Fenômeno Bolsonaro, apesar de evangélico, foi ajudado pelo Espiritismo brasileiro
JAIR BOLSONARO (SEGUNDO, DA ESQUERDA) E SEUS FILHOS.
Uma das maiores ameaças existentes no Brasil é a ascensão meteórica da extrema-direita, através do fenômeno de Jair Bolsonaro e seus filhos.
Considerado favorito em aparentes pesquisas eleitorais, Jair também tem a companhia de seus filhos como favoritos na corrida por cargos eletivos. Um deles, Flávio Bolsonaro, é tido como favorito para se tornar senador pelo Rio de Janeiro.
Sem um projeto político confiável e eficaz e marcado por posturas ao mesmo tempo desastrosas e raivosas relacionadas a preconceitos sociais e diversas gafes pessoais, mesmo assim Bolsonaro é endeusado por uma organizada milícia de seguidores nas redes sociais.
Em ações combinadas, esses seguidores - que chamam Jair de "mito" e alegam que "vieram de graça" a qualquer evento com a presença dele e/ou algum de seus filhos - fazem comentários agressivos que "afirmam" que Jair será presidente "de qualquer maneira".
Esses seguidores são minoritários, mas é uma minoria barulhenta que se multiplica artificialmente pela ação de "robôs" ou pela expansão de perfis fake, mesmo adotando pseudônimos e aparências pessoais, provavelmente usando fotos montadas ou colhidas de serviços como o Getty Images.
Apesar da maioria esmagadora desses membros ser evangélica, o Espiritismo brasileiro pode ser considerado responsável pela ascensão dos Bolsonaro.
O Espiritismo brasileiro trocou as lições originais de Allan Kardec pela combinação do legado do Catolicismo medieval com práticas ocultistas associadas aos feiticeiros e esotéricos da Idade Média. Apesar disso ser evidente, os espíritas brasileiros tentam desmentir tamanha traição.
Mesmo assim, essa traição bem ou mal mostra seus vestígios, como o igrejismo e misticismo extremados dos espíritas brasileiros, que se chocam com muitas recomendações e conselhos de Kardec.
Isso influi na construção de um ideário bastante conservador que, apesar da complacência das esquerdas - recentemente, um vlogueiro ingenuamente definiu Chico Xavier como "comunista" (o que seria refutado, com certeza, pelo próprio "médium" - , é mais do que explícito.
Através do próprio Chico Xavier, o Espiritismo brasileiro acolheu a Teologia do Sofrimento, que é o Catolicismo medieval levado às últimas consequências.
Isso está claro nas palavras que o "médium" usava, assumindo seu nome ou usando - à maneira dos criadores de fakes - os nomes de mortos como Humberto de Campos e Casimiro de Abreu.
Chico falava em "sofrer sem mostrar sofrimento", "aceitar o sofrimento em silêncio" e outras ideias, em palavras indiscutivelmente suas ou oficialmente atribuídas aos "espíritos" que dizia acolher.
A partir dessa visão, o Espiritismo brasileiro passou a apoiar, no âmbito sócio-político, projetos ideológicos bastante conservadores.
Segundo o historiador Jorge Ferreira, que escreveu uma biografia de João Goulart, a Marcha da Família Unida com Deus pela Democracia, em 1964, que defendeu o golpe militar, contou, entre várias correntes religiosas, com a participação de "kardecistas".
"Kardecismo" é o eufemismo usado para o Espiritismo brasileiro que traiu o próprio Kardec.
Publicações recentes, como o jornal Correio Espírita, descreveram as passeatas do "Fora, Dilma" como "início do despertar da humanidade", sugerindo a visão do movimento espírita de que "já chegou a esperada regeneração humana da Terra".
Com este raciocínio, membros do Movimento Brasil Livre eram associados a "crianças-índigos". Bolsonaristas e personalidades como Janaína Paschoal, o ex-ator Alexandre Frota e o "neutro" Luciano Huck eram considerados "crianças-cristais".
O juiz Sérgio Moro era divinizado como "representante da vontade divina de moralizar a humanidade".
Da mesma forma, o governo Michel Temer, pelo qual o movimento espírita pedia para fazer preces em seu favor visando "pacificar o Brasil e combater a crise", era visto como "salvação" para o país.
Projetos como as reformas trabalhista e previdenciária, a terceirização do mercado do trabalho e o fim da soberania nacional eram interpretados pelo movimento espírita como "oportunidades de desenvolver desapego, humildade e preparação para a verdadeira soberania da Pátria do Evangelho".
O movimento espírita estava identificado com o PSDB, partido com aspirações e visões de mundo semelhantes aos que personalidades como Chico Xavier, Divaldo Franco e João de Deus sempre tiveram.
Aécio Neves e Luciano Huck eram admiradores confessos de Chico Xavier, e este, em seu tempo, foi a síntese dos dois, em pretensões arrivistas e em suposta caridade.
