Espiritismo brasileiro passou a defender Jair Bolsonaro?

CHICO XAVIER E JAIR BOLSONARO - ALMAS GÊMEAS?

O Espiritismo brasileiro sempre foi conservador, embora vendesse uma falsa imagem de progressista, por estar oficialmente associado ao Espiritismo original francês.

A falta de esclarecimento, da maioria das pessoas, quanto a tantas e tantas coisas faz com que muita gente confunda velho e novo, progressista e antiquado, e compreendesse a realidade através do pensamento desejoso, e não do entendimento objetivo dos fatos.

Nos últimos anos, o Espiritismo brasileiro, que defendeu o golpe civil-militar de 1964 e, recentemente, defendeu o golpe político-jurídico de 2016 - mais tarde vamos detalhar esse assunto - , demonstrou-se cada vez mais reacionário.

Mais preocupado em defender o sofrimento dos outros, implorando aceitação, conformação e julgando inútil o arrependimento para evitar desgraças, o Espiritismo brasileiro se afinou, tanto ou mais que as seitas evangélicas pentecostais, com os valores moralistas mais retrógrados.

Até pouco tempo atrás, o Espiritismo brasileiro, que apoiou até o fim a ditadura militar, passou a se identificar, politicamente, com o PSDB.

A identificação é tal que os ditos "médiuns" gozavam de uma imunidade comparável a dos tucanos (como são conhecidos os políticos do PSDB), aos quais o "destino" permitia que fizessem o que quisessem, sem precisar assumir as consequências negativas de seus atos.

Os tucanos poderiam se envolver em esquemas de propinas e superfaturamento, que a Justiça não os enquadrava em inquéritos e muito menos em qualquer condenação severa.

Os "médiuns" poderiam usurpar os mortos que quisessem, mesmo sob o preço de criar mensagens inverossímeis de tão falsas, que suas obras circulariam livremente nas livrarias e seriam aceitas confortavelmente pelos meios literários, jurídicos e acadêmicos.

EMMANUEL SERIA BOLSONARISTA? A AUSTERIDADE EXTREMA DO ESPÍRITO JESUÍTA CONDIZ COM A AGRESSIVIDADE DOS BOLSONARISTAS (NA FOTO, ARTHUR DO VAL, DO BLOG "MAMÃE FALEI", AO LADO DE EDUARDO BOLSONARO (DE AZUL).

Ultimamente, no entanto, quando a pressão da Internet passou a criar um desgaste nos tucanos, o movimento espírita parece querer rumar para a extrema-direita, "abrindo as energias" para a ascensão do político Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Jair é favorito para a presidência da República em dois Estados, São Paulo e Rio Grande do Sul, e lidera as pesquisas na simulação de eleições sem a candidatura de Lula.

Às vésperas da chamada "data-limite" supostamente prevista por Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, o Brasil tem um forte risco de ser governado pela extrema-direita.

Já houve, aliás, internautas nas redes sociais compartilhando a mensagem de um deles de que Chico "teria previsto" a ascensão de Jair Bolsonaro.

Mas até que ponto soa, para muitos, inconcebível essa postura bolsonarista do movimento espírita, em se tratando de uma religião tida como associada aos valores morais mais sublimes?

DIVALDO FRANCO, QUE EXALTOU A OPERAÇÃO LAVA JATO E AS PASSEATAS DO "FORA DILMA", FALAVA EM CRIANÇAS-ÍNDIGO E CRIANÇAS-CRISTAL. SERÃO AS CRIANÇAS-ÍNDIGO O MOVIMENTO BRASIL LIVRE (DE CAMISETAS) E AS CRISTAIS, OS FILHOS DE JAIR BOLSONARO (CARLOS, FLÁVIO E EDUARDO, DE TERNO AO LADO DO PAI)?

O problema é que o Espiritismo brasileiro, que nasceu de uma gravíssima traição aos ensinamentos originais de Allan Kardec, desenvolveu uma imagem muito glamurizada nas últimas quatro décadas.

É uma imagem adocicada, idealizada, muito atraente e adorável, porém falsa.

O Espiritismo brasileiro, por ser, na verdade, o Catolicismo medieval redivivo, sempre se apoiou num moralismo extremamente severo e inflexível.

Chico Xavier, que a mídia oligárquica (Rede Tupi e, depois, Rede Globo) desenvolveu, junto à FEB, uma imagem idealizada de "símbolo da caridade" e "homem chamado Amor", propagava um moralismo extremamente rígido.

Ele dizia para os sofredores aguentarem as desgraças sem reclamar nem mostrar sofrimento para outrem, e, o que é pior, recomendava para que as orações fossem feitas em silêncio.

Em entrevista ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971, Chico Xavier pedia para o povo brasileiro apoiar a ditadura militar e orar em favor dos generais.

Segundo o "médium", os militares estavam construindo um "reino de amor" do Brasil futuro.

O problema é que a ditadura militar vivia sua pior fase, naquele ano de 1971, quando militantes da oposição eram mortos. Era época de vigência do monstruoso Ato Institucional Número 5, o AI-5, e da ação de chefes de tortura como Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury.

Naquele ano, nomes diversos como Carlos Lamarca e o deputado Rubens Paiva (pai do escritor Marcelo Rubens Paiva), haviam sido assassinados.

