Filme traz visão distorcida da vida de Allan Kardec



Espiritismo brasileiro é, na verdade, uma grande e engenhosa ficção midiática.

Reciclando conceitos católicos antiquados - descartados pelo próprio Catolicismo - e explorando dramalhões pessoais e filantropia de ficção novelesca, o Espiritismo vende a falsa imagem de doutrina despretensiosa e inteligente, que não se vê na prática.

Pelo contrário. O que vemos é muita pieguice, muito igrejismo, muitas visões incoerentes, e o enjoado culto à personalidade de supostos médiuns de valor bastante duvidoso, como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, e Divaldo Franco.

Como essa religião anda sofrendo uma decadência profunda, caindo de 2% para 1,8% segundo o Censo do IBGE, há um desespero do movimento espírita.

Ele tenta recuperar sua doutrina, que, evidentemente, rende muito dinheiro (do qual quase nada vai para os pobrezinhos, vale lembrar).

E aí vemos embustes como o documentário João de Deus - O Silêncio é uma Prece, sobre o suposto médium mas autêntico latifundiário, João Teixeira de Faria, o tal João de Deus que muitos pensavam ser amigo de Lula mas na verdade apoia o carrasco deste, o juiz Sérgio Moro.

Agora temos a adaptação cinematográfica da vida de Allan Kardec, o pedagogo francês que fundou o Espiritismo francês, que os deturpadores brasileiros fingem demonstrar fidelidade e apreço.

A produção é da Conspiração Filmes, e tem Leonardo Medeiros como o professor lionês, além do elenco contar com Dalton Vigh e Sandra Corveloni, entre outros.

Como a Conspiração Filmes é um dos dois grupos cinematográficos afinados com a mídia hegemônica que sempre vendeu um Espiritismo deturpado e distante do original, o que se espera é uma biografia "correta", porém cheia de distorções.

Ninguém vai esperar a biografia de um cientista que se empenhe em promover a coerência e a lógica dos ensinamentos e descobertas sobre a temática do espírito.

Em vez disso, o que se verá é a biografia de um pedagogo que descobriu fenômenos paranormais e dele criou uma religião.

A interpretação é, portanto, brasileira, e baseada na biografia escrita por Marcel Souto Maior, cheia de distorções igrejeiras.

Afinal, a abordagem parte daqueles que dão preferência a deturpadores como Chico Xavier e Divaldo Franco, cujas obras contrariam vergonhosamente a Codificação.

Além disso, como tantos filmes ditos espíritas feitos no Brasil, Kardec terá uma narrativa novelesca, bem ao gosto dos romances dessa doutrina e do mito de pretensos filantropos que fazem dos ditos médiuns símbolos de uma caricata bondade típica dos dramalhões televisivos.

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