Por que a imprensa quase não noticia mortes de assassinos?



Recebemos uma carta de Maicon Carlos, de São Paulo, que indaga sobre a omissão da imprensa em noticiar a tragédia e a morte de quem tira a vida de outrem:

"Prezados amigos,

Fico vendo a lista de mortos que é publicada pela grande imprensa e, depois, vai, em parte, para o Wikipedia, e temos a grande ilusão: só morre gente legal no Brasil. Embora que as pessoas que cometam crimes, como os assassinos, sejam as que mais sofrem pressões emocionais, o que lhes poderia abalar seriamente a saúde, não há uma notícia sobre se eles sofrem uma doença grave ou morrem.

A imprensa noticia cabos militares que morrem de mal súbito durante treinos, de gandulas de futebol de várzea que sofrem infarto, etc. Mas não é capaz de noticiar feminicidas ricos, cujos crimes pararam o Brasil, sofrendo câncer, infarto ou já mortos e com velórios ocorrendo. Pistoleiros, jagunços, capangas e membros de grupo de extermínio, nem pensar, embora esses morram muito, dificilmente vivendo mais do que 55 anos de idade.

O que será isso? Antes você via um Michel Frank ou um Leopoldo Heitor falecendo e a mídia, ou ao menos o Wikipedia, registravam. Hoje, não há nem sombra. Temos dois feminicidas em idade avançada e com histórico de danos à saúde, como Doca Street e Pimenta Neves, e os dois parecem que não morrem jamais. Eles são "deuses" e só entrarão em "ascensão ao Senhor"?

Sei que escrevo para uma página que fala que a pessoa nunca morre, que o espírito só desencarna. Mas falamos em morte como a extinção do corpo físico e das identidades materiais relacionadas. Falo da morte ou da doença grave ou morte de um assassino, no sentido de que ele encerrará uma encarnação e irá extinguir suas identidades materiais, como nome, posição social etc.

Ninguém alerta para a tragédia que os próprios assassinos atraem para si e contra si. Eles envelhecem rapidamente, vivem tensões constantes, sobressaltos repentinos, têm um pano de fundo para infarto, câncer, acidente de trânsito ou até serem mortos por outros assassinos, num contexto em que haters tomam conta das redes sociais.

É engraçado que a sociedade moralista e conservadora que temos fala que mencionar doença grave e morte de um assassino é demonstração de ódio e vingança. Não, não é. E logo essa sociedade que despeja um ódio cego a um membro do Partido dos Trabalhadores, um Lula, diante do qual espumam raiva descomunal.

Odiar Lula pode, mas se preocupar com a tragédia de Doca e Pimenta, um presságio que pode vir até de seus amigos mais queridos, não? As pessoas que cometeram algum homicídio na vida sofrem pressões emocionais e sociais diversas, e isso é a realidade, ninguém tira a vida do outro, um ato que causa estragos sociais irreparáveis, e volta para casa tranquilo como se tivesse tirado a sorte grande.

Atos de ódio puxam ódio. Claro que não vamos odiar os assassinos, mas alertar que eles, ao tirarem a vida de outras pessoas, chamam para si efeitos não menos trágicos. O estranho apego da sociedade a homicidas diversos é muito estranho e a imprensa, que deveria informar sobre as "autotragédias" dos assassinos, prefere esconder, e houve até fake news dizendo que feminicidas velhos viraram youtubers.

A informação de que tirar a vida do outro produz tragédia nos próprios assassinos é uma prestação de serviço que pode prevenir as pessoas que agem por impulso do ódio cego e vingativo que, ao cometerem um ato homicida, trazem para si todo um rol de conflitos de extrema gravidade que lhes podem abreviar a vida por questões de doenças motivadas pela forte tensão ou acidentes causados pela imprudência e pelo nervosismo.

Temos que mostrar que os obituários não podem ser somente de pessoas legais. O obituário do mês de brasileiros famosos não pode ser sempre uma lista do Prêmio Nobel, tendo só humanista, cientista, artista ou intelectual. Homicidas morrem, e muito, e não raro prematuramente, e é preciso noticiar as tragédias de quem tira a vida do outro e que não podem estar associados a uma ilusão de doce vida e suposta invulnerabilidade. A vida é dura até (e sobretudo) para os assassinos".

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