A trajetória arrivista de Chico Xavier - um resumo
Há dezesseis anos, morreu Francisco Cândido Xavier, aos 92 anos, figura oficialmente tida como pretensa unanimidade entre os adeptos do que se entende como humanismo, ecumenismo e filantropia.
A memória curta trata ele como um semi-deus, embora sob a máscara da falsa modéstia que o define como "homem simples", mas observando com maior atenção, a figura de Chico Xavier, como é conhecido, aponta detalhes sombrios muitíssimo graves.
Vamos dar apenas um apanhado geral na sua figura.
Ele começou causando muita confusão, o que não deveria fazê-lo merecer um milésimo sequer da adoração que adquiriu ao longo dos anos e na posteridade.
Seu primeiro trabalho, Parnaso de Além-Túmulo, deveria ser considerada como pioneiro das obras fake, sobretudo numa época em que se discutem as fake news.
O trabalho, tido como antologia de vários poemas e alguma prosa ditados por literatos mortos, soa como paródia e pastiche, por claramente não corresponder aos estilos originais dos autores alegados.
Depois se revelou que o próprio Chico Xavier "entregou" que o livro era bolado pela FEB e por seu conselho editorial, em carta divulgada por acidente pela seguidora do "médium", Suely Caldas Schubert.
O livro poético causou confusão no meio literário. Humberto de Campos escreveu um artigo irônico e reprovou a publicação do livro.
Chico Xavier não gostou e, aproveitando a morte posterior do autor maranhense, causou mais confusão, se apropriando indevidamente do nome dele.
Chico chegou a ser réu de um processo judicial em 1944, e a justiça seletiva garantiu a impunidade do esperto mineiro de papo mole e esperteza ignorada por muitos brasileiros.
O suposto médium brasileiro criou uma trajetória que não pode ser considerada um primor de integridade, coerência nem simplicidade.
Fingiu ter múltiplas habilidades mediúnicas como a psicofonia e os diversos estilos literários, de livros infantis a pretensas obras científicas. Apoiou fraudes de materialização e saiu-se impune, apesar da clara cumplicidade com farsantes como Otília Diogo.
Chico Xavier também era um moralista retrógrado e reacionário. Devoto da Teologia do Sofrimento, introduziu no Espiritismo brasileiro essa corrente do Catolicismo medieval.
Em muitos depoimentos e textos, mesmo quando usava nomes de mortos, Chico Xavier cometia a perversidade de defender a conformação com a desgraça humana, a ponto de pedir para o sofredor aguentar tudo sem queixumes e ficar orando EM SILÊNCIO.
Chico Xavier é erroneamente tido como progressista, pois era um moralista reacionário e defendeu a ditadura militar (quando ela estava na pior fase), no Pinga Fogo da TV Tupi em 1971.
Ele pedia para que os brasileiros orassem a favor dos generais que prendiam, torturavam e matavam porque eles estavam construindo um "reino de amor". Com o sangue de muitos inocentes?
Chico também fez juízos de valor severos. Acusou pobres cidadãos que foram ver um espetáculo circense em Niterói (interrompido pelo incêndio criminoso, no final de 1961) de terem sido romanos sanguinários.
Chico se valeu de seu prestígio para fazer essa acusação, cruel, impiedosa e sem fundamento teórico algum. E ainda botou a culpa no Humberto de Campos, que Chico se apropriou a ponto de escondê-lo sob o pseudônimo "Irmão X".
Chico também expôs de forma sensacionalista as tragédias familiares, quando ele fazia as suas sessões de "cartas mediúnicas", obras fake não raro baseadas em informações materialmente colhidas em fontes impressas ou depoimentos de familiares e amigos.
A trajetória de Chico Xavier se fortaleceu pela combinação de sensacionalismo, fascinação obsessiva e a fé cega herdada do Catolicismo.
Chico Xavier foi um arrivista que, à maneira dos picaretas Marcelo Nascimento, no Brasil, e Frank Abagnale Jr., nos EUA, procurou aprontar suas "travessuras", enganando muita gente e procurando sair impune de qualquer encrenca.
Xavier, para piorar, tornou-se até mais bem sucedido do que os outros dois. A ponto de ninguém poder desconfiar de sua figura.
Xavier combinava, numa só pessoa, a malandragem de Aécio Neves e o falso ativismo humanitário de Luciano Huck. Detalhe: ambos são admiradores assumidos do "médium" e o visitaram no fim da vida.
Chico Xavier levou às últimas consequências a deturpação que o francês Jean-Baptiste Roustaing havia feito da literatura espírita original.
Pior: o "médium" vende, oficialmente, a falsa imagem de discípulo brasileiro de Allan Kardec.
O mais grave é que Chico Xavier mantém intata sua reputação a ponto de desencorajar investigações mais severas contra sua pessoa, cuja trajetória é comprovadamente irregular, confusa e cheia de gravíssimos erros, para não dizer crimes (como o de charlatanismo e falsidade ideológica).
Nunca alguém foi tão beneficiado pela impunidade quanto Chico Xavier. Um sujeito que não merecia um pingo sequer de respeito nem de admiração, pelo tanto que faz contra o Espiritismo original e contra a sociedade que se deixou levar pelo seu moralismo retrógrado e falso humanismo.
Ainda haverá alguém que tomará coragem e investigará a sério o lado sombrio dessa lamentável figura.
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