Por que é impossível separar Chico Xavier de Jair Bolsonaro



É necessário compreender que a realidade em que vivemos nem sempre mostra aspectos agradáveis.

Mesmo na religião, onde a liberdade de fé permite fantasias das mais escalafobéticas, não nos autoriza a fazer prevalecer fantasias aberrantes acima de toda revelação realista.

Se os brasileiros ainda preferem ser obscurantistas em pleno Século XXI, mandamos nossos pêsames, pois eles acabam surfando no fenômeno preocupante da pós-verdade.

E isso se dá mesmo em brasileiros considerados progressistas, mas que contém dentro de si algum resíduo preocupantemente conservador ou mesmo reacionário.

O anti-intelectualismo reinante no Brasil faz com que as pessoas, em algum momento, acabem manifestando repúdio à verdade e a lógica, presas na zona de conforto de suas convicções e fantasias.

Daí quase ninguém aceitar as associações, bastante orgânicas, entre o presidente Jair Bolsonaro e o "médium" Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.

Ambos são indissociáveis, porque são fruto de um mesmo contexto social.

Apenas um detalhe separa Jair Bolsonaro e Chico Xavier: o segundo não aprovava de forma alguma atos violentos. E só.

De resto, os dois são como gêmeos siameses, que se ascenderam de forma parecida e foram favorecidos pelas conveniências do momento.

Para quem acha que vincular Chico Xavier a Jair Bolsonaro é calúnia, é bom jair se acostumando porque as provas e os argumentos são bastante realistas e nada têm de ofensivos.

1) ASCENSÃO PARECIDA

Chico Xavier se ascendeu com um controverso e irregular livro "mediúnico" atribuído a diversos autores literários. As irregularidades evidentes causaram indignação nos meios literários.

Um dos escritores bastante populares da época (1932), Humberto de Campos, fez resenha reprovando a prática de evocar autores mortos. Chico não teria gostado e, aproveitando da posterior morte do autor maranhense, se apropriou de seu nome para supostas "psicografias", também irregulares.

Chico Xavier virou réu num processo judicial, mas foi beneficiado pela impunidade garantida pela seletividade da Justiça. Só teve que substituir o nome do autor maranhense pelo codinome "Irmão X".

Jair Bolsonaro se ascendeu com um controverso atentado terrorista, que seria um protesto contra baixos salários de tenentes e capitães do Exército. O ato causou indignação nos meios militares, inclusive nos oficiais de altas patentes.

Uma reportagem da época revelou os detalhes do plano terrorista, em 1988. Jair Bolsonaro não gostou e, ao encontrar a repórter, fez o famoso gesto de tiro com uma das mãos, dando a crer que a estava ameaçando de morte.

Preso, Jair Bolsonaro virou réu no caso. Foi solto e sofreu apenas punições disciplinares. Sua única condição foi obter aposentadoria precoce. Bolsonaro era tenente e se aposentou promovido a capitão.

2) APOLOGIA AO SOFRIMENTO

De perfis bastante conservadores, Jair Bolsonaro e Chico Xavier estão associados a apologias ao sofrimento humano, de formas aparentemente diferentes, porém complementares.

Jair defende torturadores e é famoso por elogiar um deles, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que usava métodos cruéis. Jair também elogia a ditadura militar e, recentemente, declarou que o falecido ditador paraguaio, Alfredo Stroessner, era um "grande estadista".

Chico apoia a Teologia do Sofrimento e sempre apelou para os sofredores se conformarem com suas desgraças em silêncio, se limitando a orar quietos em seu canto e ter fé em Deus, enquanto têm que suportar seus infortúnios até não se sabe quando, com servidão e submissão até a seus algozes.

As ideias são complementares e fariam de Chico Xavier o religioso ideal da ditadura militar - que aliás Chico também apoiou, no Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971 - , pois seus apelos são entendidos como meio de tornar os presos políticos mais dóceis diante da repressão militar.

3) IDEIAS RETRÓGRADAS

Jair Bolsonaro possui um currículo claramente marcado por posições machistas, racistas e pelo conservadorismo social e político, sinalizando apoio a pautas conservadoras e anti-trabalhistas.

Chico Xavier sempre foi um conservador convicto e explícito, embora sua aura religiosa o faça erroneamente ser visto como "progressista", sem qualquer motivo lógico que explicasse isso.

Chico Xavier apresentou indícios de racismo. Definiu negros e índios como "selvagens" em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Seu machismo foi notório em O Consolador: defendeu que o "verdadeiro feminismo" deve ser exercido "dentro do lar e da prece, e não por uma ação contraproducente fora dele (de casa)".

Chico Xavier também defendeu a cura gay: pedia "total respeito aos homossexuais", mas atribuía ao homossexualismo uma "confusão mental" da espécie humana na reencarnação.

Chico Xavier também defendeu o trabalho exaustivo, baseado na tese da "missão divina" da servidão e submissão humanas.

Avesso ao debate e ao questionamento profundo, definidos como "tóxico do intelectualismo", Chico Xavier seria um dos entusiastas da Escola Sem Partido, defendendo seu propósito limitado a ensinar leitura, escrita, trabalhos manuais e religiosidade cristã.

4) ANTI-ESQUERDISMO CONVICTO

Poucos conseguem imaginar Chico Xavier como um direitista irredutível, tal qual é Jair, mas existem provas consistentes e contundentes a respeito disso.

Uma delas é a entrevista ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971, na qual Chico disparou comentários agressivos aos movimentos sindicais (camponeses, operários e sem-teto).

Chico Xavier defendeu a ditadura de tal forma que ele mesmo definiu o AI-5 e as torturas como "necessários" para combater o radicalismo dos opositores do governo militar.

Chico Xavier apoiou Fernando Collor, em 1989, na campanha eleitoral contra o petista Lula.

Anti-petista convicto, no fim da vida Chico sinalizava apoio ao PSDB, embora preferisse a candidatura de Aécio Neves do que a de José Serra.

O suposto "esquerdismo" atribuído a Chico Xavier por parte de seus partidários não passa de uma falácia sem pé nem cabeça, motivada por ideias abstratas e alegações meramente emocionais, que nunca encontram respaldo na realidade dos fatos.

5) LEMAS IDÊNTICOS

Os lemas de Chico Xavier e Jair Bolsonaro são muito idênticos.

Chico Xavier não previu a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, mas teria apoiado a candidatura dele, se estivesse vivo, apenas reprovando os "excessos dos seus seguidores".

O "inimaginável" apoio de Chico Xavier a Bolsonaro se justificaria pelo fato de que vários nomes de similar apelo popular apoiaram a campanha do candidato do PSL, em 2018.

Além disso, a primeira-dama Michelle Bolsonaro sinaliza defender paradigmas de "caridade" associados ao "médium espírita", apesar dela ser evangélica.

Quanto aos lemas, a semelhança entre "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos" é surpreendente até na carga semântica e na relação de sentido entre as expressões.

Além disso, no ano da "data-limite" de Chico Xavier, 2019, Jair Bolsonaro foi o escolhido para governar o Brasil, apesar de todos os apelos para que isso nunca acontecesse.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Chico Xavier abençoou João de Deus sem pressentir seu perigo

Espiritismo brasileiro passou a defender Jair Bolsonaro?

Missivista reclama do moralismo retrógrado dos pais e da sociedade