Mas diante da falência do PSDB, consta-se que o movimento espírita está se aproximando, de maneira sutil e não oficialmente assumida, de Jair Bolsonaro, apesar da possibilidade de poder também sinalizar com Geraldo Alckmin, devoto da católica e neo-medieval Opus Dei.
A UM ANO DA "DATA-LIMITE", O BRASIL CORRE O RISCO DE SER GOVERNADO POR UM FASCISTA, JAIR BOLSONARO. E O MOVIMENTO ESPÍRITA, MORALISTA, NÃO ACHA ISSO RUIM. CHICO XAVIER, POR EXEMPLO, APOIOU A DITADURA MILITAR.
O PSDB é alvo de denúncias de corrupção trazidas pela mídia alternativa, mas também é alvo de desconfiança da extrema-direita, que reivindica Bolsonaro na Presidência da República.
Isso significa que o movimento espírita, extremamente conservador - queiram ou não queiram as esquerdas complacentes com Chico Xavier e companhia - , pode mesmo sinalizar apoio a Bolsonaro.
Chico Xavier, no programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, apoiou abertamente a ditadura militar (atenção, esquerdas!). Dizia para orarmos pelos militares (inclui-se até mesmo o macabro Brilhante Ustra), porque eles estariam "construindo o reino de amor do Brasil futuro".
O Espiritismo brasileiro tem uma moral punitivista, que de tão explícita torna-se escancarada, para desespero dos ingênuos esquerdistas que acham que Chico Xavier virá, em espírito, tirar Lula da cadeia, roubando a chave do carcereiro.
As razões que Chico Xavier usava para defender a ditadura não diferem das que, recentemente, um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, falou a respeito do coronel Brilhante Ustra, evocado por seu pai na votação da abertura do impeachment que tirou Dilma Rousseff em 2016.
As razões eram que "as torturas e mortes foram dadas para combater a ameaça comunista que crescia no Brasil". Chico Xavier demonstrava seu anti-comunismo ferrenho e convicto, que, para desespero das esquerdas, permaneceu inabalável.
Além disso, a tese de "reajustes espirituais" e "resgates coletivos" impulsionam o movimento espírita a defender, se lhe for preciso, até o holocausto, a exemplo do que ocorreu com o Catolicismo medieval, cujos princípios possuem identificação grande com o Espiritismo brasileiro.
O Espiritismo, apesar de sua imagem associada ao "amor" - o que não impede de estabelecer um "efeito yin-yang" com o ódio de Bolsonaro - , estimulou um imaginário social que apela para a ascensão do fascismo em terras brasileiras.
A pouco tempo de terminar a "data-limite" atribuída a Chico Xavier (julho e agosto de 2019, 50 anos após uma suposta profecia), o Brasil corre sério risco de ser governado por Jair Bolsonaro.
A histeria em torno do "mito", como Jair é conhecido, é feita nos mesmos redutos das redes sociais onde Chico Xavier é glorificado.
Se há fake news espalhando o falso humanismo do "mito", não nos esqueçamos dos fakes do além-túmulo que constatamos ter sido a "psicografia" literária de Chico Xavier, com livros que fogem dos estilos originais dos autores mortos alegados.
Tudo isso envolve uma baixa sintonia, uma sintonia sombria, afinal diz muito a sintonia de personalidades do Espiritismo brasileiro com juízes ultraconservadores, movimentos reacionários, políticos neoliberais ou fascistas.
Isso é fato, não é invencionice, pois até mesmo Divaldo Franco quase pôs sua reputação a perder quando demonstrou visões reacionárias típicas de um Silas Malafaia.
O conservadorismo galopante do Espiritismo brasileiro torna-se agora escancarado, se já era explícito nos tempos de Chico Xavier.
Não há como, mesmo se apoiando em supostos paradigmas de humildade e caridade, definir o Espiritismo que é feito no Brasil como uma religião progressista.
Não, não é uma religião progressista. E nem seus ditos médiuns são figuras modernas, esquerdistas ou progressistas. Eles sempre demonstram serem figuras reacionárias, ultraconservadoras.
Afinal, que "amigo de Lula" seria o "médium" João de Deus se ele fez elogios entusiasmados ao algoz do petista, o juiz Sérgio Moro?
De vez em quando, as esquerdas, admiráveis em muitos aspectos, parecem sonhar com contos de fadas.
Com isso, as esquerdas acabam se tornando vibratoriamente vulneráveis, e não é boa ideia chamar Chico Xavier de "comunista" num Brasil perto de eleger Jair Bolsonaro.
Atribuindo a Chico Xavier um esquerdismo que nunca existiu é, praticamente, assinar a sentença de morte das próprias esquerdas e praticamente uma forma de entregar o ouro a bandido, isto é, de entregar a faixa presidencial não a um progressista, mas a um fascista.
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