Com "homem novo", Espiritismo brasileiro indica apoio ao projeto bolsonarista



A enigmática figura da chamada sobre o "Homem Novo", na capa da edição de janeiro de 2019 do "Correio Espírita", realmente foi retirada de banco de dados da Internet.

Entendida de forma controversa como a de um sósia do Alexandre Frota, um pouco mais pálido e careca, o anônimo figurão da ilustração, que aparece se "esfarelando como se renovasse seu corpo", parece um modelo europeu.

No entanto, notam-se traços germânicos nesse rosto, em que pesem também traços comuns ao ex-ator e hoje deputado federal pelo PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.



Mas também chama a atenção a apropriação que o deturpado Espiritismo brasileiro faz de uma frase do espírita autêntico José Herculano Pires: "Para construir um mundo novo, precisamos de um homem novo".

Diante do ultraconservadorismo expresso pelo Espiritismo brasileiro, que se baseia na "aceitação do sofrimento extremo, em silêncio e sem queixumes", como uma dor intensa na qual não se pode gemer, podemos estabelecer paralelos que soam desagradáveis a muitos.

Trata-se do paralelo do "Homem Novo" do Espiritismo brasileiro, junto ao "Novo Adão" do Catolicismo medieval e do "Super-Homem" dos movimentos fascistas.

Em todos os casos, existe uma apropriação do conceito de um "novo homem" trazido de maneira bem intencionada.

No caso do Catolicismo medieval, usa-se o conceito de Paulo de Tarso, o apóstolo tardio e póstumo de Jesus de Nazaré, para que se desenhe um conceito conservador de "novo homem", mais submisso à ordem político-religiosa que se instalava.

No caso dos movimentos fascistas, a apropriação vem de Friedrich Nietszche, filósofo alemão contemporâneo, que havia imaginado um "Super-Homem" dotado de coragem e autoridade e que daria lugar ao velho homem apático e cético da vida.

Foi a partir do "Super-Homem" nietszcheano que se concebeu o tirano a governar um país de tendência fascista, uma realidade que, aliás, foi iniciada no Brasil.

Mas nada impede que o Super-Homem seja também um ídolo religioso, como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, com as devidas diferenças de contexto.



Imaginemos então o "Novo Homem" produzido pelo discurso medieval e fascista, combinado com o moralismo retrógrado e ultraconservador do Espiritismo brasileiro.

O Espiritismo brasileiro, além disso, deixou no "Correio Espírita" uma senha para suas pautas na edição de janeiro de 2019.

Essa senha é o apoio sutil, embora não assumido no discurso, do apoio do "movimento espírita" ao governo de Jair Bolsonaro, que seria apoiado até por Chico Xavier, se estivesse vivo.

Muitos ainda se assustam com essa hipótese de Chico Xavier apoiar Jair Bolsonaro, achando que o "médium" apoiaria o rival Fernando Haddad, porque ele é um educador.

Grande falácia. Ideias soltas e coincidências superficiais "esquerdizam" Chico Xavier, enquanto seu direitismo é comprovado por provas consistentes vindas até das palavras do "médium".

O "Novo Homem" do Espiritismo brasileiro é um sujeito submisso, conservador e moralista, apenas dotado de uma certa gentileza na conduta, para não parecer explicitamente autoritário nem cruel.

É um homem voltado mais à beatitude religiosa e que está pouco ligando se sua vida está ruim, porque há a "garantia" de bonanças no "mundo maior", que a Ciência Espírita original definiu como "ainda um mistério" (a vida espiritual existe, mas faltam indícios de como ela realmente é).

Em certos casos, o "Homem Novo" é tirânico e autoritário. Em outros, submisso e resignado.

Desse modo, são dois lados de uma mesma moeda ultraconservadora.

E vendo como o escritor Olavo de Carvalho - que, como ideólogo, é uma espécie de versão hardcore de Chico Xavier - veio recentemente manifestar que o país precisa "de gente como Alexandre Frota", em mensagem publicada no Twitter, chegamos a uma conclusão.

Realmente o "Novo Homem" da ilustração do "Correio Espírita" não é muito diferente da do ex-ator pornô que hoje respalda o governo de Jair Bolsonaro.

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