Espiritismo, no Brasil, reduziu-se a uma religião de adoração


"MEDIUNIDADE" DE CHICO XAVIER - MERO PRETEXTO PARA PROMOVER ADORAÇÃO E FANATISMO.

Vergonhosa sina atingiu o Espiritismo brasileiro, optando pela catolicização que, nos últimos 45 anos, tentou colocar debaixo do tapete, praticando a olhos vistos, mas de maneira não-assumida.

Paga o preço pelas posturas retrógradas que vieram no bojo dessa catolicização de moldes medievais, herdada do jesuitismo colonial que prevaleceu no Brasil.

O Espiritismo brasileiro desfigurou, de maneira deplorável, o legado kardeciano original, do qual só se aproveitou a fachada e algumas medidas feitas para manter as aparências.

Mas hoje o Espiritismo brasileiro sofre uma verdadeira erosão doutrinária.

Virou, tão somente, uma religião de adoração na qual a pretensa mediunidade e a suposta filantropia só servem como ganchos para promover idolatria aos "médiuns".

Os "médiuns" perderam o caráter intermediário e quase anônimo para se tornarem os "sacerdotes" desse Espiritismo catolicizado e vaticanizado até a medula.

O Espiritismo brasileiro aproveitou o velho espólio da Igreja Católica. Enquanto os católicos progrediam, mesmo nos limites de suas crenças, o Espiritismo brasileiro absorvia o que o Catolicismo havia descartado de velho e obsoleto.

Assim, temos uma coisa que só ocorre no Brasil: supostas "novidades" que não passam de repaginação do "velho" e do "decadente", para não dizer a "reciclagem do obsoleto".

O Espiritismo brasileiro é futurista, moderno e racional só na embalagem. Seu conteúdo é dramaticamente o extremo oposto: medieval, retrógrado e mistificador.

A adoração aos "médiuns" segue paradigmas que Moisés, Jesus de Nazaré e Allan Kardec haviam rejeitado energicamente, em seus tempos.

A idolatria aos níveis dos velocinos de ouro, que irritava Moisés, se reserva hoje aos "médiuns", mesmo quando disfarçada de "admiração saudável a pessoas simples".

Jesus reprovava não só os vendilhões do templo - hoje equiparados aos evangélicos neopentecostais e seus "dízimos" - , mas também os escribas e falsos sábios personificados, hoje, pelos "médiuns".

Kardec, então, nem se fala: aspectos negativos descritos pela literatura espírita original são vistos nas obras de Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco e companhia.

Chico Xavier, então, o mais idolatrado, surgiu como um arrivista envolvido com literatura fake, mas que as conveniências e o jogo de interesses o fizeram um pretenso semi-deus.

Pior: mesmo quando algumas correntes chiquistas tentam definir Chico Xavier como "imperfeito", "humilde" e "simples", promovem idolatria às avessas, através do recurso da falsa modéstia.

Isso não elimina os vícios da adoração, antes as intensificando por esse verniz de simplicidade.

As atividades "espíritas" se tornaram profundamente estéreis.

As psicografias, de valor duvidoso e com irregularidades quase sempre evidentes (quando não são, elas soam pastiches ou paródias bem-construídos), só servem para propaganda religiosa e para produzir sensacionalismo e "masturbação com os olhos" (comoção como um fim em si mesma).

As filantropias, como escudo para blindar os "médiuns" e para também promover idolatria através desse simulacro de "dedicação ao próximo", com ações paliativas de baixos resultados sociais.

São apenas artifícios para promover adoração ou para forçar alguma blindagem.

A suposta psicografia serve até como "carteirada": não se pode criticar um "médium" porque ele, em tese, "fala com os mortos", inclusive citando nomes ilustres, prática reprovada por Kardec.

A suposta filantropia também serve como "carteirada": não se pode criticar os erros dos "médiuns", porque eles são, em teoria, responsáveis pelo "pão dos pobres".

Sabemos que nos dois casos isso é papo furado. As obras ditas mediúnicas soam fake e não há pretexto algum de indicar a possibilidade de tais tarefas.

Ainda mais que, como muita obra fake foi produzida, os espíritos do além-túmulo se afastaram definitivamente do contato mediúnico, só se servindo dele espíritos brincalhões que não chegam a ditar mensagens, mas a sugerir que "médiuns" inventem as mesmas da própria mente.

A suposta caridade não ajudou o Brasil, pois se ajudasse o nosso país estaria em situação melhor e não sob a ameaça da catástrofe política prometida por Jair Bolsonaro.

Tudo é feito só para promover adoração, idolatria, beatitude.

Enquanto isso, as atividades espíritas se paralizam. O legado kardeciano é deixado de lado. As promessas de "recuperação das bases doutrinárias" viram conversa da boca para fora, feita para boi dormir.

Montagens tendenciosas que mesclam cenários cósmicos com retratos de Kardec e Jesus misturados com Chico Xavier e Emmanuel se produzem em série.

Mas tudo isso é farsa, oportunismo, jogo de aparências.

O pedagogo francês desapareceu, os ensinamentos espíritas originais foram esquecidos.

O que se vê, no Espiritismo brasileiro, é a vaticanização que é praticada até pelos dirigentes e palestrantes que se dizem "contra a vaticanização".

Muitos deles, além dos próprios "médiuns", tentam dizer que "reprovam a deturpação", só para enganar as pessoas, mas eles são os primeiros a praticar essa deturpação, de forma convicta e extrema.

E assim o Espiritismo brasileiro se perde em devaneios igrejistas, materialistas, dogmáticos, totêmicos etc. Em prejuízo ao trabalho árduo deixado pelo pedagogo de Lyon.

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