahy, outro espírita da escola francesa.
Segundo Imbassahy, os "kardecistas autênticos" eram aqueles que fingiam recuperar as bases doutrinárias originais, sem no entanto abandonar a catolicização herdada de Jean-Baptiste Roustaing.
Isso se constituiu num engodo no qual a promessa de "recuperar o pensamento de Kardec" foi uma conversa para boi dormir, tranquilizando os mais ingênuos seguidores da religião.
O engodo constituiu em misturar alhos com bugalhos, nos quais aspectos científicos do Espiritismo francês "coexistem" com conceitos igrejistas trazidos a partir da obra de Xavier.
Isso criou uma confusão doutrinária na qual só o jeitinho brasileiro conseguiu "arrumar" para causar menos problemas possíveis.
Todavia, nos últimos anos, a crise explodiu novamente e o Espiritismo brasileiro se encontra em situação insustentável.
A "fase dúbia" - como deve ser conhecido o embuste do "kardecismo autêntico" - do movimento espírita só fez aumentar ainda mais as contradições, ao misturar Erasto e Emmanuel, ciência futurista com igrejismo medieval, Filosofia com esoterismo e Astrologia.
O nome de J. B. Roustaing virou um "palavrão", mas seu legado permaneceu intato e até mais intenso, dissolvido em digeríveis romances "espíritas" ou em palestras e outras obras do movimento espírita.
Em 1975, quando surgiu a "fase dúbia" do "roustanguismo com Kardec", a TV Tupi, que blindava Chico Xavier, lançou a novela A Viagem, em sua primeira versão. A novela é uma adaptação livre do livro Nosso Lar.
Numa aparente estranheza, a TV Tupi faliu, o que indica o azar que representa uma figura como Chico Xavier.
Diante disso, a Rede Globo, para concorrer com os bispos eletrônicos (como Edir Macedo e R. R. Soares), passou a blindar Chico Xavier, tornando-o o "padroeiro" informal das Organizações Globo.
E isso vale até hoje, com a Globo tendo no "médium" seu protegido.
E aí vemos o que ocorre hoje, com o Espiritismo brasileiro preso no igrejismo de Chico Xavier.
Um Espiritismo roustanguista, ultraconservador, pregador da Teologia do Sofrimento, produtor de obras fake etc.
E aí chega a data-limite e a prestação de contas que Chico Xavier alegava se impor à humanidade na Terra pegará o próprio movimento espírita e mesmo o "médium", ainda que postumamente, desprevenidos.
As contradições nunca se resolvem e não se pode mais apelar para as mesmas "soluções" de 1975.
Não há mais como os "kardecistas autênticos" virarem "mais kardecistas" e "mais autênticos", repetindo a mesma promessa de recuperar as bases doutrinárias, pois depois se cai em tentação no igrejismo mais medieval.
Hoje o Brasil se encontra em situação frágil e sob alto risco de ser governado por um fascista, justamente a partir de 2019.
Diante disso, o movimento espírita irá expor sua sordidez e suas irregularidades que se amontoaram feito entulho acumulado desde 1884.
A pele de cordeiro não consegue mais caber no corpo do lobo como antes.
Tivemos o suposto "amigo do ex-presidente Lula", o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus - acusado de crimes como charlatanismo e exercício ilegal da Medicina - , exaltando o maior algoz do petista, o juiz Sérgio Moro, que o "médium" adoraria ver presidindo o Brasil.
Sabe-se que Sérgio Moro, apesar de sua imagem heroificada, é dotado de práticas irregulares e tendenciosas, voltadas a interesses estratégicos das elites conservadoras e dominantes no Brasil, além de suspeito de estar colaborando com o governo dos EUA.
Para uma religião que foi marcada pela literatura fake iniciada por Chico Xavier e por uma caridade de fachada que realiza poucas mudanças sociais e rende mais adoração aos "médiuns", esses incidentes ilustram a decadência da religião que traiu Allan Kardec.
Ironicamente, estamos nos aproximando de 2019, ano considerado a data-limite da suposta profecia sonhada por Chico Xavier em 1969, mas revelada em 1986 a Geraldo Lemos Neto.
Curiosamente, 1969 foi o começo de uma série de escândalos envolvendo o movimento espírita.
Naquele ano, correu a denúncia, dada após o anúncio da aposentadoria de Antônio Wantuil de Freitas (consumada no ano seguinte), de que os livros de Chico Xavier estariam alimentando os cofres da Federação Espírita Brasileira.
Xavier, que sempre soube desse acordo comercial desde o começo (1932), tirou o corpo fora e alegou que "estava entristecido" com o "lamentável destino" da renda dos livros publicados por ele.
Em 1970, repórteres de O Cruzeiro encontraram roupas e disfarces que a falsa médium Otília Diogo usou em supostos espetáculos de materialização realizados em 1963 e 1964.
O episódio fez romper a amizade de Chico Xavier e Waldo Vieira, que se decepcionou com seu antigo ídolo e parceiro e largou o movimento espírita para fundar a Conscienciologia.