O mais irônico é que Chico Xavier alcançou uma falsa reputação de progressista, mesmo defendendo a ditadura militar enquanto até mesmo uma parcela da direita passava a fazer oposição ao regime.

A imagem "progressista" do Espiritismo brasileiro se baseia na pretensa caridade, nas ações paliativas feitas ao povo pobre, que traziam um bom apelo publicitário.

Mas o Espiritismo brasileiro, mais próximo do Catolicismo medieval que foi introduzido no Brasil enquanto colônia portuguesa, sempre se valeu de uma moral ultraconservadora.

O vínculo medieval é confirmado quando Chico Xavier evocou o padre jesuíta Manuel da Nóbrega, renomeado Emmanuel, como um suposto ideólogo do Espiritismo brasileiro.

Nos últimos anos, o Espiritismo brasileiro sinalizou apoio aos retrocessos políticos em curso.

Apoiou as manifestações do "Fora Dilma", com a hoje ridicularizada imagem dos "manifestoches" vestidos de verde e amarelo, como se fossem "despertar político da juventude" e "início de uma nova era de Regeneração".

Apoiou as ações arbitrárias, porém tendenciosas, dos juízes e procuradores da Operação Lava Jato e outros agentes associados, como se fosse o "atendimento à intuição divina para combater os abusos políticos da sociedade brasileira".

Inserindo nesse contexto, a concepção de "crianças-índigo" e "crianças-cristal" que Divaldo Franco adaptou de místicos estadunidenses, na verdade, teria uma conotação bastante diferente.

Num contexto em que se atribui a Lava Jato como "justiça divina" e os movimentos "Fora Dilma" como "regeneração da humanidade", temos que, nessa abordagem, identificar o Movimento Brasil Livre e similares como "crianças-índigos".

Do mesmo modo, pessoas como Janaína Paschoal, o ex-ator Alexandre Frota e os três filhos de Jair Bolsonaro (Flávio, Eduardo e Carlos), como "crianças-cristais".

O reacionarismo tornou-se crescente do Espiritismo brasileiro, a ponto de retomar a cisão entre "místicos" e "científicos", depois da "política da boa vizinhança" do "kardecismo" desenvolvido nas últimas quatro décadas.

Daí que o Espiritismo brasileiro que, até pouco tempo atrás, sinalizava identificação maior com o PSDB - revelando que Chico Xavier, em seu tempo, fundia a astúcia de Aécio Neves com a pretensa filantropia de Luciano Huck, ambos seus admiradores confessos - , parece mudar de posição.

Sempre afeito à Teologia do Sofrimento, ao mesmo tempo reprovando o suicídio mas apelando para os sofredores aguentarem calados a pior desgraça, da qual não podem sair sem muita dificuldade, o Espiritismo brasileiro parece agora sinalizar um sutil apoio a Jair Bolsonaro.

Nada é assumido no discurso, até para não deixar vazar um "partidarismo ideológico" que iria queimar a reputação do movimento espírita e seus ídolos na sociedade.

Mas sabemos que o Espiritismo brasileiro, nos últimos anos, repudiou Dilma Rousseff, pediu para orarmos pelo impopular presidente Michel Temer, e agora, mediante a "urgência" do "combate à corrupção", o Espiritismo já admite a "solução drástica" de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro se encaixa no perfil autoritário que conhecemos do espírito Emmanuel. E também se encaixa em princípios como a Teologia do Sofrimento e a tese dos "resgates morais" do povo brasileiro.

Com base no que o movimento espírita publica, em valores morais, Bolsonaro seria visto por essa doutrina como um "purificador" que julgam necessário para fazer o Brasil entrar na condição de "Coração do Mundo" e "Pátria do Evangelho" (falaremos mais tarde desse assunto).

As desgraças humanas ou mesmo o holocausto podem ganhar sustentação pela moral do Espiritismo brasileiro, podendo ser legitimadas sob o pretexto de "resgates coletivos" das vítimas de tais tragédias.

O Espiritismo sinaliza um sutil apreço pelos algozes, que dependendo do contexto atuam como "justiceiros" do que a doutrina entende como "Lei de Causa e Efeito".

Os espíritas brasileiros, que acreditam que o suicídio e o aborto são "crime hediondos", no entanto tratam o homicídio como "crime culposo", no qual o autor desse crime "pagará, sim, pelo que fez", mas geralmente na velhice ou na próxima encarnação.

O homicida é visto como um "justiceiro moral", e a vítima é que seria a culpada, atribuindo-se a ela um "pagamento tardio" de algum suposto delito da encarnação anterior.

Essa alegação de encarnação anterior é feita por um mero juízo de valor, grosseiramente atribuindo uma dívida de encarnação passada pelas situações de infortúnio e azar vividas na encarnação presente, ou então tragédias prematuras que interrompem projetos de vida em curso.

Daí que essa moral rígida do Espiritismo brasileiro indica que, na sua visão, Jair Bolsonaro pode ser, sim, o "cavaleiro da esperança" sonhado, se não por Chico Xavier (que talvez preferisse Aécio Neves ou Geraldo Alckmin), pelo menos pelo espírito Emmanuel.

Será que temos que seguir tais desígnios, acreditando na suposta reputação do movimento espírita na sociedade brasileira? Espera-se que não.

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