Neopentecostais já apoiaram esquerdistas. O Espiritismo brasileiro, nunca


A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS, DE EDIR MACEDO, JÁ APOIOU AS ESQUERDAS.

É insólita a facilidade com que as esquerdas passam a questionar e repudiar as seitas evangélicas neopentecostais, enquanto têm dificuldade de fazer o mesmo com o Espiritismo igrejista brasileiro.

Entende-se como neopentecostais seitas como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Assembleia de Deus, entre outras.

Num dado período, essas seitas apoiaram os governos de Lula e Dilma Rousseff. A Record TV acolheu vários jornalistas que, vindos da Rede Globo, tornaram-se progressistas.

É verdade que o apoio não era incondicional, tinha interesses estratégicos, mas de certa forma foi um apoio.

O "movimento espírita" NUNCA apoiou as esquerdas. Quando muito, estabelecia apenas relações cordiais, que não podem ser confundidas com apreço nem com cumplicidade.

A pauta dos neopentecostais é, sem dúvida alguma, ultraconservadora, contrária aos movimentos sociais de trabalhadores e de grupos identitários (como negros, mulheres e a comunidade LGBTT).

Mas quem pensa que o Espiritismo brasileiro é um paraíso de progressismo, vai cair em profunda e traumática decepção.

Sua pauta moralista é tão ultraconservadora quanto os neopentecostais, a diferença é a maneira como essa agenda é trabalhada, quase sempre com palavras e apelos mais educados.

O Espiritismo brasileiro tem como diferencial esconder um conteúdo tão ultraconservador quanto a Igreja Universal usando uma atraente embalagem pretensamente progressista.

Mas não é difícil ver o quanto figuras como o "médium" Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, refletem um ultraconservadorismo com apetite bolsonarista.

Num dos raros momentos em que um dito espírita explode com um reacionarismo hidrófobo, Chico Xavier manifestou seu repúdio enérgico aos esquerdistas que, hoje, lhe manifestam ingênuo apreço, em doses preocupantemente fascinantes.

Foi no Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo, em julho de 1971. Chico Xavier falou com suas próprias palavras, para um público imenso e com a consciência de que tais palavras permaneceriam na posteridade e sobreviveriam em outros contextos.

Não há pensamento desejoso que argumentasse que Chico Xavier não era conservador. Qualquer argumento nesse sentido, por mais agradável e por mais apoios que atraísse, se desfaz feito castelo de areia atingido pelo mar.

Chico Xavier defendia que os sofredores aguentassem as desgraças em silêncio. Só esse princípio, presente em toda sua obra, reflete um ultraconservadorismo convicto e irredutível.

Ele apresentou posturas homofóbicas, machistas e até racistas em seus livros. Como tais posturas soam incômodas, Chico foi logo se apressando em botar tais posturas reacionárias sob o crédito de pessoas mortas, para não ser responsabilizado por tais posições.

Além do mais, Chico Xavier não era de dar bola ao trabalho opressivo e sobrecarregado nem na redução da remuneração desse trabalho.

Chico Xavier seria um dos maiores apoiadores da reforma trabalhista, da terceirização, do fim do Ministério do Trabalho, da Escola Sem Partido e outras pautas bolsonaristas.

Isso é certo. É só ler os livros, ver os depoimentos e reconhecer que até as raízes sociais do "médium" são claramente ultraconservadoras.

O ultraconservadorismo de Chico Xavier é sustentado por argumentos lógicos e provas consistentes.

Já seu pretenso progressismo é fragilmente sustentado por argumentos fantasiosos, pelo pensamento desejoso, pelo opinionismo viciado e por ideias soltas e sem pé nem cabeça.

Não se pode ver um "médium" como se deseja, como as fantasias maravilhadas concebem.

As esquerdas se comportam como os nerds da escola que acham que as cheerleaders que os desprezam estão apaixonadas por eles.

Se uma cheerleader briga eventualmente com seu atlético namorado, não significa que ela passou a se apaixonar por um nerd.

Da mesma forma, se o "movimento espírita" faz eventuais críticas aos evangélicos neopentecostais, isso não quer dizer que os espíritas brasileiros passaram a gostar dos esquerdistas.

Se os neopentecostais passaram a repudiar as esquerdas e elas se decepcionaram e passaram a reagir também com o mesmo repúdio, seria melhor que os esquerdistas devessem também repudiar a figura de Chico Xavier, pelas ideias ultraconservadoras que sempre defendeu.

Chega de tanta fantasia. Sonhar demais pode fazer alguém cair das nuvens e levar um tombo mortal no chão.

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