Otília foi detida e ficou presa um tempo. Chico, que acompanhou e apoiou a farsa - fotos confirmam que ele estava muito ativo acompanhando o processo - , saiu impune, diante da tese inconsistente de que "cúmplice não é culpado".
Em 1973, a Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) foi denunciada por planejar traduções ainda mais deturpadoras dos livros de Allan Kardec, que seriam relançados com textos mais próximos do roustanguismo.
A denúncia foi dada por José Herculano Pires, espírita autêntico (da escola francesa), em programas de rádio de São Paulo.
Chico Xavier apoiou a iniciativa da FEESP, mas diante do escândalo recuou, como um covarde. Com o escândalo, o projeto foi arquivado.
Em meados dos anos 1970, Herculano Pires teve uma carta divulgada na qual alertava sobre a farsa do "médium" Divaldo Franco. Em suas palavras, Divaldo tinha "conduta negativa como orador", acusando-o de palavreador, e "conduta condenável no terreno da caridade" (o grifo é nosso).
No segundo caso, Divaldo era acusado de usar a caridade para mascarar aspectos de sua "trajetória sombria" no Espiritismo brasileiro. Caráter que se confirmou quando ele, recentemente, despejou comentários anti-humanitários num evento do movimento espírita em Goiânia.
Em 1974, com o falecimento de Antônio Wantuil de Freitas, houve uma ruptura dentro do movimento espírita, na qual os igrejistas regionais (como o mineiro Chico e o baiano Divaldo) se distanciaram da cúpula da FEB e do grupo carioca-paulista da federação.
Com isso, os roustanguistas fora do eixo Rio-São Paulo passaram a adotar a farsa do "kardecismo autêntico", denunciada por Carlos Imbassahy, outro espírita da escola francesa.
Segundo Imbassahy, os "kardecistas autênticos" eram aqueles que fingiam recuperar as bases doutrinárias originais, sem no entanto abandonar a catolicização herdada de Jean-Baptiste Roustaing.
Isso se constituiu num engodo no qual a promessa de "recuperar o pensamento de Kardec" foi uma conversa para boi dormir, tranquilizando os mais ingênuos seguidores da religião.
O engodo constituiu em misturar alhos com bugalhos, nos quais aspectos científicos do Espiritismo francês "coexistem" com conceitos igrejistas trazidos a partir da obra de Xavier.
Isso criou uma confusão doutrinária na qual só o jeitinho brasileiro conseguiu "arrumar" para causar menos problemas possíveis.
Todavia, nos últimos anos, a crise explodiu novamente e o Espiritismo brasileiro se encontra em situação insustentável.
A "fase dúbia" - como deve ser conhecido o embuste do "kardecismo autêntico" - do movimento espírita só fez aumentar ainda mais as contradições, ao misturar Erasto e Emmanuel, ciência futurista com igrejismo medieval, Filosofia com esoterismo e Astrologia.
O nome de J. B. Roustaing virou um "palavrão", mas seu legado permaneceu intato e até mais intenso, dissolvido em digeríveis romances "espíritas" ou em palestras e outras obras do movimento espírita.
Em 1975, quando surgiu a "fase dúbia" do "roustanguismo com Kardec", a TV Tupi, que blindava Chico Xavier, lançou a novela A Viagem, em sua primeira versão. A novela é uma adaptação livre do livro Nosso Lar.
Numa aparente estranheza, a TV Tupi faliu, o que indica o azar que representa uma figura como Chico Xavier.
Diante disso, a Rede Globo, para concorrer com os bispos eletrônicos (como Edir Macedo e R. R. Soares), passou a blindar Chico Xavier, tornando-o o "padroeiro" informal das Organizações Globo.
E isso vale até hoje, com a Globo tendo no "médium" seu protegido.
E aí vemos o que ocorre hoje, com o Espiritismo brasileiro preso no igrejismo de Chico Xavier.
Um Espiritismo roustanguista, ultraconservador, pregador da Teologia do Sofrimento, produtor de obras fake etc.
E aí chega a data-limite e a prestação de contas que Chico Xavier alegava se impor à humanidade na Terra pegará o próprio movimento espírita e mesmo o "médium", ainda que postumamente, desprevenidos.
As contradições nunca se resolvem e não se pode mais apelar para as mesmas "soluções" de 1975.
Não há mais como os "kardecistas autênticos" virarem "mais kardecistas" e "mais autênticos", repetindo a mesma promessa de recuperar as bases doutrinárias, pois depois se cai em tentação no igrejismo mais medieval.
Hoje o Brasil se encontra em situação frágil e sob alto risco de ser governado por um fascista, justamente a partir de 2019.
Diante disso, o movimento espírita irá expor sua sordidez e suas irregularidades que se amontoaram feito entulho acumulado desde 1884.
A pele de cordeiro não consegue mais caber no corpo do lobo como antes.
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