Aos apoiadores, tudo, aos contestadores, o "rigor da lei e da ciência"?


O MOVIMENTO ESPÍRITA ENDEUSA SÉRGIO MORO, VISTO COMO "INTUÍDO PELO PLANO SUPERIOR DIVINO".

O Espiritismo brasileiro, ou seja, aquele que tem em Chico Xavier seu maior ícone, faz o que quer com suas posturas e ideias.

É capaz de pregar ideias extremamente conservadoras, mas exigir que as esquerdas progressistas o tenha em boa conta.

Produz obras "mediúnicas" de valor duvidoso mas que só são "autênticas" porque apresentam mensagens agradáveis como "sejamos todos irmãos em Cristo".

Se acha no direito de pregar uma ideia de maneira taxativa, e depois dizerem que erraram.

Ou de praticar uma aparente caridade, acreditando que os progressos serão amplos e certos, e depois dizer que "não foi possível, porque os 'amiguinhos pouco esclarecidos' não deixaram".

Ou de afirmar que a regeneração da humanidade está se aproximando, com certeza, mas na Hora H também dizem que "não foi possível".

Quando se falou que o Espiritismo brasileiro apoiou o golpe militar de 1964 e o golpe político de 2016, nos baseamos das seguintes fontes:

O livro 1964 - O golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil, dos historiadores Jorge Ferreira e Ângela Maria de Castro Gomes, descreveu a participação de "kardecistas" na defesa do golpe militar.

Foi na Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, no Vale do Anhangabaú, São Paulo, em 18 de março de 1964.

No programa Pinga Fogo, da TV Tupi, transmitido no final de julho de 1971 e com grande audiência, ninguém menos que Chico Xavier pediu para que orássemos em favor dos militares. Isso em plena fase cruel da ditadura militar, com mais torturas, repressões, censura e mortes.

Chico Xavier alegava que o golpe militar foi "necessário" para afastar a "ameaça comunista" supostamente representada pelo governo popular de João Goulart, que o "médium" definiu como "tendência francamente esquerdista".

O "médium" fazia críticas duras aos movimentos operário, camponês e sem-teto e, no entanto, dizia que os militares estavam "trabalhando" pelo "reino de amor" que seria o Brasil no futuro, segundo seu ponto de vista.

Lembremos que Chico Xavier estava sendo entrevistado em um programa de grande audiência, o que derruba qualquer tese de que ele havia sido "orientado" para dizer tais pontos de vista.

Xavier nunca foi progressista e sempre foi, até o fim da vida, uma das personalidades mais conservadoras de todo o país.

A tese de que Xavier foi "manipulado" ou "orientado" a dizer aquilo entraria em contradição com sua reputação religiosa entre seus seguidores, para o bem e para o mal, causando problemas dos mais diversos em relação à sua suposta imagem de liderança e visão futura.

Devemos nos alertar que um "médium" não é um boneco de massa de modelar que se possa moldar ao sabor de seus adeptos.

Os ditos "médiuns" brasileiros sempre foram figuras abertamente conservadoras, identificadas com a herança do Catolicismo medieval trazida pelo Espiritismo igrejista brasileiro.

Quanto ao golpe político de 2016, o movimento espírita, em várias de suas fontes, até mesmo através de declarações de Divaldo Franco - e que seriam corroboradas por Xavier, se estivesse vivo - estabeleceu, explicitamente, as seguintes abordagens:

1) Defendeu as passeatas de 2015-2016 "contra a corrupção" (e que pediam a saída da presidenta Dilma Rousseff) como "despertar da humanidade" e "começo de um período de renegeração".

2) Falou-se em "despertar político da juventude". Mesmo de forma implícita, o movimento espírita se referia a grupos como Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua e Revoltados On Line (!).

3) Defendeu o juiz Sérgio Moro como se fosse um missionário moderno, um "homem simples" e "dotado de sentimentos patrióticos genuínos" que "estava preocupado" com a "impunidade que ocorria no nosso país".

4) Pediu para se orar a favor do presidente Michel Temer, "comprometido com a pacificação do país".

5) Pediu para "aceitarmos sacrifícios", apoiando os retrocessos político-econômicos do governo Temer, como as reformas trabalhista e previdenciária, a terceirização e a perda das riquezas nacionais com as privatizações para empresas estrangeiras.

De Robson Pinheiro a Divaldo Franco, passando por publicações como Correio Espírita e uma série de palestras em várias "casas espíritas" em todo o país, observa-se que o movimento espírita apoiou, sim, o golpe político de 2016.

É estranho que alguns partidários do Espiritismo de Chico Xavier exijam que "se ouça" o outro lado, tentando desmentir o que era explícito e assumido na véspera.

É o papo de adeptos dessa corrente que sempre exigiam "rigor científico" nos questionamentos da deturpação.

Entenda-se como "rigor da lei e da ciência" o uso de métodos dos mais complicados e uma verborragia a mais complicada possível (tecniquês, juridiquês) e uma série de formalidades acadêmicas das mais austeras.

Isso vai contra a natureza lógica, porém simples e clara de Allan Kardec, que não aprovaria esses critérios que mais parecem obscurecer o saber.

Além do mais, expõe o desespero que o movimento espírita e seus seguidores têm em ter sempre a verdade em suas mãos.

Essa preocupação paranoica com a posse da verdade os coloca sempre em situações contraditórias, mas desde que lhes garanta alguma vantagem sobre as conveniências do momento.

Num dia defendem as passeatas do "Fora, Dilma". Noutro desmentem que estão apoiando o atual cenário político.

Num dia são taxativos no seu conservadorismo. No outro, querem ser reconhecidos como "progressistas".

Seguem valores herdados do Catolicismo jesuíta, mas se dizem contra a herança medieval que isso representa.

Além disso, os espíritas igrejeiros só pedem rigor quando é para questioná-los ou quando algo vai contra eles.

É até engraçado que, com base em mensagem nas redes sociais, eles agora questionem Sérgio Moro, depois de considerá-lo como um "representante dos espíritos de luz".

Quando, no entanto, o assunto é legitimar práticas e obras de cunho duvidoso, feitas pelo movimento espírita, não é necessário rigor algum.

Até uma visão especulativa de que, por exemplo, uma obra "mediúnica" lembra vagamente algum dado pessoal do morto, é aceita como se fosse uma "confirmação".

Só que se esquece que não são as semelhanças que garantem a veracidade, mas a ausência de uma única diferença comprometedora.

O movimento espírita só pede "mais análise" e "respostas" quando é para proteger ou conquistar a "sua verdade".

Parece a plutocracia, seja o Judiciário, o PSDB etc. Para os apoiadores, se permite tudo. Para os contestadores, cobra-se o rigor mais extremo.

Pior é que, quando se cumpre o rigor científico, nem isso anima o movimento espírita, que prefere, no caso, a prevalência das suas "lindas verdades", acusando a Ciência de exercer o que chamam, de maneira pejorativa, de "tóxico do intelectualismo".

O Brasil é refém do misticismo viciado do movimento espírita.

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