Espiritismo, falsa modéstia e mania de triunfalismo
Chico Xavier nunca foi de frases bonitas, do contrário que seus deslumbrados seguidores pensam.
Pelo contrário. Observando bem essas frases, elas nunca passaram de um amontoado de trocadilhos baratos, mensagens banais de mero moralismo religioso.
Há indícios de que várias dessas frases foram copiadas de livros de autoajuda.
Sem falar do próprio mito de Chico Xavier, reinventado pela Rede Globo nos mesmos moldes do que Malcolm Muggeridge, jornalista católico inglês, fez em prol de Madre Teresa de Calcutá.
Madre Teresa, depois denunciada por maus tratos, era também uma artífice em frases de efeito, que fazem a festa da pseudofilosofia das redes sociais.
As frases de Madre Teresa são mais politicamente corretas e conseguem enganar muita gente que acaba acreditando que ela é "ativista social".
Já Chico Xavier não consegue enganar. Suas frases são sem graça, um tanto rasteiras, seguindo apenas o processo de oposição de ideias, como "silêncio X voz", "sofrimento X alegria", "fraqueza X força".
A humanidade sobrevive naturalmente sem essas frases, tão tolas e supérfluas.
Um exemplo mostra o quanto o movimento espírita, a partir de seu astro maior, vive de falsa modéstia e mania de triunfalismo.
Vejamos então o que diz Chico Xavier nessas frases:
"Disse certa vez que nunca ia cair, a pessoa me olhou admirado chamando-me orgulhoso, como diz: 'nunca vou cair'... Respondi: "Não posso cair, porque nunca me levantei".
Estas frases, supostamente, evocam a aparente humildade de "não se levantar contra outras pessoas".
Grande engano. Tanto que as frases apresentam um sentido vago e dão ao sentido do verbo "levantar" um duplo sentido.
Essa frase representa uma falsa modéstia de Chico Xavier, e certamente comprova que ele era orgulhoso, sim.
Primeiro: ele vem com a primeira ideia: "Não vou cair", que sugere a mania do triunfalismo, como se o "médium" dissesse que nunca iria sofrer uma decadência.
Ao ver a reação do outro, Chico Xavier então vem com a seguinte desculpa: "Não posso cair, porque nunca me levantei".
Isso pode ser interpretado, por outro lado, como o fato de que Chico nunca caiu na real. "Levantar" tem o sentido metafórico de cair na real e sair do "adormecimento" das ilusões.
Outro sentido pode ser também a ilusão da infalibilidade: "Não posso cair, porque nunca me levantei", o que poderia a frase, sem prejuízo de sentido, ser substituída por "Nunca me levantei, porque não posso cair".
Chico Xavier foi o homem das contradições e contaminou o Espiritismo brasileiro com essa mania do disse-não-disse.
Recentemente, o movimento espírita está apavorado diante das acusações de terem apoiado o golpe político de 2016, exaltando a Operação Lava Jato, os manifestoches e os retrocessos do governo Michel Temer.
No calor do momento, defendiam a retomada conservadora da sociedade brasileira com a firmeza de que se deveria derrubar um governo tido como "corrupto" só porque tinha um projeto esquerdista.
Agora, tentam desmentir o que defendiam, apelando para tudo: "direito de defesa", "explicações cuidadosas" e até pela falsa autocrítica.
É uma vida mansa ser espírita no Brasil, porque se pode dizer uma coisa, com ares de certeza, e depois desmentir tudo isso, sem sofrer as consequências da contradição.
Os palestrantes e "médiuns" do Espiritismo brasileiro de raiz roustanguista, mas hoje "absolutamente fiel a Allan Kardec" apesar do igrejismo explícito, é que não conseguem se levantar, porque nunca caíram.
Vivem no pedestal do prestígio religioso, do acúmulo de premiações terrenas, da adoração extrema e fanática do público de seguidores e simpatizantes, da busca frenética pela posse da verdade.
Para essas pessoas, as questões de levantar e cair não têm importância, porque o orgulho consiste no medo de se levantar para a realidade e do medo de cair em desgraça por abusos e erros cometidos.
Encerramos esse texto dizendo uma piada sobre concurso público.
Sabe por que não se estuda "médium espírita" para concurso público?
Porque "médium espírita" não cai em prova.
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